segunda-feira, 16 de julho de 2012

Capítulo 17

Demi ouviu um barulho no andar de cima e deduziu que Joe havia acordado. Colocou as duas fatias de pão na torradeira e tirou o suco da geladeira, colocando-o em cima da mesa da cozinha. Voltou a se sentar no banco e tomar seu café tranqüilamente, sabia que Joe enrolava na cama e depois se levantava para fazer sua higiene matinal, ainda levaria alguns minutos para que ele descesse.
A torradeira apitou, fazendo as duas fatias de torrada pularem para fora e ela as colocou em um prato ao lado da geléia. Quando acordara, pensou em levar café da manhã na cama para Joe, assim como ele fizera com ela semanas antes, mas ainda era cedo e ela não queria acordá-lo, haviam ido dormir tarde, assistindo um filme que passava na televisão. 


- Bom dia. – Joe entrou na cozinha e ela se virou sorrindo. 


- Bom dia. – Cantarolou indo até ele e passando os braços por seu pescoço lhe dando um selinho.



 – Preparei seu café, ia levar na cama, mas não quis te acordar. – Confessou. 

- Brigado. – Ele tocou seu rosto e selou os lábios novamente nos seus. Demi soltou um suspiro lembrando que decidira que iria mostrar pra Joe a carta que recebera e ponderou se aquele era o momento certo. Quando ele passou a língua por seus lábios, ela esqueceu o que a preocupava tanto, abriu a boca deixando que a língua dele encontrasse a sua e apertou o abraço no pescoço dele, sentindo-o puxá-la pela cintura grudando o corpo no seu.
Demi partiu o beijo, dando um selinho rápido no menino e sorriu quando seus olhos encontraram os dele. 


- Aconteceu alguma coisa? – Perguntou, preocupado. Demi mordeu o lábio e balançou a cabeça negando mais uma vez. Durante os onze dias que se passaram desde que recebera a carta do curso de Design, Joe constantemente lhe perguntava se estava tudo bem e ela apenas sorria confirmando. Até quando continuaria mentindo? 


- Vem tomar café. – O puxou pela mão, tentando sair daquele momento embaraçoso e sentou no banco ao lado do dele. 


- Já comeu? – Joe a olhou e ela confirmou com um sorriso. – Por que acordou tão cedo? 


- Não sei, o sono acaba, eu acordo. – Brincou. – Que horas é a reunião? 


- Dez e meia. – Olhou o relógio e viu que ainda eram oito da manhã. – Não sei pra que acordei tão cedo. – Balançou a cabeça inconformado, fazendo a menina ao seu lado rir. 


- Se quiser pode voltar a dormir, eu te chamo quando for pra você tomar banho e se arrumar. – Fez carinho no cabelo dele. 


- Nah, agora que eu já acordei, prefiro me manter acordado mesmo. – Deu de ombros.
Terminaram de tomar café em silêncio. Joe estava preocupado com a reunião que teria com alguns produtores, ainda deixava que sua imaginação fluísse tentando achar alguns prováveis nomes para a banda e apresentá-los na reunião. Algumas noites antes, ele havia falado sobre isso com Demi e os dois haviam tentado encontrar algum nome, mas acabaram perdendo o foco quando as brincadeiras com nomes absurdos começaram. Sentou no sofá ligando a TV, escolhendo um canal qualquer e deixou que a voz do Paul O'Grady preenchesse seus ouvidos, enquanto sua mente ainda vagava em busca de filmes antigos que pudessem lhe ajudar.
Demi lavou a louça em um silêncio que contrastava com a agitação de sua mente. Ouvia as palavras que estavam escritas na carta ecoarem lentamente e quanto mais tentava adiar que Joe soubesse o que tanto a preocupava, mais se conformava que era melhor que ele soubesse logo. Olhou por cima do ombro e viu que ele ria de alguma coisa na televisão, sorriu sozinha suspirando alto e prometendo que não adiaria mais aquilo. 


- Ei, quer jantar comigo hoje à noite? – Joe perguntou quando a garota sentou ao seu lado no sofá. Ela o olhou e riu baixo. 


- Eu sempre janto com você. – Brincou. Ele semicerrou os olhos a olhando e arrancando uma gargalhada dela. – Claro que quero. Jantar fora ou você vai revelar dotes culinários que eu não sabia que existiam? 


- O que você prefere? – Joe passou um dos braços por sua cintura e viu a garota sorrir de lado como se a resposta fosse óbvia. – Certo, vamos jantar fora. – Suspirou conformado, recebendo um beijo rápido no pescoço. 


- Você não vai tá cansado da reunião? - Perguntou o olhando. 


- É só uma reunião. – Ele respondeu tranqüilamente, lhe dando um selinho.
Demi sorriu encostando a cabeça no peito do garoto e sentindo-o acariciar seus cabelos. Fechou os olhos, deixando um suspiro cansado escapar e se perguntou se esse jantar seria o momento ideal para contar a ele.
A voz de Joe despertou-a e ela percebeu que havia cochilado, o olhou confusa e viu o garoto sorrir passando a mão por seu rosto. 


- Preciso tomar banho. – Sussurrou se desculpando. Ela olhou o relógio e viu que já eram quase dez horas. 


- Joe, você vai se atrasar. Vai logo. – Sua voz sonolenta estava preocupada. Ele riu baixo e beijou seus cabelos antes de se levantar e subir rápido as escadas.
Demi deixou que o corpo caísse pesadamente no sofá e passou as mãos pelo rosto numa tentativa de despertar. A televisão ligada mostrava algum talk show e ela mudou para um canal de desenhos animados pensando que seria melhor para distraí-la. Pegou o celular no móvel ao lado do sofá e entrou nas mensagens recebidas, relendo a mensagem que Freddie havia mandado dois dias antes, apenas perguntando como ela estava. Mordeu o lábio se culpando por não ter respondido e se perguntou se seria errado ligar pra ele, afinal, estava precisando desesperadamente conversar com alguém, precisava de algum conselho, já estava se sentindo sufocada. Ouviu a porta do banheiro se abrir e Joe chamá-la. Deixou o celular no sofá e subiu as escadas, encontrando o garoto já vestindo uma calça jeans escura e um tênis. 


- Qual delas? – Perguntou, apontando três camisas em cima da cama. Uma pólo azul marinho e duas camisas sociais, uma preta e uma branca listrada. 


- Essa. – Apontou a branca e lhe entregou. Ele sorriu agradecido e vestiu a camisa, dobrando as mangas até os cotovelos. Demi ajeitou a gola, o ajudando com os botões e deixou que um risinho baixo escapasse. 


- O que foi? – Joe perguntou curioso. 


- Estou acostumada a desabotoar essas camisas, não abotoá-las. – Sussurrou timidamente, ouvindo o menino gargalhar. 


- Sinta-se a vontade para fazer isso sempre que quiser. – Piscou. 


- Certo, hoje à noite seguirei esse conselho. – Concordou abotoando o penúltimo botão. Joe sorriu e desabotoou, deixando os dois últimos abertos. 


- Me sinto sufocado se não deixar pelo menos dois abertos. 


- É, eu esqueci. – Sorriu, beijando a bochecha dele. 

Joe colocou a carteira e o celular no bolso da calça e foi até o banheiro para passar o pente rapidamente no cabelo e botar perfume. 

- To indo. – Anunciou saindo do banheiro, a garota concordou com um aceno de cabeça e lhe deu um selinho, pegando sua mão e descendo as escadas. Harte estava deitado no sofá e levantou a cabeça para olhar os donos. 


- Vai sair hoje? – Joe a abraçou pela cintura já perto da porta. 


- Vou passear um pouco com o Harte e talvez saia com Charlotte. Vou ligar pra ela. – Sorriu. – Boa sorte. 


- Brigado. Não se esquece do jantar. 


- Não vou. – Riu.
Joe selou os lábios nos dela e passou a língua pedindo passagem. Demi abriu a boca deixando que a língua dele encontrasse a sua e sorriu sentindo-o apertar o abraço em sua cintura e tirá-la um pouco do chão. Apertou os dedos que estavam entrelaçados no cabelo dele e fez um carinho em sua nuca. 


- Você vai se atrasar. – Demi riu baixo quando ele lhe deu alguns beijos suaves no pescoço. 


- Tchau! – Sussurrou lhe dando um último selinho e saiu de casa deixando a menina com um sorriso no rosto e a mente ainda mais confusa.

Sentou exatamente no mesmo banco que sentara da outra vez e olhou o relógio que marcava pouco mais de duas da tarde. Soltou um suspiro pesado e acariciou a cabeça de Harte que estava apoiada em uma de suas pernas, os olhos do animal estavam fechados e ele respirava tranqüilamente sem se importar com a movimentação a sua volta. Ela desejou aquela mesma calma pra ela.
- Oi, Dem. – Uma voz masculina chamou sua atenção e ela observou o garoto sentar ao seu lado e lhe dar um beijo em cada bochecha. 


- Ei, Freddie. Obrigada por ter vindo. – Sorriu o olhando. 


- Sem problemas. Fiquei até surpreso com a sua ligação, achei que minha mensagem não tinha chegado ou que você não quisesse mesmo falar comigo. – Demi sorriu sem graça e colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha. 


- Desculpe por isso. 


- Então, você parecia nervosa no telefone e agora eu to vendo que está mesmo. Aconteceu alguma coisa? 


- Hm... é uma longa história. – Comentou timidamente o olhando e viu Freddie abrir um sorriso sincero. 


- Não estou com pressa. 


- Tudo bem. – Concordou se preparando para resumir a história. – Você se lembra do Joe, certo? – O menino concordou com um aceno e ela continuou a história, resumindo o máximo que pôde. Não precisou dar detalhes, contou apenas por cima o que acontecera desde que fora morar comJoe. Por fim tirou a carta do bolso e o entregou. 

Freddie leu a carta com calma enquanto sentia os olhos ansiosos da menina observarem sua mudança de expressão. Soltou um suspiro pesado e a olhou sem saber exatamente o que dizer.

- Japão? – Perguntou em voz baixa. Demi concordou vagamente. 


- Eles têm ótimos cursos de Design por lá, já pesquisei sobre isso. 


- É o que você quer? – Freddie analisou os olhos dela e percebeu que ela não sabia responder. 


- Acho que sim. – Respondeu, depois de quase um minuto em silêncio. – Quer dizer, essa é uma oportunidade única, certo? 


- O que acha que o Joe vai dizer? 


- Que eu tenho que ir e provavelmente vai repetir a mesma frase que eu acabei de dizer. 


- Tem certeza que ele não iria dizer que é melhor você ficar por aqui? Existem cursos ótimos de Design aqui também. – A menina negou balançando a cabeça. 


- Ele nunca me pediria pra ficar. Joe sabe que isso é importante pra mim. – Suspirou. – Ele sempre sabe quando usar o altruísmo dele, e não hesitaria em usá-lo contra mim nesse caso. 


- Você consegue se imaginar vivendo no Japão? 


- A pergunta certa seria se eu consigo me imaginar vivendo sem o Joe. E honestamente... eu não consigo. – Sentiu uma lágrima indesejada correr por sua bochecha e fechou os olhos com força tentando impedir que alguma outra caísse. 


- Você não precisa desistir de um dos dois, Dem. Existem tantas tecnologias hoje em dia que poderão manter vocês dois perto um do outro. A distância seria irrelevante perto do amor que vocês sentem. – Freddie comentou passando os olhos novamente pela carta. – Vocês vivem juntos desde sempre, um ano de separação não significaria muita coisa. 


- O Joe tem sido meu mundo desde que minha mãe morreu, nove anos atrás, Freddie. Eu sinto que sem ele, seria como ter uma venda em meus olhos. – Olhou o garoto e sorriu fraco. – Eu passei a minha vida inteira ao lado dele, ele foi muito mais do que um primo, um irmão ou mesmo um namorado. E durante toda a minha vida eu vivi por nós dois, como se fossemos um só. As alegrias dele eram minhas, assim como as dores também. Minha mãe costumava dizer que éramos as duas metades de um inteiro e até mesmo o Joe dizia que tinha uma teoria de que eu era uma parte dele que veio faltando. – Fungou, impedindo que uma lágrima teimosa caísse. – Eu costumava achar graça nisso e falar que todos nascemos inteiros, mas agora eu consigo entender o que ele quis dizer. Agora eu sinto que ele também é um pedaço faltando em mim e passar um ano sem esse pedaço vai doer e sangrar demais. 


- Os ferimentos sempre fecham, o sangue estanca mais cedo ou mais tarde. – Freddie comentou sabiamente. Demi riu baixo e negou balançando a cabeça. 


- Não vai fechar, é fundo demais. – Mordeu o lábio. – É como um buraco na alma. – Sussurrou encolhendo as pernas e abraçando os joelhos.
Freddie suspirou sem saber o que dizer, nunca imaginaria que Demi e Joe compartilhavam aquela história. Claro que ele sabia que os dois eram primos inseparáveis, mas achou que fosse apenas aquilo que via diariamente na escola. Abraçou a garota pelos ombros e passou a mão por seu cabelo, tentando confortá-la. 


- Eu acho que você deve seguir o que seu coração mandar. Sei que isso é papo de garota, mas é a verdade. – A garota riu baixo agradecendo por ter tido a idéia de conversar com Freddie, tirar todo aquele peso de cima de si estava sendo relaxante. 


- Sabe, já faz quase um ano que eu to morando com ele, passou rápido. – Comentou vagamente. 


- Um ano passa mais rápido do que a gente imagina. – Concordou. 


- Obrigada, Freddie. – Sussurrou, sentindo a mão dele fazer carinho em seu ombros. 


- Sempre que precisar. – Beijou os cabelos da menina.



# Flashback (4 anos antes)

Demi acariciou os cabelos do menino que estava deitado no sofá com a cabeça em seu colo. O rosto cansado e a expressão tranqüila e calma dele fez com que ela sorrisse brevemente. Observou as paredes brancas da ante-sala do quarto de hospital e suspirou pesadamente, ouvindo os bips vindos do quarto, indicando que a tia respirava tão tranqüila quanto seu filho.
Bebeu um gole do café já frio e fez careta, precisava pegar mais se quisesse se manter acordada. Se levantou com cuidado, apoiando a cabeça deJoe em uma almofada e saiu do quarto silenciosamente.
Apertou o casaco contra o corpo enquanto caminhava pelo longo corredor do hospital. Desceu o elevador até o primeiro andar e foi até a cantina vazia, por causa do horário. Botou uma moeda na máquina escolhendo um M&M’s qualquer e depois pediu um café para a garçonete que lhe lançou um sorriso fraco quando se sentou à mesa. Encostou a cabeça no vidro da grande janela e comeu o chocolate calmamente, agradecendo por finalmente colocar alguma coisa, além de café, no estômago. Se Joe soubesse que a ultima coisa que ela havia comido fora uma torrada às sete da manhã, provavelmente ela teria que ouvir novamente o discurso de que deveria ir para casa e parar de mudar completamente a rotina apenas para ficar com ele no hospital. Tomou um grande gole do café que a garçonete havia botado na mesa e relaxou.
Fechou os olhos por alguns segundos tentando fazer com que sua mente parasse de trabalhar a mil por hora como vinha acontecendo ultimamente. Seu sono estava mais leve que o normal, e ela sentia o corpo implorar por uma noite inteira de sono.
Já faziam três meses que a mãe de Joe havia descoberto um câncer já avançado no pulmão, desde então a vida dos dois adolescentes havia virado um caos. Noites perdidas ou mal dormidas no hospital e preocupações viraram rotina diária dos dois. Demi havia se acostumado a sair do colégio direto para o hospital enquanto Joe raramente aparecia na faculdade de administração por estar ocupado demais cuidando da mãe ou resolvendo alguns problemas.
Abriu os olhos se dando conta de que havia cochilado e passou a mão pelo rosto despertando. Terminou de tomar o café e foi até o balcão para pagar por ele e pegar um para Joe, pois sabia que ele estava sem comer. Pegou um pacote de amendoim na máquina e colocou no bolso do casaco, mesmo sabendo que era proibido comer nos quartos.
Joe observava o teto branco sentindo o corpo cansado demais para fazer qualquer movimento. Ouviu a porta se abrir e a imagem de Demi surgir com um copo grande de café e um sorriso meigo no rosto. 


- Hei. – A menina sussurrou colocando o café e o amendoim na mesa. – Trouxe pra você. 


- Obrigado. – Sorriu sincero. – Dem, vai pra casa descansar. – Reclamou, a olhando e sentando no sofá. 


- Não estou com sono. – Mentiu. Joe riu irônico e fez um gesto mostrando as olheiras claras embaixo dos olhos dela. – Estou bem. – Deu de ombros.
Joe se levantou bufando por causa da teimosia da garota e pegou o café que ela havia levado. Agradeceu mentalmente sentindo o líquido quente passar por sua garganta lhe dando uma sensação de tranqüilidade. 


- Come o amendoim, Joe. Você precisa colocar alguma coisa no estômago além do café. – Demi o olhou abraçando os joelhos. O menino rolou os olhos discretamente e abriu o pacote, jogando alguns amendoins dentro da boca e se sentindo enjoado só por isso.
Ouviram uma batida na porta e segundos depois o pai de Demi colocou a cabeça dentro da sala.


- Como ela está? – Perguntou pacifico. 


- A mesma coisa. – Joe sussurrou em resposta. O homem fez um aceno com a cabeça, concordando. 


- Estou aqui fora caso você queira ir pra casa agora. – Falou, olhando diretamente para a filha que apenas sorriu levemente, ainda não acostumada a vê-lo ser tão cordial e calmo desde que sua mãe morrera. 


- Vai pra casa. – Joe sentou ao lado dela quando a porta se fechou. 


- Não quero te deixar aqui. – O olhou séria e o viu sorrir serenamente.
Joe puxou a garota pela cintura e a abraçou com força, sentindo ela passar os braços por seu pescoço e fazer o mesmo. Respirou profundamente sentindo o perfume que exalava dos cabelos dela e soltou o ar lentamente sentindo uma lágrima descer por seu rosto. 


- Vai pra casa. – Ele repetiu soltando-a um pouco e a olhando tão de perto que suas respirações se misturavam e seus narizes roçavam levemente com qualquer movimento. Demi passou o polegar no rosto dele, enxugando a lágrima. 


- Não chore, vai ficar tudo bem. – Sussurrou, acariciando a bochecha do menino e deixando que sua testa encostasse na dele. Ouviu Joe fungar e apertou os dedos no cabelo de sua nuca. Os lábios dele tocaram em sua bochecha com delicadeza e ela percebeu que havia deixado uma lágrima cair. – Eu te amo. – Suspirou, duvidando que ele tivesse ouvido.
Joe segurou a nuca da garota da mesma forma que ela fazia com ele e encostou os lábios nos dela. Sentiu os músculos relaxarem quando a mão dela fez um carinho em sua nuca e, pela primeira vez em três meses, sentiu sua mente se esvaziar de qualquer problema ou preocupação, sua atenção inteiramente voltada para Demi. Partiu o beijo antes mesmo de aprofundá-lo e soltou o ar calmamente. 


- Também te amo. – Sussurrou em resposta.
Demi forçou os músculos do rosto tentando formar um sorriso, mas deduziu que no máximo conseguiria uma careta. Levantou-se do sofá, olhandoJoe apoiar os cotovelos nos joelhos e esconder o rosto nas mãos. 


- Eu volto amanhã. Não chore, por favor. – Pediu. Ele levantou o rosto e sorriu. Sorriu de volta, naturalmente dessa vez, e fechou a porta do quarto sem fazer barulho.

Joe abriu os olhos soltando um suspiro cansado e levou alguns segundos para se acostumar com o breu que dominava o quarto. Ouviu o barulho do soro pingando e começou a contar os pingos, apenas para passar o tempo. Conseguira cochilar por meia hora no começo da madrugada, mas acordara assustado e agora não conseguia mais limpar a mente e descansar. Checou o relógio no pulso com a luz acesa e viu que era um pouco mais de três da madrugada.
Cory se mexeu desconfortável na cama e Joe levantou o tronco tentando enxergá-la. 


- Tá tudo bem, mãe? – Perguntou preocupado. 


- Joe, durma um pouco, meu filho. – Sussurrou cansada. 


- Não estou com sono. – Mentiu. Seu corpo gritava por pelo menos uma hora de descanso, mas ele não se sentia capaz de fechar os olhos e relaxar nem por um minuto. 


- Você passa o dia inteiro aqui, deveria ir pra casa descansar. – Cory protestou, com uma voz que soaria autoritária se não estivesse tão fraca. 


- Não vou te deixar aqui sozinha! – Falou, ofendido. 


- Não estou sozinha, Joe. Os enfermeiros estão sempre aqui. – Ele não respondeu, apenas deitou de lado cruzando os braços.
Com os olhos já acostumados a escuridão, ele observou as formas que os poucos objetos e móveis faziam no escuro. Suspirou fraco e voltou a contar os pingos do soro. 


- Como está Demi? – Sua mãe voltou a atrair sua atenção. 


- Consegui convencê-la a ir pra casa descansar um pouco. Ela tem passado muito tempo aqui no hospital. 


- Ela está faltando a escola? – Cory se preocupou. 


- Não, eu não deixaria ela fazer isso. Ela vem pra cá depois das aulas e só sai de noite, mudou completamente a rotina dela e eu não consigo convencê-la a não vir. 


- Não fique se preocupando tanto, Joe. A Dem não é mais uma criança há muito tempo, nenhum de vocês é. - Comentou calmamente. – Eu preciso te contar uma história.


- Mãe, você precisa dormir. – Joe contestou, sentando no sofá. 


- Ora, eu durmo o dia praticamente inteiro, Joe. É a única coisa que eu tenho feito desde que vim para esse hospital. – Rebateu, fazendo o filho se calar. – Acho que nunca te contei que Emily namorou um primo nosso, contei? 


- Não. – Joe sussurrou em resposta. 


- O nome dele é Joe, ele é um primo de segundo grau. Quando Emily e ele tinham por volta de 16 ou 17 anos, perceberam que estavam apaixonados. Namoraram escondidos por mais de um ano, estavam sempre juntos e eu, é claro, era cúmplice deles. Os ajudava a se encontrarem escondido, inventava desculpas para nossos pais, eu os achava lindos juntos. Nunca tinha visto um amor como aquele. – Parou um pouco respirando fundo. 


- Você não precisa me contar isso agora, mãe. – Joe percebeu a voz cansada dela. 


- Convenhamos, Joe, eu não tenho mais tanto tempo assim pra te contar. – Ela o cortou. O garoto engoliu em seco, sem coragem de contestá-la. – Então depois de um tempo nossos pais descobriram. – Ela continuou. – Foi uma briga horrível lá em casa, a Emily já era maior de idade e o Joe também, eles ameaçaram fugir juntos, alegaram que ninguém podia separá-los. – Suspirou.
Joe foi até a cama e pegou a mão da mãe com cuidado. Os olhos lacrimosos dela o olharam atentamente através da escuridão e ele devolveu o mesmo olhar intenso. 


- Nós acabamos mudando de cidade, não era muito distante de onde vivíamos e não foi suficiente para que os separassem. Mas o tempo foi passando e Emily foi amadurecendo, foi aprendendo com a vida, e acabou se distanciando de Joe. Todo aquele amor lindo foi ficando no passado dela, mas não no dele. Pouco depois de Emily ficar noiva do John, soubemos que Joe havia tentado se matar. – Soluçou baixo, sentindo o filho apertar um pouco sua mão, lhe confortando. 


- Ele ainda está vivo? – Joe conseguiu perguntar, sentindo a voz falhar. 


- Está, não sei bem onde mora agora. Da última vez que tive noticias, ele estava morando no Canadá.
Os dois permaneceram em silêncio por alguns minutos. Joe fixou os olhos em um ponto qualquer da escuridão e se deixou perder em pensamentos, ainda absorvendo a história que a mãe havia acabado de contar. Ele não sabia por que ela havia contado aquilo pra ele, ou talvez soubesse e não quisesse admitir, não fazia sentido pra ele. Aquela história não era em nada parecida com a dele e a de Demi, não era assim que as coisas funcionavam com eles. 


- Amores adolescentes são passageiros, meu amor. – Cory sussurrou interrompendo o silêncio e chamando sua atenção. – Eles são lindos e nos fazem pensar que nunca haverá outro amor como esse em nossas vidas, mas as coisas mudam. 


- Mãe, por que você me contou essa história? – Perguntou com medo da resposta. 

Cory sorriu fraco o olhando e passou o polegar por sua mão num carinho. 

- Eu quero que você me prometa uma coisa. – A mulher sussurrou. Joe concordou com um aceno de cabeça e esperou que ela falasse. – Eu quero que você viva sua vida o máximo que você puder, quero que você se divirta e ame muito. Promete pra mim que você vai ter várias namoradas até achar a garota certa, e que você não vai se prender em nenhum amor adolescente. Não deixe nenhuma mulher tomar conta da sua vida, por mais que você a ame. Promete? – Segurou a mão dele com o máximo de força que pôde e o olhou ansiosa.
Joe respirou fundo sentindo sua garganta se fechar, por que ela estava lhe dizendo tudo aquilo e lhe pedindo aquela promessa? Ele não ia tentar se matar por causa de ninguém, por Deus! 


- E-eu prometo. – Gaguejou, sem conseguir negar aquilo pra ela. 


- Você vai ser muito feliz, meu filho. Eu sei que vai. – Ela deixou uma lágrima cair. – Qualquer mulher que tiver a sorte de ganhar seu coração, precisará agradecer pra sempre por estar com um rapaz como você. – Os dois sorriram fracamente e Joe foi deitar novamente no sofá ainda sentindo sua garganta fechada e o ar que parecia não chegar até seus pulmões.
Fechou os olhos se amaldiçoando por ter prometido aquilo, como ele podia fazer uma promessa já sabendo que ela seria quebrada? Ele prometera algo que não conseguiria cumprir, era algo que fugia do seu controle.
Aos poucos sua mente e seu corpo foram sendo vencidos pela exaustão, tudo que ele precisava era se desligar de tudo a sua volta. Ele queria sua vida de quatro meses antes, como as coisas podiam mudar tanto em tão pouco tempo?


Ela podia sentir a camisa ser molhada pelas lágrimas dele, mas não se importava. Deixou as mãos fortes dele apertarem sua cintura com tanta força que ela sentia que poderia partir a qualquer momento, mas como ela poderia se despedaçar ainda mais? Podia sentir seu coração ficar cada vez mais fraco, a medida que os soluços do garoto ficavam mais altos e impossíveis de controlar. Como se manter tão firme por fora, estando tão despedaçada por dentro?
Seus dedos faziam um carinho calmo no cabelo dele, numa tentativa frustrada de acalmá-lo. Ela já havia passado por aquilo, sabia exatamente como era aquela dor que ia aos poucos tomando conta de todo o corpo até que a pessoa se sentisse praticamente inerte e entorpecida. Encostou a bochecha nos cabelos dele e deixou que algumas lágrimas descessem silenciosas. Como sempre acontecia naquela estranha relação, a dor era compartilhada mesmo que sem querer, como se passasse de um corpo para o outro através da própria pele, como se o coração que batesse e se despedaçasse fosse exatamente o mesmo.
Os médicos saíram da sala e Demi os olhou, sabendo que Joe não conseguiria. Eles se entreolharam e o que parecia ser mais velho soltou um suspiro cansado e frustrado. 


- Nós não conseguimos reanimá-la. Eu sinto muito. – As palavras dele encheram o ar e ela pôde sentir os braços de Joe apertarem ainda mais seu corpo e o choro dele tomar o lugar das palavras e inundar o corredor vazio do hospital.
Os médicos fizeram um aceno breve com a cabeça e se afastaram ao mesmo tempo em que três enfermeiros entravam no quarto. Demi olhou o pai encostado numa parede um pouco distante, observando a cena em silêncio, ele mostrou o celular e indicou o elevador como se avisasse que ia descer para falar com alguém. Ela apenas concordou brevemente, sem se importar muito. 


- Shh, eu to aqui. – Sussurrou, levantando o rosto de Joe e passando os polegares para enxugar as lágrimas que caiam sem parar. – Vai ficar tudo bem, meu anjo. – Encostou a testa na dele e fechou os olhos ouvindo o choro dele se acalmar aos poucos. 


- Isso dói tanto. – Ele choramingou com os olhos apertados. Demi beijou sua testa e suas bochechas calmamente. 


- Eu sei que sim e não tem nada que eu possa dizer para fazer essa dor parar. Mas você é mais forte do que ela, e se precisar eu serei forte por nós dois, como você fez comigo. – Sorriu fraco vendo-o concordar brevemente e enterrar novamente o rosto em seu pescoço.
A porta do quarto novamente se abriu e ela viu os enfermeiros saírem de lá, retirando a cama em que sua tia se encontrava. O corpo estava coberto pelo pano branco e ela fechou os olhos com força tentando se livrar da dor latente em seu peito. Apertou o ombro de Joe chamando a atenção dele e levantou do seu colo, puxando-o pela mão para ajudá-lo a levantar também.
Aproximaram-se da cama, e ele segurou firme na grade branca. Demi apertou seu braço mostrando que estava ali e pegou sua mão, entrelaçando os dedos. Ele tirou o lençol do rosto da mãe e a olhou com atenção gravando sua expressão calma, seus dedos deslizaram pelo rosto dela, sentindo sua pele ainda quente, mas completamente sem vida. A garota ao seu lado soluçou alto e ele a abraçou forte com apenas um braço sentindo-a enterrar o rosto em seu peito. Respirou fundo e se inclinou dando um beijo na testa da mãe e cobrindo novamente seu rosto, olhando brevemente para os enfermeiros e acenando com a cabeça. Eles se afastaram aos poucos enquanto os dois adolescentes permaneciam parados no corredor vazio e silencioso, observando o destino mais uma vez interferir em suas vidas, os unindo ainda mais e lhes dando a certeza de que, o que quer que acontecesse, os sangues venoso e arterial estariam sempre ali pra manter o coração batendo. 



# End of flashback

Demi sentou no sofá cruzando as pernas e respirando fundo. Observou seu sapato preto e começou a balançar o pé num movimento que denunciava todo seu nervosismo. Pegou a bolsa pequena olhando novamente se não tinha se esquecido de pegar nada ao mesmo tempo em que sentia o celular vibrar ali dentro. “Nova mensagem de Joe” piscava na tela. 

“To aqui embaixo, não demora (: xx” 

Leu rapidamente e guardou o aparelho novamente na bolsa, se levantando do sofá e caminhando até a porta do loft com Harte em seu encalço.
- Você fica, meu amor. – Falou sorrindo e fazendo um carinho rápido no focinho do cachorro.
Desceu o elevador se olhando no espelho pela milésima vez e passou a mão pelo cabelo, trazendo-o para frente e o amassando um pouco para dar um efeito ondulado. Quando o elevador parou, hesitou um pouco antes de sair, não sabia se estava realmente preparada para fazer aquilo. Puxou o máximo de ar que pôde e soltou lentamente, ela não podia esconder aquilo de Joe. Não mais.
Abriu a porta do carro e sorriu para o garoto, sentando no banco do carona. 


- Boa noite! – Ele sorriu, inclinando-se para beijar levemente seus lábios. 


- Como foi a reunião? – Perguntou animada, decidindo que era melhor começar com uma conversa neutra. 


- Ótima, tivemos algumas idéias legais de nomes, mas nenhum definitivo ainda. Jason, o produtor, está tão animado quanto a gente em relação à banda. Ele acredita na gente de verdade e tá dando muita força. – Joe sorriu sincero e ela não pôde evitar um sorriso. – Então, quer ir pra algum restaurante especifico? 


- Hm... não. Não tenho nenhum em mente agora, pode ir pra qualquer um que você gostar. – Deu de ombros vagamente. Ele concordou com um aceno e aumentou um pouco o som do carro que tocava uma música animada.
Joe parou o carro em frente a um restaurante que Demi não reconheceu e soltou, entregando a chave para um manobrista antes de abrir a porta para a garota e sorrir galante. 


- Já disse que você está incrivelmente linda com essa roupa? – Perguntou enquanto caminhavam até a porta de vidro do restaurante. 


- Já disse que você é incrivelmente lindo com qualquer roupa e sem elas também? – Rebateu, arrancando uma gargalhada do menino.
Entraram no restaurante, sendo recebidos por um maître de terno e gravata que os levou até uma mesa perto da varanda, e se sentaram observando a vista agradável. Demi pegou o cardápio que o garçom lhe entregou e folheou calmamente, se sentindo repentinamente sem fome. Olhou o garoto em sua frente e viu que ele olhava atentamente a carta de vinhos, deixou que um suspiro baixo escapasse e voltou sua atenção para o cardápio. 


- Dem? – A voz de Joe despertou sua atenção e ela o olhou, vendo a feição preocupada no rosto dele. – Você tá se sentindo bem? Te chamei três vezes. 


- Desculpe. – Sussurrou fechando o cardápio. – Estava distraída com as descrições dos pratos. – Mentiu. 


- Já escolheu? – Perguntou pegando um dos vários pães que estavam na cesta de couver. Demi xingou mentalmente, tentando se lembrar de algum nome que vira no cardápio, mas estivera distraída demais. 


- Ahn... tem um Penne que me parece bom, mas eu esqueci o nome. – Respondeu pegando novamente o cardápio. – Esse aqui. – Mostrou o nome pra Joe e viu ele sorrir concordando.
Os minutos iam passando sem que Demi percebesse, sua cabeça estava confusa e sua mente cheia demais para que ela notasse o tempo passar.Joe conversava sobre assuntos que iam desde a reunião até uma possível festa que ele e os garotos da banda estavam combinando, ela apenas sorria e concordava algumas vezes para demonstrar que estava ouvindo. Lembrou do que Freddie dissera mais cedo e sentiu uma tontura repentina que a fez fechar os olhos com força. 


- Dem?! – Joe perguntou preocupado, segurando sua mão que estava em cima da mesa. – O que aconteceu? Você não tá se sentindo bem? Quer ir pra casa? – As perguntas dele a confundia ainda mais. Fez uma careta e levantou a mão para que ele parasse de falar.


- Tá tudo bem, foi uma tontura rápida. – Se levantou, vendo-o fazer o mesmo. – Eu só vou até o banheiro, Joe. 


- Eu vou com... 


- Não. – Respondeu séria, sentindo o peito doer por estar fazendo aquilo. – Não precisa, amor. Eu vou rápido e volto. Tá tudo bem. – Seu tom de voz ficou mais doce. Joe acenou sentando novamente e ela caminhou até o banheiro sentindo a respiração ficar mais pesada.
Passou um lenço úmido pelo rosto tentando se manter calma e se olhou no espelho, fechando os olhos por alguns segundos e inspirando uma grande quantidade de ar. Dez segundos foram o suficiente para que ela se convencesse de que não podia mais adiar aquela conversa, o que ela estava fazendo com o Joe? Por Deus, ele precisava saber.
Saiu do banheiro a passos largos e sorriu para o garçom que tirava os pratos da mesa, antes de sentar-se e encarar a feição ainda preocupada deJoe. 


- Está se sentindo melhor? – Perguntou segurando a mão dela e a acariciando com o polegar. 


- Está tudo bem, não se preocupe com isso. – Tentou sorrir. Joe a olhou desconfiado. 


- O que você fez hoje à tarde? – Perguntou a assustando, essa não era a melhor forma de começar aquela conversa. Abriu a boca algumas vezes sem conseguir encontrar uma forma de dizer aquilo para que Joe não interpretasse errado. 


- Eu saí com o Freddie. – Disse por fim. 


- Com quem? – Ele falou um pouco alto, atraindo a atenção de algumas pessoas. 


- Não, Joe... não é nada disso. 


- Você saiu com o Freddie? – Ele a interrompeu. – E você me fala isso assim? O que aquele cara te fez? Ele te obrigou a sair com ele? Porque se ele te obrigou, eu... 


- Ele não me obrigou a nada, Joe. – Demi cortou sua fala, fazendo o garoto a olhar sem entender.



 – Eu liguei pra ele, eu pedi pra sair com ele, eu marquei o encontro. – Suspirou. Foi a vez de Joe abrir a boca sem saber o que dizer, ela tinha marcado um encontro com Freddie? – Eu precisava de alguém para conversar, entende? – Sua voz implorou. 

- Você tem a mim pra conversar, Demi, não precisa marcar encontros com o Freddie pra isso. – Sua voz ríspida fez a garota se encolher um pouco. 


- Mas eu não queria conversar com você! – Soltou sem medir as palavras. Joe a encarou, magoado. 


- Com licença, vocês desejam alguma sobremesa? – O garçom interrompeu a conversa. 


- Não, pode trazer a conta, por favor. – O garoto amenizou o tom de voz.
Demi se encolheu na cadeira entrelaçando os próprios dedos e os apertando com força, não era aquela conversa que ela queria ter com Joe. Freddie não era importante naquele momento, poderia ter mentido e simplesmente dito que ficou em casa, teria sido tão mais prático. Olhou o garoto a sua frente e sentiu vontade de chorar ao ver sua feição dura e magoada. 


- Joe. – Chamou baixo. Ele continuou olhando firmemente para o lado de fora do restaurante. Mordeu o próprio lábio e engoliu em seco sabendo que ele estava muito chateado, ou então não a ignoraria. Não era a primeira vez que ele ficava tão irritado que preferia se manter em silêncio, ela sabia que quando isso acontecia era porque havia feito algo muito errado e ele a ignorava para evitar uma briga.
O silêncio fúnebre foi mantido até os dois chegarem em casa. Joe não olhou para a garota nem uma vez desde que saíram do restaurante, sua mente trabalhava tentando entender os motivos para Demi ter marcado um encontro com Freddie, mas ele não conseguia pensar em nenhum. Nada parecia suficiente para ela dizer que não queria conversar com ele, por que logo com Freddie?
Demi sentou no sofá, ouvindo os passos de Joe no quarto e escondeu o rosto entre as mãos, o que estava acontecendo com ela? Não podia ser tão fraca, não podia fazer aquilo com Joe. Fungou alto sem deixar que nenhuma lágrima caísse e subiu as escadas rapidamente, encontrando o garoto deitado na cama usando uma boxer escura e a blusa branca e lisa que ele geralmente usava pra dormir. Abriu uma das gavetas do armário e procurou pelo envelope embaixo de algumas roupas, quando o encontrou, respirou fundo caminhando até a cama e sentando na beirada.
Joe abriu os olhos e encarou a garota que o olhava com os olhos cheios de lágrimas, aquilo acabava com ele. Ela colocou um envelope pardo em cima da cama, próximo a ele e permaneceu em silêncio o encarando. Sentou-se na cama e pegou o envelope, tirando a carta que havia ali dentro e reparando que era do curso de Design. Deu uma ultima olhada em Demi antes de ler e viu que ela não havia conseguido prender as lágrimas que escorriam livremente por sua bochecha.
Seus olhos percorreram atentamente a carta e ele chegou a esboçar um sorriso quando viu que ela havia sido aprovada, um pouco mais embaixo estava o comunicado que fez seu coração diminuir a pulsação até que Joe duvidasse que ele ainda estivesse pulsando. 


- Me desculpe por ter dito que não queria conversar com você. – Demi soluçou, passando a mão pelo rosto. – Eu não sabia o que fazer, não sabia como te dizer isso. 

Joe releu novamente o final da carta, seus olhos se mantendo nas palavras “bolsa de estudos” e “Japão” sem conseguir encontrar uma conexão entre elas, aquilo não fazia o menor sentido pra ele. Por que não “bolsa de estudos” e “Inglaterra”? Aquilo soava certo aos seus ouvidos. 

- Eu ainda não decidi. – A garota voltou a falar, mas Joe estava absorto demais em seus próprios pensamentos, a voz dela era apenas um sussurro baixo que se confundia com as milhares de vozes que gritavam em sua mente. 


“É claro que ela vai pro Japão, você não pode prender a garota e a impedir de seguir o próprio sonho.”
“Você não pode deixar que ela vá, não a garota que você esperou por tantos anos. Ela é sua!”
“Ela não pertence a você, era uma questão de tempo e você sabia disso. Não seja tolo.”
“Não deixe ela ir, basta pedir e você sabe que ela desistirá.”
“É a vida dela, o sonho dela. Não seja tão egoísta!”
 


- Joe? – Demi perguntou preocupada e ele a olhou, finalmente conseguindo fazer as vozes se calarem. A olhou ainda desnorteado e viu o rosto dela vermelho e molhado com as lágrimas que ainda caíam, a carta ainda estava em sua mão, quase amassada pela força que ele fazia.
Soltou o papel na cama e puxou a garota pelo braço para que ela sentasse em seu colo. Sentiu ela afundar o rosto em seu pescoço e as lágrimas molharem sua camisa e sua pele, fazendo com que a dor dela o perfurasse. 


- Você não precisa resolver isso agora. – Sussurrou, acariciando os cabelos dela. 


- Eu preciso dar a resposta, Joe. Só me restam quatro dias. – Demi soluçou. – Eu recebi essa carta há onze dias e fui covarde demais pra te mostrar. 


- Sh, você não foi covarde, não diga isso. E me desculpe por ter surtado quando falou sobre Freddie, fico feliz que você tenha alguém com quem conversar. 


- Eu tenho você. – Sussurrou com a voz fraca. 


- Você sempre vai ter a mim, não se preocupe com isso. – Beijou seu ouvido e a abraçou com mais força desejando poder ter a certeza que tivera anos antes, de que o destino nunca conseguiria tirá-la dele.

“Se você ama uma pessoa, liberte-a. Se ela voltar, é porque é sua; se não, é porque nunca foi.”



Continua... 

5 comentários:

  1. Primeeeeira! o/
    Queria que o Joe pelo menos fosse com ela :/
    Não sei de nada, estou confusa!!!

    Posta logo! ;*

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  2. CHORANDO AKI FEITO UM BEBE QUE SE PERDEU DA MAE

    PQQQQQQQ???????????????????
    :'(
    #XATIADA
    tá perfeito ~enxugando as lágrimas~
    Posta logo :)

    xoxo

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  3. POSTA LOGO POR FAVOR TO SUPER CURIOSA E SUPER TRISTE :( MAA MESMO ASSIM POSTA LOGO.

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  4. NOSSA , PROFUNDO !

    NEM TENHO PALAVRAS ... TRISTE , FELIZ , CONFUSA ... NÃO DÁ PRA DIZER O QUE ESTOU SENTINDO ...

    QUERIA QUE ELA FICASSE COM O JOE , MAS É IMPORTANTE PRA ELA ... UMA DECISÃO DIFICIL ... MAS É O QUE ELE DISSE .. SE ELA AMA ELE , ELA VAI VOLTAR !

    POSSSSSSTA LOGOOO

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  5. Perfeita ! essa é a palavra que descreve essa fic !
    Não tenho mais nada a declarar !
    rsrs' porfavor posta Logo !

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