sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

The Cake (parte 3-final)

O que eu havia feito?

Memórias começaram a me assaltar de uma só vez. Imagens de todas as ofensas que Joe já me fizera, de todas as provocações... Lembranças de momentos “familiares”, fotos que tiramos juntos, jantares dos quais participamos com nossos pais... As memórias se encaixavam como uma grande montagem de todos os motivos pelos quais eu não devia ter deixado isso acontecer. Eu havia passado um ano tendo certeza absoluta de que aquele garoto me odiava... Agora eu sabia que ele me desejava, mas era verdade que o que sentia por mim não era também ódio? Algumas das palavras grossas, extremamente gráficas de Joe voltaram à minha mente, e eu senti vergonha. Agora que o desejo não dominava mais minha mente, podia lembrar de todas as sacanagens que Joe havia me dito, e me senti suja. Se ele me odiava, havia apenas me usado... Será que agora ele pensava que eu era uma puta? Eu havia deixado ele falar aquelas coisas pra mim, fazer aquelas coisas comigo... Mas eu o queria, o desejava e gostava de verdade dele, de forma que pra mim não pareceu errado. Mas e se pra ele fosse diferente? E se o que aconteceu significasse para ele só o prazer de ter a única garota no mundo que não podia ter?
Eu puxei minha mão, a tirando do contato com a dele, e abracei meu próprio corpo, ficando extremamente ciente do quão nua eu estava – física e emocionalmente. Eu queria sair correndo dali, mas meu corpo não me obedecia. Doía ficar ali, mas doeria também ir embora.
Para meu horror, eu senti lágrimas começarem a se formar. Se aquilo era só sexo para Joe, o pior não era ter dado a ele meu corpo.

Não, o que doía é que, de alguma forma, eu havia começado a entregar meu coração.

Senti ele se mover ao meu lado, as mãos tocando meu rosto e limpando as lágrimas. O toque de Joe acabou com a minha imobilidade, e eu me levantei, começando a catar minhas roupas.
Demi. 
Meu apelido. Dito de forma simples, sem nenhuma indagação, sem se gabar... Apenas meu apelido. Eu parei, me virando em direção a ele e me surpreendendo. Joe não parecia preocupado. Ele parecia apavorado.
- O que... – ele disse, ainda aparentando medo e me confundindo – O que há de errado, pequena?
- Não me chama assim! – eu exclamei, o medo de ter sido usada me dominando totalmente – Não finja que se importa! Só comece a se gabar de uma vez!
Por um momento ele não disse nada, a confusão estampada em seu rosto.
- Ajudaria se você me explicasse o porquê exatamente eu devia estar me gabando. – ele disse, em tom calmo.
- Não brinca comigo, por favor. – eu pedi, minha voz fraca, e Joe me encarou, agora sim preocupado – Você teve o que quis, não teve? Pode parar de obcecar agora. Demetria Lovato se rendeu a você. Pode ir se gabar pros amigos! – eu concluí, seguindo para a porta.
Demi, não! – ele disse, e eu parei, me voltando novamente para ele. O que eu vi em seus olhos me fez congelar ao entender o que o “não” dele significava.

Não me deixe.

- Por que? – eu perguntei, simplesmente.
- “Por que” o quê? – Joe perguntou, vindo até mim – Por que isso aconteceu? – ele apontou para o lixo no qual nós havíamos transformado a cozinha – Você sabe porquê. E não, num foi só por uma droga de obsessão, ou pra me gabar para alguém... Céus, eu realmente te fiz acreditar que te odiava nesse último ano, não é? – a pergunta foi feita com arrependimento claro em seus olhos. Eu apenas permaneci calada, esperando ele continuar – Eu não te culpo por achar que eu sou um cafajeste. Fui eu quem te ensinou a pensar assim. Mas se eu puder te pedir que me ouça, você fará isso? Eu só quero cinco minutos. Só cinco minutos antes de você sair dessa cozinha. Se você não aceitar o que eu vou te dizer, eu te deixo ir embora e nunca mais te perturbo.
Eu assenti, um pouco curiosa, e ele estendeu a mão para mim. Eu a peguei, desconfiada, e deixei que ele me guiasse de volta para mesa, em seguida me sentando novamente ao lado dele.
- Tudo que eu te disse hoje é verdade. – ele começou, cauteloso – Mas não é tudo. O que aconteceu nessa cozinha não foi tesão acumulado. – minha sobrancelha se ergueu em descrença, e ele suspirou – Ok, não foi  tesão acumulado. Tudo o que eu te disse é verdade, eu quero você desde que te conheço. E no começo era sim só isso. No começo eu realmente só queria te pegar. – ele admitiu, sem me encarar – Mas quando eu voltei da Inglaterra e me mudei pra cá... Além de ter que conviver com a tentação que é você vinte e quatro horas por dia, além de ficar pelos cantos querendo te tocar... Além disso, eu passei a enxergar você. Não só seu corpo, mas você. Eu passei a maior parte desse ano te observando quando você estava distraída, Lovato, e dessa forma comecei a aprender algumas coisas... – ele fez uma breve pausa, respirando fundo – Como o fato de que você é uma das únicas adolescentes do planeta que passa mais tempo lendo do que vendo TV. Não só revistas, mas livros... Livros sérios, livros que às vezes eu não entendo nem mesmo o título. – ele disse, e eu ri – Mas ao mesmo tempo, quando você realmente pára pra ver TV, coloca em desenhos quando acha que ninguém está reparando, o que é totalmente contraditório, mas é tão você que nem chega a ser estranho... Eu aprendi que algumas músicas tristes te fazem sorrir enquanto muitas alegrinhas demais acabam com seu humor. Não porque você não gosta de músicas felizes, mas a letra de algumas te faz fazer uma comparação com a sua própria vida e você se sente mal... Porque eu sei que tem algo que você esconde e que anda te fazendo sofrer... E eu desconfio que tenha haver com o seu pai, mas você não precisa me dizer se não quiser. Mas ao mesmo tempo em que você parece ter problemas com ele, você sempre se esforça pra cuidar do seu pai, e isso é demais, porque mostra o quanto você se preocupa com quem você gosta, não importando o que aconteça... – ele sorriu pra mim, afastando uma mexa de cabelo do meu rosto, olhando para o próprio colo em seguida – E quando você lê ou vê alguma notícia ruim, sobre fome, desastres ou destruição da natureza, você estende essa preocupação pro resto do mundo e fica com um olhar distante, como se pensando no que você poderia fazer para mudar isso... E se sentindo culpada por não poder fazer nada, como se todos os problemas do mundo fossem culpa sua. – ele ergueu o olhar até o meu novamente, e eu me forcei a olhar de volta, sentindo meus olhos nublando com mais lágrimas. Nunca pensei que Joe prestasse tanta atenção – Como eu disse, eu comecei a ver você, Demetria. E aos poucos foi deixando de ser só desejo. Eu comecei a... Gostar... De você. E eu tenho a sensação que você gosta de mim também. Mas quando você começou a chorar agora a pouco, eu achei que...
- Que era o fim? – eu perguntei, com a voz fraca, entendendo finalmente o medo dele de antes. Era o mesmo que o meu, afinal. Medo de o que aconteceu não ter significado nada.
- É. – ele disse, simplesmente.
Eu não sabia o que mais dizer. Aquele era o tipo de coisa que eu nunca esperava ouvir de Joe, de forma que de início, fiquei sem palavras.
- Por que você me disse tudo isso? – eu precisei perguntar, depois de um tempo.
- Porque eu quero que você entenda que tudo depende de você agora. – ele disse, me olhando sério – Você pode sair daqui e fingir que isso nunca aconteceu. Ou... – ele pegou minha mão novamente – A gente pode... Sei lá... Tentar fazer isso funcionar.
- Você quer dizer... Ficarmos juntos? – eu perguntei, sem saber se me apavorava ou começava a fazer uma dancinha feliz.
- Isso. – ele respondeu, me olhando com expectativa. 
Eu respirei fundo antes de continuar.
- Você ao menos sabe fazer isso? – eu perguntei. Eu me sentia mal por ter que perguntar, mas precisava da resposta.
Joe não pareceu ofendido com a minha pergunta, mas também não parecia ter gostado dela.
- Como assim? – ele perguntou.
- Bom... Você sempre me pareceu meio...
- Galinha? – ele perguntou, levantando uma sobrancelha. Eu assenti, sorrindo como quem pede desculpas, e ele revirou os olhos – E você chegou a essa conclusão depois de nossa longa convivência de um ano? – o tom dele pingava sarcasmo.
- Você me conhece há um ano e tem várias conclusões sobre mim. – eu disse, em tom defensivo.
- É diferente, eu presto atenção. E não te julgo só pelo que aparenta ser verdade. – ele argumentou – Eu confesso que andei saindo com muitas garotas, sim. Mas não porque eu tenho alergia a compromisso ou algo assim. É só que... Bom, eu sou um cara. Todo homem quando tá solteiro e não é totalmente deformado acaba pegando um monte de mulher por aí, é meio inevitável. Se põe no meu lugar. Você é um cara solteiro, não pode ficar com a garota que você quer e tem um bando de mulher atrás de você. O que você faria?
Eu tentei engolir a onda de ciúme doentio que se apossou de mim ao imaginar Joe solto por aí e à mercê das devoradoras de homens dessa cidade, e precisei admitir que não podia culpá-lo.
- Eu precisava me distrair de alguma forma. – ele continuou – Ficar sozinho e tendo que te ver todos os dias me deixaria maluco. E, sério, nem foram tantas garotas assim. Eu não tenho nenhum problema com monogamia. Pra sua informação, já tive uma namorada e só terminou porque ela me largou. Pra ficar com outro cara, e não por algo que eu tenha feito.
- E você ainda pensa nela? – eu perguntei, antes que pudesse me controlar. Joe riu.
- Ciúmes? – ele perguntou, me lançando aquele sorrisinho insuportável. Eu só revirei os olhos – Relaxa, já faz um tempo, eu superei. Foi bem antes de te conhecer.
- Mas e se a gente ficar junto e você resolver que era mais feliz galinhando? – eu perguntei, um pouco emburrada.
- Ô criatura difícil, meu Deus. – disse Joe, olhando pro teto antes de voltar o olhar novamente pra mim – Demi, eu já supri minha cota de poligamia. Sério. Se você quiser ficar comigo, eu não vou querer mais ninguém. Achei que já tinha deixado claro que é de você que eu gosto. Eu quero você comigo, e não só por uma tarde. Isso é claro o suficiente pra você? – ele perguntou, parecendo exasperado.
- É. – eu disse, sorrindo. Porém meu sorriso murchou no momento seguinte – Mas eu ainda vou ter ir pra Yale em breve.
- Você já reparou que você só fala “preciso ir pra Yale”, “tenho que ir pra Yale”... Você nunca disse “eu QUERO ir pra Yale”. 
- Isso é porque eu não tenho certeza. – eu admiti, sentindo as palavras que eu andava sufocando há dias finalmente se libertarem. Joe não disse nada, apenas me olhou como se aguardando que eu dissesse mais. Suspirando, eu continuei – Você estava certo, sabe? Quando disse que eu nunca me divirto... Quando disse que eu tenho algum problema com o meu pai... Na verdade você estava certo sobre muitas coisas.
- Você logo vai descobrir que eu sempre estou certo. – ele me interrompeu, sorrindo. Diante do meu olhar feio, ele abaixou a cabeça e deixou o lábio inferior formar um meio biquinho, enquanto tentava conter um sorriso – Ok, desculpa, pode continuar.
Eu ri, e não pude resistir a inclinar o rosto e beijá-lo. Ele sorriu e me abraçou, me fazendo encostar a cabeça em seu ombro enquanto eu terminava minha história.
- Meus avós paternos se conheceram em Yale. Eles sempre quiseram que meu pai fosse pra lá, mas ele não conseguiu entrar. Ele se contentou com a Universidade de Seattle, mas no fundo nunca se perdoou por não ter conseguido. Tinha se tornado o sonho dele também, sabe? – eu disse, começando a brincar com meus dedos no peitoral de Joe. Parte de mim estava ciente de que ambos continuávamos sem roupa, mas a maior parte não se importava – A frustração só piorou depois que os pais dele morreram em um acidente dois anos depois de o meu pai começar a faculdade. É por isso que desde que eu me entendo por gente ele fala de Yale, me incentiva a ir pra lá... Sabe, eu mal conheci minha mãe, e meu pai sofreu muito pra me criar. Por isso eu sou tão ligada a ele, e saber que ele queria tanto algo assim colocou a idéia na minha cabeça. A gente faz planos sobre isso desde que eu era criança... E assim passar pra Yale se tornou meio que o meu objetivo de vida. Eu tive crises de ansiedade esperando o resultado sair... Mas quando aquela carta chegou, e eu vi que estava aprovada, não me senti feliz. Nem triste. Eu não senti nada. – eu expliquei, me aconchegando mais contra o corpo de Joe – Foi como o fim de um filme, sabe? Durante minha vida toda eu tive um objetivo, e agora que o havia alcançado, parecia o fim. Não sabia o que fazer depois desse ponto. Nunca pensei direito no que eu faria depois de entrar pra Yale. Eu nem procurei conhecer outras faculdades, nem pensei no que queria fazer da vida... E aí eu comecei a perceber quanta coisa eu tinha perdido. Eu estive tão obcecada com estudar, tão dedicada às minhas mil atividades extracurriculares que não saí com meus amigos tanto quanto deveria ter saído... Não fiz tanta besteira quanto devia ter feito.
- Por isso você ficou tão descontrolada quando eu joguei isso na sua cara hoje mais cedo? – ele perguntou parecendo culpado, e eu assenti – Eu sou uma mula mesmo. Desculpa.
- Você já pediu, do seu jeito estranho. – eu disse, rindo – Tá tudo bem... É só que agora eu sou maior de idade, tô indo pra uma faculdade que eu nem sei se quero de verdade e sinto como se tivesse perdido a chance de ser adolescente, entende? De cometer erros e aprender com eles. Meus namoros nunca duravam porque eu não me deixava envolver, não arriscava... E agora eu tô assustada. Eu não sei o que quero fazer, e tenho medo de me arrepender se deixar as coisas continuarem acontecendo desse jeito... 
- Que jeito? – Joe perguntou, acariciando meu cabelo.
- Desse jeito... Primeiro a escola, depois ir direto pra faculdade, e então começar a carreira... Não tem pausa. Não tem nenhum período na nossa vida entre as responsabilidades. E eu tenho medo de acordar um dia com sessenta anos e descobrir que eu nunca vivi minha vida. Nunca tive um tempo só pra viver, sem preocupações. Entende o que eu quero dizer?
- Entendo. Por isso eu e os caras vamos viajar no fim do ano... – Joe respondeu, fazendo uma pausa como se escolhesse as palavras – E você... Se quiser, claro... Podia vir com a gente.
De início eu achei que ele não falava sério. Mas ao levantar um pouco a cabeça e vislumbrar sua expressão nervosa, eu entendi que ele não estava brincando.
- Ir com vocês? – eu perguntei, chocada.
- É. – ele respondeu – Com um currículo como o seu, não vai ser um problema trancar sua vaga em Yale por um ano. Você podia gastar esse tempo acompanhando a banda... Pensando no que você quer fazer mesmo da vida... E passando mais tempo comigo. – Joe disse a última parte sorrindo, me fazendo sorrir junto.
- E os caras da banda não se importariam de me ter por perto? – eu perguntei, em tom de brincadeira, mas começando a realmente considerar a idéia. Era algo irresponsável, impulsivo... Exatamente tudo que eu sempre quis fazer.
- Bom, em primeiro lugar acho que eles ficariam aliviados de não precisarem mais ter que lidar com minhas lamentações sobre você toda vez que eu bebo demais. – ele disse, e eu ri, imaginando a cena – Em segundo... A gente tem espaço. O Chace arrumou um trailer grande pra gente. Não é nenhum palácio, está longe de ser totalmente confortável, mas nós pretendemos dormir em hotéis sempre que der. E quando não der, é só você dividir uma cama de solteiro apertada comigo que a gente economiza espaço... – disse ele, com o meio bico de novo. Depois de ver que tinha funcionado da primeira vez, eu tinha certeza de que ele passaria a usá-lo como arma constantemente.
- Não é disso que eu tô falando. – eu disse, depois de largar o lábio inferior que eu não resisti em mordiscar – Ter uma garota por perto pode acabar afastando as groupies... E estragando os momentos de diversão entre amigos. Achei que parte do motivo de vocês viajarem fosse curtir a amizade de vocês.
- Nós podemos fazer isso com garotas por perto. Sexo, drogas e Rock ‘n Roll não é o grande objetivo dessa viagem. Bom, o rock é, claro, e o sexo é sempre bem vindo, mas sair por aí pegando groupies não é nosso objetivo. Ou pelo menos não o único objetivo e não o meu objetivo. E fique tranqüila, você não vai espantar as garotas. Eu já vi o Chace com uma menina em cada braço e ele ainda assim atraía mais, então acredite, você não vai estragar a viagem de ninguém.
- Nem a sua? – eu perguntei, a droga da insegurança voltando com tudo.
- Eu já disse que quero você. – ele disse, e eu admirei a paciência que ele estava tendo comigo – Eu te adoro, você é linda, e a química entre a gente é algo que eu nunca senti com mulher nenhuma. Eu quero ter mais tempo com você, quero te conhecer ainda mais... E, além disso, só de pensar em te deixar pra trás está me dando essa sensação ruim por dentro.
- Tem certeza que os caras não vão se incomodar de me ter por perto? – eu perguntei, já quase convencida.
- Tenho. Acho que você nem vai ser a única garota, já que o Jake está querendo levar a Claire... A gente até gostou da idéia, porque um ano só com testosterona naquele trailer pode acabar deixando as coisas meio gays... Vocês seriam uma boa dose de estrogênio pra equilibrar as coisas.
- E o meu pai? – eu perguntei, jogando meu último argumento sólido.
- Seu pai vai entender. Ele pode querer que você vá pra Yale, mas também quer que você seja feliz. Ele vai entender se você precisar de um tempo pra pensar, e vai entender se você mudar de idéia quanto a faculdade. Ele me deu apoio quando eu expliquei meus motivos, foi a minha mãe que implicou com a idéia. Seu pai vai aceitar, e se não aceitar, você já tem idade o suficiente para tomar suas próprias decisões. – ele disse, beijando o topo da minha cabeça – Mais algum impedimento? – ele perguntou, rindo.
- Vários. E se depois desse ano eu decidir que quero mesmo ir pra Yale? O que acontece com a gente?
- Não sei, minha linda. Mas se nada melhor aparecer, eu pretendo ir pra faculdade... Eu fui bem nos SAT2, e se eu pedir tenho certeza que alguns dos meus professores podem mandar cartas de recomendação por mim ano que vem... Eu podia tentar uma vaga em Yale.
- Você sabe que não é tão fácil. E se você tentar e não passar? E se vocês receberem uma proposta de contrato irrecusável com alguma gravadora e eu mesmo assim decidir que quero ir pra Yale? E se...
Demi! – ele me interrompeu, rindo – Você já percebeu quantos “e se” você disse? Esquece isso. Não vale a pena deixar de viver o presente pra ficar pensando só no futuro. Foi o que você fez a vida inteira, não foi? Então. Por tudo que eu sei, amanhã um meteoro pode se chocar contra a terra e acabar com a humanidade. Pela primeira vez na sua vida, tenta viver o agora. Eu não sei o que vai acontecer no final do ano que vem. Mas a gente atravessa essa ponte quando chegar nela, ok? Nós vamos dar um jeito, confia em mim.
- Eu confio. – eu disse, relaxando. Já havia me preocupado demais durante esses anos todos. Estava na hora de deixar a vida me surpreender.
- Então... Já esclareci todas as dúvidas? Você vai com a gente? – ele perguntou, sorrindo esperançoso. Eu assenti – E posso te considerar minha namorada?
- Oh, isso não. – eu disse, me controlando para não rir da cara de choque dele – Não vai acontecer. Eu já te tirei do meu sistema, sabe? – eu disse, sorrindo sacana – Nada mais de querer Joe Jonas. Não, agora eu tô curada... Agora só quero caras chatos e não tão sexys. Não você. Não mesmo...
Ele levantou uma sobrancelha, deixando claro que sabia que eu estava brincando. Se inclinando na minha direção, ele me beijou, longa e sensualmente, me deixando um pouco tonta.
- Terminou? – ele perguntou ao me largar, sorrindo.
- Aham. – eu disse, retribuindo o sorriso e levantando da minha cadeira de forma a sentar de lado no colo dele. Fazendo isso, eu pude reparar na confusão que nós havíamos feito na cozinha.
- Sua mãe e meu pai teriam um ataque se vissem o que a gente fez com esse lugar. – eu disse, rindo.
- Falta tempo até eles chegarem, a gente arruma. Se eles soubessem o que aconteceu aqui, a bagunça seria a última das preocupações. – respondeu Joe.
- Eles vão enlouquecer quando descobrirem sobre nós dois, não vão? – eu perguntei, suspirando. 
- Vão. Por isso eu acho melhor a gente só contar quando estivermos bem longe. Já vai ter atrito o suficiente nessa casa por causa da viagem. – disse Joe, franzindo as sobrancelhas – Mas não se preocupe. Eles não vão gostar, mas vão ter que entender. Nós não somos irmãos, e em pouco tempo nem vamos mais morar nessa casa. É só a gente esperar um pouco pra evitar drama desnecessário. – disse Joe, em seguida sorrindo – O pior é que além de tudo a gente roubou o aniversário deles. 
Nós dois rimos, e o assunto tenso estava oficialmente superado.
- Bom, se você tentar não ser tão sexy, eu posso conseguir fingir que não há nada entre nós por um tempo. – eu disse, me inclinando para beijá-lo. Eu não conseguia mais parar. Estava definitivamente viciada.
- O que você quer que eu faça se eu não posso parecer sexy? Ande com um saco de papel no rosto? – ele perguntou, e eu revirei os olhos.
- Me explica como exatamente seu ego cabe nessa casa? – eu perguntei, rindo.
- Ele escapa um pouco pelas frestas debaixo das portas... AI! – ele exclamou, depois que eu dei um tapinha em seu peito.
- Você é tão convencido que chega a dar nojo, sabia? – eu disse, o beijando novamente e começando a me levantar do colo dele.
- Você gosta de mim assim mesmo. – disse ele, dando de ombros – E onde a senhorita pensa que vai?
- Meu pai e sua mãe chegam em duas horas, é melhor a gente começar a trabalhar. Eu ainda preciso recomeçar a cobertura do bolo. – eu expliquei, pegando a camisa de Joe no chão e a vestindo antes de pegar a cobertura de caramelo e outra lata de leite condensado. 
- A cobertura? E quem vai limpar a cozinha? – ele perguntou, desconfiado.

Eu lancei a ele meu melhor olhar de gatinho do Shrek.

- Oh, não. – ele disse, balançando a cabeça.
- Por favor... – eu pedi, piscando os olhos inocentemente.
- Não, Demi. – ele insistiu, cruzando os braços.
- Por mim... Eu ia ficar tão feliz... – eu continuei.
- Não... – ele repetiu, porém com muito menos firmeza.
- Eu ia ficar tão... Grata... – eu disse, abaixando a cabeça me fingindo de triste, enquanto dobrava um joelho um pouco, encostando a ponta do pé no chão e mexendo o corpo devagar de um lado para o outro com as mãos para trás.
- Grata... Quanto? – ele perguntou, olhando minhas pernas.
- Você não vai saber se não arrumar a bagunça pra mim... – eu respondi, sorrindo.
- Argh, tá bom! – ele disse, revirando os olhos e pegando sua calça no chão, a vestindo – Mas só porque você fica sexy com a minha camisa.
Eu sorri e me voltei para os ingredientes na bancada à minha frente, porém me virei de novo ao perceber algo com minha visão periférica. Joe discretamente havia recolhido minha calcinha, largada no chão, e a colocara no bolso.
Eu clareei a garganta, chamando a atenção dele.
- Com licença, acho que você tem algo que me pertence nas suas calças. – eu disse, cruzando os braços.
- Já tá possessiva assim? – ele perguntou, sorrindo safado – Daqui a pouco vai querer tatuar seu nome no meu...
- Eu quis dizer no seu bolso. – eu interrompi, antes que ele continuasse a falar merda.
- Oh, isso... – ele disse, fazendo o meio bico de novo enquanto eu me aproximava – Eu preciso de algo para me consolar durante as noites que nossos pais estiverem em casa...
- Bem... – eu comecei a dizer, parando na frente dele e tirando a minha calcinha de seu bolso – Se você me prometer que fica bem quietinho... E se for bonzinho o suficiente para ir até o meu quarto buscar isso – eu balancei de leve a calcinha – de noite sem ninguém perceber... Eu posso pensar em outras maneiras de te... Consolar.
Eu nem acreditava que havia dito aquilo. Céus, desde quando eu sou pervertida desse jeito? Nossos pais estariam em casa! 

Definitivamente, Joe estava me corrompendo.

Depois da surpresa inicial, os lábios dele se curvaram em um sorriso sedutor e ele fez menção de abraçar minha cintura. Eu dei um tapinha em uma de suas mãos antes que ele conseguisse me tocar.
- Depois. Agora limpeza. – eu disse, apontando para bagunça com pose autoritária. Ele me olhou feio mais fez o que eu mandei, resmungando o tempo inteiro enquanto eu voltava para minha cobertura de leite condensado e caramelo, totalmente feliz.

Eu disse que ia fazer ele engolir aquele riso...

~*~*~*~*~*~*~*~*~*~



Cerca de duas horas depois, eu estava na sala, sentada em frente ao bolo de chocolate do qual eu não havia resistido a tirar um pedaço. Era ótimo, mas estava longe de ser melhor que sexo.
Demi! – a voz de Joe me chamou, e em seguida eu o ouvi descendo as escadas – Me ajuda a dar um nó nessa gravata?
Ele estava uma verdadeira visão, assim como da primeira vez que eu o havia visto. Como íamos há um restaurante mais refinado, a mãe de Joe insistira que ele usasse o smoking. Eu senti uma onda gigante de gratidão por Margaret. Joe usando black tie era de tirar o fôlego. 
- Você tá linda. – ele disse, me olhando com admiração antes de me beijar. Eu corei, me parabenizando internamente pela escolha da roupa. Era meu melhor vestido, cor de vinho em formato tubinho, nem muito longo e nem muito curto. 
- Você também, mas provavelmente você já sabe disso. – eu respondi, fazendo Joe rir.
Eu pedi que ele segurasse meu pedaço de bolo enquanto dava o nó da gravata borboleta. Anos morando sozinha com o meu pai haviam me ensinado a fazer todo tipo de nó de gravata.
- Obrigado. – ele disse, com a voz abafada por estar com a boca cheia do meu bolo. Já quase não restava nada do pedaço que eu o entregara para segurar.

Eu já devia saber que entregar minha comida para o Jonas e esperar tê-la de volta era inocência demais.

- Se veste como um gentleman, se comporta como um porquinho. – eu disse, rindo, e ele olhou feio para mim – O quê? É verdade. – eu dei de ombros, pegando um guardanapo ao lado do bolo que eu colocara sobre a mesa na parte da sala que constituía a sala de jantar e limpando o chocolate que se espalhara pelos cantos da boca dele. Como eu disse, um porco.
- Desde quando você é minha mãe? – ele perguntou, protestando contra minhas tentativas de limpá-lo.
- Desde que você voltou a comer como um recém-nascido. – eu respondi, parando de esfregar o guardanapo quando fiquei satisfeita com o resultado.
Observando Joe enfiar o resto do meu pedaço de bolo na boca, eu peguei minha bolsa, também em cima da mesa, e a revirei até achar o colar que eu enfiara ali quando desci de meu quarto minutos antes, já que como o fecho era complicado, eu ia precisar de Joe para colocá-lo.
- Fecha pra mim? – eu pedi, colocando o colar em volta do meu pescoço e me virando de costas para Joe. Ele assentiu com a cabeça, ainda de boca cheia, e fechou o colar.
- Como estou? – eu perguntei, virando pra ele novamente.
- Linda. – ele me respondeu, sorrindo sincero e em seguida se voltando para o bolo – Posso pegar outro pedaço?
- Gostou, é? – eu perguntei, rindo enquanto me voltava para o espelho de parede, querendo conferir o efeito do colar combinado ao vestido.
- Aham. – Joe respondeu – Mas acho que mesmo assim a gente respondeu a questão. Definitivamente não é melhor que...
- PAI! MARGARET! – eu exclamei, de forma a impedir que Joe concluísse aquela frase. Havia acabado de me voltar para o espelho e visto o reflexo dos dois nos olhando boquiabertos.
A porta da rua ficava bem longe da área de jantar, de forma que não havíamos ouvido os dois entrando. Meu pai e Margaret nos encaravam como se houvéssemos saído de outro planeta, e era fácil entender o porquê. Quando eles saíram de casa, nós estávamos há um passo de arrancar a cabeça um do outro. Os dois provavelmente esperavam encontrar o lugar totalmente destruído, e um de nós inconsciente com um galo gigante na testa, no mínimo. Talvez já estivessem se preparando para ligar para o hospital quando atravessaram a porta para entrar em casa. Mas, ao invés de terror e destruição, se deparar com o clima totalmente doméstico entre eu e Jonas, a tensão que normalmente nos envolvia totalmente superada, devia ser bem assustador.
Eu e Joe trocamos um olhar, ambos sorrindo nervosos. Será que eles estavam ali desde o beijo? Não, improvável. Não teríamos passado tanto tempo sem perceber a presença deles, e os berros ultrajados dos dois teriam sido inevitáveis. Mas mesmo assim, será que eles haviam percebido algum clima? 
Eles continuavam nos olhando abismados. Margaret parecia não nos reconhecer e meu pai parecia estar esperando que o Ashton Kutcher aparecesse e anunciasse que ele estava no Punked. Eu não os culpava. Mesmo se eles realmente não tivessem percebido nada demais, acreditar que eu e Joe estávamos sendo amigáveis um com o outro era como acreditar que uma víbora venenosa podia ser amiga de um ratinho suculento.
- Eles não estão gritando. – disse Margaret para meu pai, em tom incrédulo. Senti uma onda de culpa me dominar. O meu péssimo relacionamento com Joe devia ser algo que realmente preocupava os dois, se ambos pareciam tão chocados com o simples fato de estarmos há mais de trinta segundos no mesmo aposento sem berrar um com o outro.
- Nem se ofendendo. – acrescentou meu pai, como se em um transe – É... Um milagre.
Nenhum dos dois se referiu a nós, de forma que eu e Joe apenas continuamos com os sorrisos falsos, na tentativa idiota de fingir que não havia nada de errado. Porém quando nem meu pai nem Margaret disseram mais nada, o silêncio começou a ficar estranho. Se deixássemos aquilo continuar, em breve provavelmente começariam as perguntas. Quando o choque passasse, nossos pais iriam querer saber que espécie de milagre havia acontecido naquela casa, e como exatamente nós fizemos as pazes. Se isso acontecesse, provavelmente acabaríamos deixando escapar alguma coisa. Joe era um péssimo mentiroso e eu sempre gaguejava quando precisava inventar uma mentira de súbito. Não, eu precisava de um pouco mais de tempo para pensar numa história convincente. 

Foi por isso que, alargando meu sorriso nervoso e pegando a bandeja sobre a mesa, eu disse a única coisa que parecia segura no momento.

- Oi, gente. Alguém quer bolo?

Fim.

Bom gente espero que tenham gostado da mini fic :] e ahh pra quem quiser saber essa receita desse "tal bolo" existe mesmo.

5 comentários:

  1. Socorro! que perfeito jbvobfdvrsp cara, essa mini-fic foi a minha favorita, de todas as que você já postou *-* Onde você acha elas, hein? Não é você que escreve, né?! São maravilhosas! \O enfim, tem planos para postar mais alguma, um dia desses?!?!?!?! hahaha :D

    ResponderExcluir
  2. Hey! Tem selinho pra você no meu blog!
    wouldntchangeathingjemi.blogspot.com.br/2013/01/prologo.html

    ResponderExcluir
  3. Eu adoro seu blog tem selinho pra vc la no meu :D
    http://beautyqueenmandylovato.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  4. Selinho pra você > http://umalovaticparasempre.blogspot.com.br/2013/01/selinho.html

    ResponderExcluir