Chapter Eleven

Já havia anoitecido, Sarah e Olívia já estavam dormindo há horas e em silencio Demi saira da casa, ainda de pijama, somente com um casaco por cima da roupa e descalça e agora se achava parada na porta do celeiro enquanto se lembrava do que Joseph havia lhe dito. O feitiço que era necessário pra libertá-lo podia ser encontrado em um livro que toda família de bruxo tinha, um livro antigo, com algumas pedras preciosas e desenhos em alto relevo na capa, ela saberia quando o visse. Ela já havia procurado dentro da casa, mas é claro que as tias não o guardariam em uma estante qualquer, então ela pensou... O celeiro, estava trancado há anos, elas tinham todo o cuidado pra garantir que ninguém entrasse ou visse o que havia lá dentro, só podia estar lá... Tinha que estar lá. 

__Vamos lá, tem que funcionar__ ela murmurou pra si mesma segurando o cadeado__ reserare. 

Assim que disse a palavra que Joseph lhe ensinara o cadeado se destrancou sozinho, ela sorriu nervosa quando a porta se abriu sozinha, sem fazer nenhum barulho. Estava tudo escuro lá dentro, não dava pra ver absolutamente nada e Demi teve medo de chegar mais perto. Olhou perto da porta na esperança de haver um interruptor, mas não enxergava nada. 

__De que serve ser uma bruxa se não sei fazer absolutamente nada__ ela revirou os olhos, não sabia como fazer feitiços, era só pronunciar a palavra certa ou havia algo mais? Isso era tão inconveniente, resolveu tentar uma coisa__ hum... Luz?


Pra sua surpresa uma lâmpada no meio do cômodo se ascendeu iluminando tudo. Ela encarou o celeiro boquiaberta e antes que aluem percebesse a luz acesa ela fechou as portas, pra controlar luminosidade. Depois ela se virou novamente e encarou o que havia lá dentro, parecia uma espécie de... Museu de coisas esquisitas, cheio de objetos e coisas que ela não fazia ideia do que eram, devia ser tudo mágico. Estavam todos protegidos com um vidro, exatamente como em um museu... Até plantas tinha por ali. 

Antes que perdesse o foco naquela confusão, Demi se concentrou no que realmente importava, o livro. Havia uma área no canto só com livros, uma estante cheia deles, todos com capas velhas e com figuras esquisitas desenhadas, Demi foi procurando, olhando um por um, tentando achar o certo. 

__Cadê você?__ ela sussurrava enquanto caminhava entre os livros__ cadê você?
Seus olhos então se fixaram num ponto mais a frente... Protegido por outro daqueles vidros, havia um livro, separado dos outros, a capa velha e escura, havia alguns enfeites com pedras preciosas, parecia ouro, diamante e até um rubi. Demi ficou boquiaberta, mas o que roubou sua atenção foi o desenho em alto relevo de uma caveira, as órbitas vazias pareciam lhe encarar. 

__Credo, credo__ ela respirou fundo pra espantar aquela sensação horrível que lhe tomou, olhando praquilo o que ela estava fazendo parecia um erro terrível, mas ela se recusou a mudar de ideia. Lembrou do que Joseph lhe dissera, que provavelmente alguém sentiria falta do livro, então ela deveria substituí-lo__ duplicatam.


O Livro apareceu automaticamente na sua mão, era pesado e esquisito e ela teve vontade de largá-lo no chão, mas o segurou com força, aquilo era a chave pra liberdade de Joseph. Observou enquanto outro livro que parecia exatamente igual aquele aparecia no lugar. Ficou surpresa por não haver nenhuma armadilha ou algo assim pra lhe impedir de pegar o livro, mas talvez visse filmes demais, ela precisava se familiarizar mais com esse mundo. Assim como entrou ela saiu, murmurou algumas palavras até que a luz se apagou e trancou novamente a porta do celeiro, se suas tias soubessem daquilo lhe matariam. Foi na ponta do pé até seu quarto e trancou a porta, pegando o diário de Joseph, precisava saber qual era o próximo passo. 

“Estou com o livro, o que devo fazer agora?”.

“Muito bom Demi, agora você deve procurar nele o feitiço de libertação, vai saber qual é quando o vir”.

“Não é perigoso? Você disse antes que se eu fizesse um feitiço muito forte sem estar preparada poderia morrer”.

Essa era uma de suas preocupações, além de não saber como controlar seu poder, Demi só tinha feito feitiços pequenos, nada extraordinário, ela precisava de treinamento pra algo desse tipo e Joseph falara antes que ela poderia até morrer se estivesse despreparada, tudo aquilo seria em vão se ela morresse no processo.



“Eu não arriscaria sua vida dessa forma Demi. O feitiço deve ser feito em um lugar especifico, o mesmo lugar onde fiz o feitiço que nos prendeu aqui. É um lugar mágico, ele aumenta os seus poderes, te deixa mais forte. Lá você não correria nenhum risco”.

Bem, ela ouvira falar daquele lugar, suas tias deviam ter comentado, ou Joseph falara em uma de suas conversas, ela não lembrava bem, mas quis acreditar que tudo daria certo, ele não a colocaria risco, sabia bem o que estava fazendo e por mais louco que fosse ela confiava nele, eles eram amigos, e ela ia ajudá-lo.
“Tudo bem, se você diz que é seguro eu acredito em você”.

“Pode ser essa noite Demi?”

“Essa noite? Assim tão depressa?”

“Não quero ficar mais nenhuma noite aqui dentro, não quero esperar mais pra vê-la”.
Demi mordeu o lábio indecisa, ela também não queria mais esperar. Não via a hora de olhar nos olhos dele pessoalmente, e vê-lo encará-la de volta, conversar cara a cara, ouvir a sua voz. Porque esperar mais? Seria naquela noite. De repente ela ficou ainda mais anciosa, inquieta, quase não conseguia ficar parada.
“Tudo bem então, onde fica esse lugar mágico?”

“Monte Frenei, já ouviu falar?”

Na verdade ela já ouvira falar sim, lembrava que suas tias a levaram lá algumas vezes quando era pequena, escondido da sua mãe claro, ela se lembrava de um lugar muito bonito, uma espécie de gruta e que também sempre se sentia estranha quando ia lá e pedia pra vir embora mais cedo. Mas apesar disso adorava quando iam passear por lá, ela ainda se lembrava onde era, não era muito longe da casa das suas tias na verdade. 

“Eu seu onde fica o Monte, já fui lá algumas vezes, não é longe daqui”.

“Vai saber o lugar exato quando chegar lá, vai sentir seu poder aumentando, é incrível.
Eu estou contando com você Demi, eu sei que consegue fazer isso”.
E ela não pretendia decepcioná-lo. Demi trocou de roupa, pôs uma calça jeans, uma blusa e um casaco, colocou o diário e o livro em uma bolsa e saiu de dentro da mansão. Aquela noite as coisas seriam diferentes, ela podia sentir isso, tudo ia mudar. Pensou em ir de carro, mas ficou com medo de suas tias ouvirem o barulho do motor e a impedirem de sair, então resolveu que ia andando, não era tão longe assim. É claro que estava escuro, frio e assustador lá fora, mas ela não podia desistir agora, faltava muito pouco. 
A caminhada levou cerca de uma hora, porque Demi se perdeu em uma entrada, indo na direção errada, mas no final das contas ela achara o caminho certo e sorriu quando viu a gruta que frequentava quando pequena com as tias. E ela realmente pode sentir algo dentro de si, se sentiu mais forte, era uma sensação incrível. Quando era pequena estar ali lhe dava mal estar, mas agora ela sentia que poderia ficar ali o dia todo, era prazeroso e teve vontade de sorrir, por um momento até se esqueceu o que a trouxera ali, mas ao pensar em Joseph se obrigou a manter o foco no que era realmente importante.
Demi tirou o diário de dentro da bolsa e o abriu em cima de uma pedra, como Joseph lhe mandara fazer. Depois abriu o livro velho de feitiços na página do feitiço de libertação, que ela havia procurado pouco antes de sair de casa. Não era complicado, só precisava dizer as palavras escritas na folha e ele seria livre. 
__Liberte o que foi aprisionado, libere o poder contido__ enquanto ela sussurrava uma ventania começou, sacudindo as folhas do diário e jogando seu cabelo contra os olhos__ desfaça o que foi feito.
A página do diário começou a brilhar e então Demi percebeu que estava funcionando, assim ela continuou, dessa murmurando mais alto já que a ventania estava tão forte que a impedia de escutar a si mesma. 
__Traga de volta ao lugar que realmente pertence, deixe o destino seguir o seu curso... LIBERAVIT.
O brilho ficou ainda mais intenso, tanto que ela não conseguia enxergar mais nada e sentiu seu corpo ser empurrado contra uma das rochas, caindo no chão sem fôlego. Ela se encolheu no chão de olhos fechados e tampando os ouvidos pelo barulho alto da ventania.
Houve mais um som, algo como uma explosão, então acabou... A luz se foi e tudo ficou quieto. Demi abriu os olhos receosa, e viu algo mais a frente no chão... Um corpo. Levantou-se apressada, um pouco tonta e correu até lá, ela o reconheceu imediatamente e ficou parada o encarando sem acreditar que tinha realmente conseguido. Joseph se sentou, parecia confuso, seus olhos vagaram pelo local e ele parecia assustado, até que seus olhos pousaram no rosto de Demi.
__Joseph__ ela sussurrou sorrindo__ sou eu, Demi. 
__O que foi que você fez?__ ele perguntou a encarando de olhos arregalados, Demi não entendeu qual era o problema. 
Ela pensou em dizer alguma coisa, mas nada saiu, ficou olhando pro rosto assustado dele completamente confusa. 
__O que foi que você fez?__ ele perguntou de novo se levantando, quase gritando agora, ela deu um passo pra trás assustada.
__Eu disse que isso ia acontecer um dia irmãozinho__ Demi congelou ao som daquela voz, aquela voz fria como gelo e arrepiante, era a voz de Robert, mas estava errado, ele não devia estar ali, o feitiço libertaria apenas Joseph. Ela se virou pra ter certeza e lá estava ele, do outro lado da gruta sorrindo abertamente, seu coração disparou.
__Robert__ Joseph sussurrou tão surpreso quanto Demi.
__Você não é tão esperto quanto pensa__ disse rindo__ IGNIS.
Robert estendeu a mão na direção dos dois ao mesmo tempo em que gritou a palavra e uma bola de fogo saiu de suas mãos na direção dos dois, Demi gritou quando sentiu braços a envolvendo e a empurrando em direção ao chão. Com os olhos arregalados pode ver quando o fogo passou direto por eles e acertou uma árvore mais atrás a incendiando. 
__Nos vemos em breve irmãozinho__ Robert gritou. 
Joseph se levantou correndo na intenção de brigar com o irmão, mas ele já havia sumido nas sombras. 
__DROGA__ ele gritou zangado e então se virou pra encarar Demi que ainda estava no chão__ Porque você fez isso? Você enlouqueceu? Sabe o que você acabou de fazer? Eu mandei você devolver a droga do diário.
__Eu só fiz o que você me pediu__ ela respondeu trêmula, os olhos ardendo com lágrimas que ameaçavam descer, porque ele estava gritando com ela? 
__O que eu pedi? 
__Você me pediu pra soltá-lo__ ela acusou magoada com o tom de voz dele e o olhar zangado__ você disse que era seguro e que só libertaria você, não foi minha culpa, você prometeu. 
__Eu não falo com você há semanas__ ele rebateu__ achei que tivesse me ouvido e devolvido o diário.
__Mas temos conversado por horas e... Aquelas coisas que me disse... __ Demi se interrompeu percebendo a burrada que tinha feito.
__Robert__ Joseph sussurrou ecoando os pensamentos dela.
A pessoa com quem ela conversara nas ultimas semanas não era Joseph, e sim Robert, ele a tinha enganado pra que ela os libertasse. As coisas bonitas que ele lhe dissera, que queria lhe conhecer e todo o resto, era mentira... Joseph nunca realmente falara nada daquilo, Demi se sentiu tão burra de repente, ela devia ter notado a diferença, devia ter percebido que não era ele, mas estava cega. 
__Eu sinto muito__ ela pediu escondendo o rosto entre as mãos sem conseguir segurar as lágrimas, se sentia a criatura mais idiota do mundo naquele momento, e se pudesse desapareceria, mas é claro que a vida não era assim tão fácil__ eu sinto muito, me desculpe, eu achei que... Eu não...
Ela se calou, se encolhendo mais a cada soluço que dava, não queria chorar na frente dele, não foi assim que imaginou aquele encontro, mas estava descontrolada, tinha tudo saído errado. 
__Você devia ir pra casa__ ela levantou um pouco o rosto ao ouvir a voz dele mais calma e mais próxima, ele tinha se abaixado pra ficar na altura dela__ está tudo bem.
__E você, o que vai fazer?
__Não sei, não posso ir atrás de Robert assim, estou fraco__ ele se levantou__ preciso de descanso e de tempo pra pensar.
Demi engoliu o choro, mas se recusou a olhar nos olhos dele, estava morta de vergonha. Ela se levantou, limpando a roupa. 
__Pode ficar na fazenda das minhas tias__ ela ofereceu__ vão ficar felizes em recebê-lo depois que me matarem.
__Eu aceito a oferta, preciso me preparar pra enfrentar Robert, ele deve estar furioso comigo e é mais forte que eu, preciso pensar no que farei com ele quando encontrá-lo, talvez suas tias possam me ajudar... Qualquer ajuda é bem vinda e precisamos informar a todos que ele escapou. 
Ele parecia menos irritado agora, mas também não parecia feliz. Demi se abaixou pra pegar sua bolsa com o livro das tias, e viu o diário de Joseph não chão, o guardou dentro da bolsa pra entregá-lo depois, quando estivesse mais calma e conseguisse olhar na cara dele sem sentir-se uma completa idiota e então pediu que ele a seguisse. Era certo que suas tias a matariam quando descobrissem o que ela fez, e talvez fosse bom, ela mereceria por não ter ouvido os conselhos que lhe deram e colocar todos os bruxos e mortais também em perigo libertando Robert. E Joseph estava com raiva dela, era educado demais pra demonstrar isso, mas ela podia sentir a raiva emanando dele conforme caminhavam e ela se sentia ainda pior. Riu de si mesma um momento, o que ela esperava que acontecesse? Ela o libertaria, ele lhe seria eternamente grato e se apaixonaria por ela? Que coisa mais estúpida de se pensar... Ela era estúpida.
Não existiam conto de fadas, e ela não tinha direito a viver um. 
__Demi__ suas tias correram até ela quando apareceu na varanda, as duas deviam ter acordado e sentido sua falta.
__Onde você esteve menina? Sabe que susto nos deu?__ Sarah a abraçou__ não pode sair por ai assim e...
__Quem é esse?__ Olívia perguntou encarando Joseph. 
Não dava pra dizer que era um amiguinho que encontrou na rua. Ela nem precisava falar pra que as tias percebessem que tinha algo errado, era só olhar pra ele, o corte de cabelo, as roupas de séculos atrás, a postura. Mas elas esperaram mesmo assim que Demi tivesse uma boa explicação pro que estavam vendo.
__Hum, tia Sarah, tia Olívia... Esse é Joseph Gilbert. 
Continua...