“Amanhã teremos tempo nublado na maior parte do dia, embora...”
Flip.
“... os menores preços que você já viu...”
Flip.
“...No he can't read my poker face...”
Flip.
“Vive num abacaxi e mora no mar? Bob Esponja Calça Quadrada!”
Flip.
- Será que dá pra parar de mudar de canal?! – eu exclamei finalmente, fechando a revista na qual eu tentava inutilmente me concentrar.
Ele voltou os olhos infinitamente verdes em minha direção, me lançando um sorrisinho sarcástico antes de lentamente erguer o controle remoto outra vez.
Flip. Flip. Flip. Flip. Flip. Flip.
Eu contei dez segundos de trás para frente, fechando os olhos e tentando conter meu surto de raiva. Era um truque que eu havia lido em um dos milhares de livros de auto-ajuda que eu comprei para me ajudar a sobreviver os meses de espera até a chegada da carta de Yale. Não conseguiram me fazer superar minha ansiedade, mas nos últimos tempos andavam se revelando bem úteis ao me ajudarem a controlar o impulso de assassinar JoeJonas com o facão da cozinha.
Ele ainda me encarava quando voltei a abrir os olhos, a provocação escrita em cada linha de sua expressão. Lancei a ele um olhar feio que o fez apenas alargar o sorriso antes de voltar a atenção para a TV a sua frente, se ajeitando no sofá e voltando a zapear os canais.
Eu apertei com força o braço da poltrona na qual eu estava, desejando que o inocente material estofado fosse o pescoço de Jonas. Lá estava ele, largado no meu sofá, um braço descuidadamente apoiado atrás de sua cabeça, as pernas abertas e os jeans caindo perigosamente baixos em seu quadril. Ele era tão cheio de si, tão irritante, tão idiota, tão... Gostoso, sexy, deliciosamente cafajeste...
Oh, sim. Eu tenho uma queda gigante pelo imbecil filho da mulher do meu pai.
“Filho da mulher do meu pai”. Estranho, eu sei. Mas eu prefiro isso à “filho da minha madrasta”. Ou pior, “meio-irmão”. Argh! Joe Jonas não é nem nunca vai ser nada sequer perto de um irmão pra mim. Ele é só o cara que eu quero ver morto cinqüenta por cento do tempo.
E na minha cama nos outros cinqüenta.
Não, esse não é um caso de simples atração pela pessoa que você detesta. Porque se eu for totalmente sincera, terei que admitir que não odeioJoe tanto assim. Na verdade, eu gosto dele. Mas odeio a necessidade que ele parece ter de tornar minha vida um inferno. Não só com as constantes implicâncias, armações e etc... Mesmo sem isso, ele complica minha vida simplesmente existindo. Existindo com seus olhos verdes, voz sexy, corpo perfeito... Me fazendo desejar o único cara no mundo que eu não devia querer de jeito nenhum. Porque além de aparentemente me detestar, a criatura mora comigo, é parte da minha família há um ano. Na verdade, exatamente um ano, já que hoje é o primeiro aniversário de casamento dos nossos pais.
É por isso que eu estou aqui agora, na verdade. Servindo de babá do Jonas enquanto meu pai e a mãe dele passam o dia velejando. Joe está proibido de sair de casa para qualquer lugar além da escola depois de ter sido flagrado pichando “DIRETORA REYNOLDS É SAPATÃO” no lado de fora do prédio da diretoria algumas noites atrás. Tudo porque a diretora se recusou a deixar a banda dele tocar no baile de formatura.
Como nem meu pai nem minha madrasta são inocentes o suficiente para acreditar que Joe simplesmente se comportaria, e como os dois só voltam mais tarde para sair e jantar conosco... Eu fiquei encarregada de ficar de olho na peste, já que meu pai simplesmente assumiu que eu não teria nada mais para fazer nesse final de semana. Bom, eu não tinha mesmo, mas isso não vinha ao caso. Ter um bom motivo para grudar meus olhos em Joe por horas não melhorava em nada minha situação, além de que ficar sozinha em casa com ele era algo que sempre me deixava... Nervosa. Não acontecia muito, principalmente com nós dois sendo forçados a ficarmos tão próximos, mas quando acontecia, era algo que me deixava inquieta. Eu tinha medo que meus hormônios vencessem por saberem que não havia ninguém na casa para me tirar de cima de Jonas caso eu o atacasse.
Eu suspirei, irritada, voltando a abrir minha revista. Se quando eu conheci Joe eu já soubesse quem ele era, talvez nada disso estivesse acontecendo. Talvez se eu soubesse que ele era o filho de Margaret e a criatura mais irritante do planeta antes de vê-lo pela primeira vez, talvez eu estivesse mais preparada. Mas com a sorte que eu tenho, eu não sabia de nada disso. Então quando o vi encostado àquela árvore, usando o smoking que o deixava ainda mais sexy, não o classifiquei imediatamente como “meio-irmão”. Foi algo mais como “coisa mais perfeita que eu já havia visto”.
Fazia exatamente um ano. Como Joe ainda morava na Inglaterra na época, eu só o conheci no dia do casamento. Meu pai conheceu a mãe dele em uma viagem para a Europa, e foi amor à primeira vista. Ambos eram viúvos, ambos ainda eram jovens e atraentes... Não demorou muito para Margaret se mudar para Seattle, deixando o filho com os avós até o ano letivo acabar. Eu nunca havia tido curiosidade de pedir para ver uma foto de Jonas, e ninguém nunca pensou em me mostrar. Assim quando, ao seguir para o lago de forma a olhar os peixes, eu o vi a poucos metros de distância, tudo o que eu pude pensar era o quanto eu queria que aquele Deus grego reparasse em mim. Eu havia fugido da confusão que estava aquele rancho enquanto o casamento não começava, e lá estava ele, encostado em uma árvore, fumando e observando a paisagem. Eu devo ter olhado tanto para ele que em algum momento ele sentiu meu olhar, voltando àqueles olhos verdes na minha direção pela primeira vez. Naquele momento eu soube que estava perdida. O olhar dele me sugava, me prendia, me fazia esquecer do resto do mundo, e todos os outros clichês nos quais você puder pensar. Naquele momento eu entendi da onde vinham aqueles clichês.
Os lábios perfeitos de Joe haviam se curvado em um meio sorriso e seus olhos deslizaram por meu corpo de cima a baixo. Eu me forcei a não abaixar o olhar como uma garotinha envergonhada, e o sorriso dele pareceu se alargar com isso. Quando Jonas jogou o cigarro no chão, o esmagou com o sapato e começou a vir na minha direção, porém, eu ouvi a voz de Claire me chamando, e em seguida vi a criatura correndo em minha direção, os olhos avermelhados pelas lágrimas enquanto balbuciava coisas como “o Jake está dando em cima de uma loira siliconada!”. Eu lancei um sorriso de desculpas ao garoto que parara de se aproximar e ele sorriu de volta, assentindo com a cabeça e se afastando.
Com a confusão pré-casamento, eu não tive outra oportunidade de tentar falar com ele. Os parentes do meu pai que eu não via desde criança cismavam em me parar para dizer como eu tinha os olhos do meu avô, a boca da minha tia, e outras idiotices que me faziam me sentir o próprio monstro do Frankstein. Apenas consegui trocar mais alguns olhares com Joe, e já odiava Claire por ter nos interrompido mais cedo quando a voz do meu pai declarou as palavras que serviriam como uma pá de cal sobre minhas esperanças.
Querida, venha conhecer o Joe.
Ele pareceu tão chocado quanto eu, mas disfarçou o desconforto e as apresentações foram feitas.
Eu tentei esconder minha decepção durante o casamento e a posterior festa, mas havia sido difícil, principalmente por Joe ter, por uma extrema infelicidade do destino, conhecido Jake e se juntado ao idiota na caça a mulheres solteiras.
No dia seguinte Jonas voltou para a Inglaterra, e eu só voltei a vê-lo quando ele se mudou de vez para minha casa. Os olhares sugestivos já eram passado, e só o que eu passei a obter dele eram provocações e ofensas, como se o interesse que ele demonstrara em mim de início houvesse dado lugar a puro ódio.
Nenhum de nós nunca mais mencionou o dia do casamento.
Eu respirei fundo, tentando novamente me concentrar na revista em meu colo. Já fazia um ano. Já era para eu ter superado minha quedinha ridícula. Em algumas horas meu pai e Margaret voltariam para casa, e nós quatro iríamos jantar fora para comemorar o aniversário de nossa “família”. E eu teria que me sentar durante toda a noite fingindo estar feliz com isso, fingindo ser a filhinha perfeita que não sente um desejo insano pelo meio-irmão filho da puta.
E lá vou eu xingar a coitada da Margaret.
Eu passei a folhear a revista com uma concentração irritada. Eu tinha que parar de pensar em Joe, e parar de pensar no dia de hoje como o aniversário de um ano dele na minha vida. Era o aniversário dos nossos pais, isso sim. Não podia me deixar esquecer disso.
Me perguntei se devia ter preparado algum presente para os dois. São só os envolvidos que trocam presentes no aniversário de casamento ou o resto da família deve dar alguma coisa também? Eu não tinha nenhuma experiência com esse tipo de coisa, já que não cheguei a conhecer minha mãe direito.
Meus olhos pararam na foto de um bolo que acompanhava o que parecia ser uma receita. Huh. Talvez eu devesse fazer um bolo para eles ou algo assim...
Minha linha de pensamento foi interrompida pelo som da TV sendo bizarramente aumentado.
- QUAL É O SEU PROBLEMA?! – eu gritei para Joe, tentando me fazer ouvir apesar do barulho.
- VOCÊ PAROU DE OLHAR FEIO PARA MIM. – ele explicou, rindo – COMECEI A ME SENTIR DEIXADO DE LADO.
Só matando esse desgraçado mesmo.
- ABAIXA ISSO! – eu mandei, sentindo meus ouvidos doerem.
- O QUÊ? – ele perguntou, o sorrisinho sarcástico de volta aos lábios – FALA MAIS ALTO, , A TV NÃO TÁ ME DEIXANDO TE OUVIR.
Chega.
Largando a revista na mesinha à minha frente, eu marchei até o aparelho de som, o ligando e colocando no último volume. A voz de Joan Jett começou a berrar “Hit Me With Your Best Shot” através das caixas de som. Eu nem lembrava que havia esquecido meu CD ali.
Joe e eu cobrimos os ouvidos praticamente ao mesmo tempo, os sons da TV e da música combinados sendo demais para o tímpano de qualquer um.Jonas me olhou feio e sinalizou com a cabeça para o aparelho de som, ao que eu respondi com o mesmo olhar, sinalizando de volta para a TV e o encarando com teimosia. Não ia abaixar antes dele. Não mesmo.
Mais alguns segundos e Joe suspirou, revirando os olhos e desligando a TV. Eu imediatamente desliguei o som, respirando aliviada. Nunca havia escutado som mais maravilhoso que o do silêncio.
- O que há de errado com você? – perguntou Joe, e eu precisava admitir que o som da voz dele era ainda mais maravilhoso e...
Ei! O que ele disse?!
- O que há de errado comigo? – eu perguntei, incrédula – Foi você quem começou!
- Era uma brincadeira! Sabe o que é isso? – ele perguntou, rindo sem humor em seguida – Ah é. Claro que não sabe. Esqueci que estava falando com a Miss Sem Graça.
- O que eu posso fazer se minha idéia de graça é bem diferente da sua? – eu retruquei – Sabe, nem todos somos macacos de zoológico que se animam com qualquer coisa. A noção pode ser nova para você, mas tem gente no mundo que tem cérebro e não acha graça de qualquer idiotice.
- E a noção pode ser nova para você, mas tem gente no mundo que tem senso de humor! – ele rebateu, cruzando os braços.
- Tentar furar os tímpanos de alguém não é humor, Jonas. É agressão. – eu insisti.
- Oh, céus, sai dessa! – ele praticamente grunhiu – Por que você tem que levar tudo tão a sério o tempo todo? Se você relaxasse um pouco, poderia até aprender a se divertir. Já ouviu falar disso, Senhorita Eu-vou-para-Yale? Diversão?
- O fato de eu ter um objetivo e me dedicar a ele não me impede de me divertir. – eu disse, em tom meio autodefensivo. Aquela acusação tocava em um ponto que eu não queria discutir no momento. Remetia a algo dentro de mim que eu não havia admitido nem para mim mesma ainda.
- Nem vem com essa. Você nunca faz nada de errado, Lovato. Nunca se liberta um pouco.
- Oh. Então só porque eu bebo conscientemente e não me envolvo em escândalos sexuais, eu não sei me divertir? – eu perguntei, irritada.
- Ora, vamos lá! Todo mundo precisa fazer merda de vez em quando, ir a extremos pra lembrar que está vivo! – ele disse, ainda sentado no sofá, cruzando os braços e me encarando como se preparando a si mesmo para o que diria em seguida. – Não dá pra ser feliz sendo uma vadia frígida vinte e quatro horas por dia.
Por um momento, só o que eu pude fazer foi encará-lo, chocada.
- Repete isso. – eu desafiei finalmente, sentindo o veneno escorrer das minhas palavras, pronunciadas em meu tom mais perigoso. Oh, ele não podia ter dito o que eu achava que havia dito. Não é possível que ele tenha me chamado de...
- Vadia. Frígida. – ele repetiu, com calma.
Eu tentei contar os dez segundos de trás para frente. Mas quando cheguei ao “cinco”, já havia atacado o infeliz.
Não sei o que me deu, mesmo. Geralmente eu sou contra violência física. Mas dessa vez Jonas havia me empurrado longe demais. Quando eu dei por mim, meus punhos já tentavam acertar qualquer parte possível do corpo do infeliz.
Foi uma má idéia, na verdade. Joe era bem mais forte, de forma que eu ainda não havia conseguido acertar sequer um soco quando ele segurou meus braços, os prendendo um de cada lado da minha cabeça contra o encosto do sofá.
- ME LARGA! – eu berrei, irritada, tentando me soltar.
- Largo se você parar de agir como uma lunática. – ele disse, visivelmente assustado com a minha reação, enquanto ainda lutava para me segurar. Eu costumo ser uma garota controlada, sério. Mas o que ele disse tocava direto em uma ferida que eu tentava com muito empenho esconder.
- ENTÃO RETIRA O QUE DISSE! – eu exigi, ciente de que meu rosto devia estar vermelho.
- Ok, eu retiro, eu retiro. – disse ele, me soltando e se afastando um pouco no sofá, com as mãos erguidas em sinal de rendição.
- Melhor assim. – eu disse, mais calma, ainda respirando forte e massageando meus pulsos levemente doloridos enquanto tentava recuperar o controle sobre mim mesma.
- O que deu em você? – ele perguntou, e a genuína preocupação misturada à irritação em seu olhar me surpreendeu.
- Desculpa. – eu disse, respirando fundo – Só não gostei do que você disse. Machucou, ok?
- Então sou eu quem pede desculpas. – o tom de Joe tinha um toque de vergonha, e eu me vi cada vez mais confusa. Eu e ele sempre brigávamos, isso não devia ser novidade. O que havia mudado?
Talvez o fato de eu ter encarnado o Hulk há um minuto atrás.
- Tá tudo bem. – eu disse, evitando encará-lo.
- Não, sério. Eu não sabia que você ia levar a nível tão pessoal. – eu tive que erguer o olhar até o dele depois dessa, uma sobrancelha levantada.Como ele esperava que eu “levasse” aquilo? – Quero dizer... Não sabia que você ia ficar tão ofendida. Não é a primeira vez que a gente discute... Mas desculpa. Por te chamar de vadia frígida, de lunática e de cretina psicótica.
- Você não me chamou de cretina psicótica. – eu disse, confusa, apenas para querer me bater em seguida ao ver o sorrisinho provocante nos lábios do infeliz.
- Acho que acabei de chamar, então.
Em outras circunstâncias, eu teria ficado irritada. Teria rebatido a ofensa na mesma hora. Mas eu devo ter gastado toda a minha raiva no ataque de antes, porque minha reação foi apenas rir da ousadia daquele desgraçado.
- Eu devia matar você. – eu disse, entre risos.
- Você não me mataria, querida. – respondeu Joe, em tom leve – Eu sou divertido demais de se ter por perto.
Ok, hora de cortar o ego dele um pouco.
- Você não é divertido, Joe. É convencido, irritante, nojento, idiota...
- Oh, pára. – ele me interrompeu, em um tom falsamente envergonhado – Assim você me deixa comovido.
- Tá vendo? É disso que eu tô falando. – eu disse, revirando os olhos – Você sempre tem que ter uma resposta espertinha para tudo.
- E você não? – ele me perguntou, cruzando os braços.
- Bom, não sou eu quem começa. – eu respondi.
- Oh, essa é a típica resposta madura. – ele rebateu, rindo sem humor.
- Isso vindo do cara que colocou a TV no máximo só pra me irritar.
- Isso vinda da garota que fez a mesma coisa com o aparelho de som porque não consegue agüentar uma piada. – ele não desistia.
- E a gente volta para a discussão inicial! – eu exclamei, frustrada – Entende o que eu tô dizendo? Você é irritante, Joe. Demais. E se continuar assim as pessoas não vão querer estar perto de você nem no seu velório! Seu enterro vai ser mais vazio que carteira de pobre.
- Oh, sério? Assim você me machuca. Achei que ao menos você fosse querer ir, para ter certeza que eu morri mesmo.
- Não vai dar. Quando você morrer eu vou estar ocupada demais fugindo da polícia por ter te botado na cova. – eu retruquei, sorrindo.
- Eu... Não tenho uma boa resposta pra isso. – ele admitiu, sorrindo divertido.
- Não? – eu fingi surpresa – Eu deixei o grande Joe Jonas sem palavras? Oh meu Deus! Avisem aos jornais!
- Engraçadinha. – ele resmungou.
- Muito. Tá vendo? Eu sei fazer piadas. Sei me divertir. – eu disse, em tom vitorioso.
- Em primeiro lugar, espero que você esteja ciente de que é você quem tá revivendo o assunto. E em segundo... Eu mantenho minha posição. Você é comportadinha demais.
- E eu tenho escolha? – eu perguntei, irritada – Me desculpa se ao contrário de você eu pretendo ser alguém na vida!
O arrependimento pelas palavras veio assim que elas saíram de meus lábios. Quem parecia machucado agora era Joe.
Aquilo não era justo com ele, na verdade. Não era como se Joe não quisesse trabalhar ou algo assim. Mas ele e a mãe andavam discutindo praticamente todos os dias porque, bom... Ele não havia tentado nenhuma faculdade.
Não era por falta de capacidade. Apesar do mau comportamento de vez em quando, Joe era um bom aluno, tinha boas notas... Podia conseguir uma boa faculdade se tentasse. Talvez não uma Ivy League, mas provavelmente Northwestern ou Georgetown. O problema era que ele não queria. Não agora. Joe tinha planos de, assim que a escola acabar, passar um ano na estrada com a banda, fazendo shows por onde passasse. A paixão dele sempre foi a música, e eu não o culpava por querer ter ao menos um gostinho da vida de rockstar. Os meninos tinham planos diferentes para depois desse ano, o que significava que a banda não ia poder continuar por mais muito tempo. Era provavelmente a última chance deles de serem uma banda de verdade.
- Desculpa... – eu disse, com a voz fraca.
- Não. – Joe disse, simplesmente, se levantando do sofá tão rápido que me assustou – Você pensa como a minha mãe, não pensa? Que só o que eu quero é ser um vagabundo?
- Joe, não...
- Bom, vocês estão erradas! – ele continuou, como se não me escutasse – Só porque eu não sigo o caminho convencional, não significa que eu valha menos por isso! Eu só quero viver um pouco, só isso! Mas claro, você não entenderia isso.
Eu entendia. Entendia melhor do que ele pensava, mas isso não vinha ao caso.
- Eu te pedi desculpas. Falei sem pensar. Mas não vou admitir que você comece a me ofender de novo. – eu avisei, séria, me levantando e ficando de frente para ele.
- Por que? A garotinha de ouro não agüenta ouvir verdades? Bom, eu não me importo. Aqui vai uma pra você: não pense que pode me julgar só porque acha que viver fora dos padrões é algum tipo de pecado! “Oh, ele tem um sonho! Que crime!” – Joe estava em pé, poucos metros à minha frente, que permanecia perto do sofá, o encarando agora um pouco assustada. Ele estava irritado. De verdade – Não tente julgar o mundo inteiro por você, Lovato. Algumas pessoas esperam obter alguma satisfação na vida. – os lábios dele então se curvaram no sorriso mais cruel que eu já havia visto, e eu devia ter me preparado para o que veio a seguir – Ao contrário de você, cuja única satisfação na vida é obtida pelos próprios dedos.
- O quê? – eu perguntei, assustada.
- Estou falando das noites solitárias no escuro do seu quarto, quando você se toca achando que ninguém sabe disso.
Foi como um soco no estômago.
Ele sabia? Como ele sabia?!
Eu finalmente entendi a tal sensação de querer que o chão se abra e te engula de tanta vergonha que você sente. Sempre pensei que a expressão fosse meio exagerada. Mas não, não era.
O fato de Joe saber daquilo estava me fazendo querer morrer. Sempre pensei que era discreta o suficiente, silenciosa o suficiente... Mas o que ele dissera não era nenhuma mentira. Eu realmente... “Me tocava”. E me envergonhava um pouco disso. Mas uma garota tem necessidades, principalmente quando não tem um namorado há mais de um ano e o meio-irmão incrivelmente gostoso dorme há uma porta de distância. Há algo extremamente erótico em ceder à tentação sabendo que o objeto de suas fantasias está separado de você por apenas uma parede. E que se aquela parede não existisse, estariam no mesmo quarto... Era o tipo de pensamento que fazia meus hormônios enlouquecerem, mesmo agora. Oh, eu estava sim envergonhada, mortificada. Mas ao mesmo tempo, uma parte de mim estava se excitando com o pensamento. Ele sabia. Sabia o que eu fazia durante as noites enquanto pensava nele. A onda de desejo que eu senti então apenas piorou minha vergonha.
Céus, eu sou depravada.
- Você sabe? – eu perguntei, antes que pudesse me deter, e odiando a mim mesma em seguida. Não, Demi, ele não sabe. O que ele disse não passou de um truque da sua imaginação.
Pelo visto, além de depravada eu sou bem burra também.
- Sei o quê? – ele perguntou, sorrindo sarcástico, visivelmente adorando minha pergunta idiota – Que toda noite você se deita na sua cama, morde o seu travesseiro, levanta sua camisolinha azul e escorrega sua mão para dentro daquela calcinha minúscula?
- Você viu? – eu reformulei minha pergunta, me sentindo ainda mais mortificada. Uma coisa era pensar que ele sabia por ter me escutado. Outra bem diferente era saber que ele havia me visto. Mas como, se eu sempre me certificava de que a porta estava fechada?
- Não me olha assim. – ele respondeu, o sorriso murchando frente ao meu olhar apavorado. Ele desviou os olhos, encarando fixamente o chão, sua postura mudando para a de alguém constrangido. Quando ele voltou a falar, seu tom dedurava seu nervosismo – Você não pode me culpar, ok? Eu sou homem, porra. Com uma garota gostosa se masturbando no quarto ao lado, o que você queria que eu fizesse? Eu tinha que escutar seus gemidinhos abafados toda noite sem poder fazer nada quanto a isso. E céus, aqueles sons... Você insiste em fazer esses barulhinhos deliciosos e eu tinha que ficar só imaginando. Já não dormia direito há semanas quando finalmente não agüentei mais. Eu precisava... Ver... Eu fui até o seu quarto, abri um pouco a porta, mas você estava entretida demais para reparar. E depois disso eu não consegui mais parar. Não importa o quanto eu tente me controlar, toda noite eu abro uma fresta da sua porta e fico ali, me torturando.
- Você me acha gostosa? – eu perguntei, me sentindo idiota por ter me concentrado naquela parte específica. Mas eu não tinha outra escolha. Seu eu parasse para analisar o resto do discurso dele, sabia que nada me impediria de derreter em uma poça de hormônios em fúria.
- Tá vendo? É isso que me mata! – ele exclamou, irritado – Porque você realmente não faz idéia! Fica desfilando por aí com jeans apertados, sem ter a mínima noção do que faz com garotos, com homens! Do que faz comigo!
- Do que... Do que você está falando? – eu perguntei, com a voz fraca.
- Eu tô falando de você, Demetria! Com o seu cabelo, seu olhar, seu sorriso, suas curvas... – eu corei, e ele suspirou – Com esse jeito que você tem de corar com absolutamente tudo! Você é uma droga de sonho erótico tornado real e nem desconfia disso!
- Mas... – eu fechei os olhos e respirei fundo – Você nem gosta de mim. Me odeia, na verdade.
- Oh, inferno! – ele disse, revirando os olhos de forma impaciente – Eu não te odeio, sua idiota! Eu sou louco por você!
Eu definitivamente devo estar sonhando.
Talvez quando eu ataquei Joe há alguns minutos atrás, tenha escorregado e batido com a cabeça. Era a única explicação plausível.
Nós permanecemos parados por alguns segundos, nos encarando. Eu mal podia respirar, enquanto Joe ofegava como se tivesse corrido uma maratona.
- Totalmente. Louco. Por você. – ele admitiu novamente, dessa vez com mais calma – Eu te quero tanto que chega a doer, Lovato. E isso está acabando comigo. Agora eu ainda por cima tenho que te ver toda noite... Ver a expressão no seu rosto, o jeito como os seus seios se movem... Eu fico ali, parado, desejando poder ser os seus dedos. Desejando poder escancarar aquela porta e me juntar a você. Te mostrar o que é ter um homem de verdade na sua cama... Ser o causador dos seus gemidos. Você não faz idéia de quantas vezes eu tive que me segurar para não fazer exatamente isso. – ele parecia estar tremendo um pouco, enquanto seus olhos verdes me queimavam. Havia fogo naquele olhar, fogo que incendiava cada centímetro do meu corpo – Para não me render e te agarrar sem ao menos te dar tempo para pensar. Para não invadir seu corpo quente... Não sentir seus músculos me apertando, seus olhos fixos nos meus enquanto eu te rasgo inteira.
Eu pensei que minhas pernas fossem ceder, mas por algum milagre, consegui manter meu corpo em pé. As palavras explícitas de Joe estavam tendo um efeito irresistível sobre meu corpo. Não achava possível já ter estado tão excitada quanto estava agora.
- Mas então... – eu consegui dizer, a voz trêmula – Por que você sempre me trata tão mal?
- Você acha que eu quero que nossos pais saibam que eu fico duro toda vez que você entra na sala? – ele perguntou, e meus olhos deslizaram para o volume agora aparente em suas calças – Desde aquela droga de casamento, Lovato. Há exatamente um ano atrás. Poucas coisas na minha vida foram mais decepcionantes do que saber que você era a filha do meu padrasto. Eu achei que quando voltasse para a Inglaterra, eu esqueceria aquela atração. E funcionou, até eu ter que voltar para essa droga de país! – ele levou as mãos à cabeça abaixada – Ter que te ver todo dia... Andando para lá e para cá, jogando na minha cara o que eu não posso ter! Por que logo você tinha que ser minha meia-irmã? Por que logo você tinha que ser a única garota no mundo que eu não posso ter? Que eu não devia nem querer ter? – os olhos de Joe se ergueram até os meus de novo – Eu pensei que se... Se eu fosse um babaca com você, se eu te fizesse me odiar... Você não me deixaria perder o controle.
- Eu nunca odiei você. – eu admiti, em voz baixa.
- Eu sei bem disso. – ele respondeu, rindo sem humor – Porque pra piorar minha situação, você me quer tanto quanto eu te quero. – perante minha expressão surpresa, ele continuou – O quê? Você acha que eu não sei? Acha que eu não percebo seus olhos me seguindo o tempo todo? Você chegou a deixar meu nome escapar dos seus lábios uma noite. – ele disse, respirando fundo – E isso só piora tudo. Porque eu sei que se as circunstâncias fossem diferentes, nenhum de nós estaria sendo forçado a sofrer durante esse tempo todo. É desesperador, sabe? Ter consciência de que você me quer e não poder fazer nada quanto a isso. Pior que isso, ter que me esforçar para te fazer me odiar, como um covarde. Tentando fazer você ser forte por nós dois, e não me dar espaço para fazer o que eu quero.
- E o que você quer fazer? – eu perguntei, o um tom baixo e rouco que eu não conseguia reconhecer.
Os olhos de Joe pareceram escurecer enquanto ele me olhava como se fosse um tigre esfomeado cercando um coelhinho inocente. Oh, merda. O que havia dado em mim? Porque eu tinha que perguntar aquilo?
Em poucos passos ele estava logo à minha frente, o corpo quase encostado ao meu. Joe segurou meu queixo, o erguendo de forma a me forçar a encará-lo.
- Eu quero te pegar como ninguém nunca fez antes, Lovato. – ele disse, me fazendo tremer inteira – Tão gostoso que você vai ter vontade de desmaiar. Te fazer gozar até você ficar cansada demais para se mover. E então eu vou te colocar em todos os tipos de posições deliciosamente safadas e continuar te comendo. – eu pude sentir minhas pupilas dilatando enquanto minha respiração acelerava. Ele não desviava os olhos dos meus por sequer um segundo, e estava ficando difícil convencer minhas pernas a continuar suportando meu corpo – Eu quero te ouvir gritando meu nome de novo e de novo enquanto eu te faço tremer e implorar para te deixar gozar. E quando você achar que não pode mais agüentar, eu apenas vou fazer tudo de novo.
Ele esperou um momento, como se aguardasse uma resposta. É, óbvio. Como se eu fosse capaz de formar alguma frase coerente.
- Você não vai mandar eu me afastar? – ele perguntou, em um tom de quase súplica. Ah, claro. Ele havia tentado ser o mais gráfico e ofensivo possível em sua descrição de seus planos porque queria me assustar. Me mostrar exatamente a profundidade de seu desejo e me fazer fugir. Como ele mesmo havia dito, queria que eu fosse forte por nós dois e o impedisse. Mas ele era muito inocente se pensava que eu tinha tamanho autocontrole.
- Não. – eu respondi, incapaz de fazer qualquer coisa para tirá-lo de perto de mim.
- Droga, Demi. – ele disse, em um mero sussurro, me fazendo ter que conter um gemido. Ele nunca me havia me chamado pelo apelido – Você sabe que eu vou te beijar, não sabe?
- Sei. – eu respondi, encarando aqueles olhos profundos com uma coragem que no fundo eu não sentia.
Eu esperei que ele me agarrasse então. Esperei que seus lábios atacassem os meus e me tirassem da tortura na qual eu estava há um ano. Dessem-me o beijo com o qual eu sonhava há 365 dias, 2 horas e 10 minutos, se o relógio de parede estivesse correto. Meus olhos se fecharam e eu esperei.
Apenas para me decepcionar ao sentir os lábios de Joe em minha testa.
Eu abri os olhos o encarando confusa e já me preparando para dizer algo. O quê eu não sabia, mas tinha total intenção de protestar. Não era justo comigo. Ele não podia me dizer as coisas que disse apenas para beijar minha testa logo depois. Como um irmão mais velho faz com a irmãzinha pirralha. Aquilo era crueldade, e eu já estava prestes a dizer isso a ele quando senti seu dedo se encostando aos meus lábios.
- Shh... – ele disse, ainda me olhando do mesmo jeito intenso que estava fazendo meu coração acelerar. Joe inclinou a cabeça novamente, agora me beijando entre as sobrancelhas, e eu fechei meus olhos de novo.
Seus lábios então roçaram em cada uma das minhas pálpebras, com uma tranqüilidade que estava me matando. Como ele podia ser tão calmo? Depois de tudo o que ele disse, como ainda conseguia ser tão... Gentil?
Simplesmente porque no fundo ele não estava sendo. Joe só estava prolongando o momento, me fazendo esperar... Me fazendo querer mais. O toque suave dos lábios macios dele, agora sobre minha bochecha, ia me deixando cada vez mais nervosa, enquanto o desgraçado parecia saborear o momento.
Continua...
to rindo dsclp kkkkkkkk mas ta muito perfeito
ResponderExcluirnao demora, se der poste hj pleaseee bjs
Perfeito
ResponderExcluirPosta Logo
Beijos
Serio que voce parou aí?? É tortura! Posta logo o proximo, pelo amor!!!
ResponderExcluirSerio, adorando essa historia...
E quando vai postar o proximo capitulo do Amiga Imaginaria? Aquela historia tambem é a+. A-M-O essas fics <3