quinta-feira, 26 de julho de 2012

Capítulo 22

Joe caminhou pela sala da casa de Kevin, suas mãos suavam dentro do bolso e ele tinha a impressão de que poderia vomitar a qualquer momento. Já havia feito círculos por toda a casa, caminhado pelo jardim, sentado na escada, nada parecia aliviar seu nervosismo.
Sentou no sofá, tentando encontrar uma maneira de ficar confortável, mas nenhuma posição lhe parecia agradável.
Os passos de Kevin na escada fizeram com que ele se levantasse num pulo.


- Vamos? – O amigo lhe deu alguns tapinhas no braço.
Concordou, apenas mexendo a cabeça, sentindo-se incapaz de dizer qualquer coisa.
Kevin cantarolava baixinho, aparentando tanta calma que fazia com que Joe ficasse ainda mais nervoso. Observou o amigo, tão confiante e relaxado, e sentiu inveja. A tensão estava o matando.


- Você parece muito nervoso. – Kevin comentou, observando as mãos inquietas do amigo.


- E você parece muito calmo. – Replicou.
Kevin deu uma risada nasalada, mexendo a cabeça negativamente.


- Esse é o segredo. Eu apenas pareço calmo, por dentro devo estar que nem você. – Joe o observou por alguns segundos, desejando poder imitá-lo. – Eles não já disseram que vão assinar? Se aparentarmos muito nervosismo vão começar a duvidar da nossa capacidade. Somos bons, cara. – Tocou o braço de Joe com o punho fechado.


- Não acredito que convencemos um produtor a nos contratar. – Riu, incrédulo. – Dois meses atrás éramos só uma bandinha de garagem com esperanças demais pra pouca oportunidade.


- E agora estamos indo assinar um contrato com uma gravadora. – Kevin completou.
Os dois se olharam e sorriram, ainda tentando processar como tudo aquilo havia acontecido em tão pouco tempo.

- Cara, minha mão tá suando. – Chris comentou, passando as palmas das mãos pela calça jeans, tentando secá-las sem sucesso.


- Fica calmo, cara. Vai dar tudo certo.


- O Joe tá quase verde. – Nick riu, apontando para o amigo.
Joe respondeu lhe mostrando o dedo do meio e escondendo o rosto nas mãos. Se ele não se acalmasse ia acabar vomitando ali mesmo.


- Alguém pensou em um nome pra banda? – Kevin olhou os amigos negarem. – Eles vão perguntar e nós vamos ficar sem resposta. De novo.


- Podia ser, hm... Skywalker. – Chris sorriu.

Nick fez careta, Kevin negou e Joe riu. 

- Certo. Nada de Skywalker. – Conformou-se.


- Nem Jedi, Yoda, ou qualquer coisa relacionada à Stars Wars. – Nick comentou, já sabendo o que passava na cabeça do amigo. – E nem Star Trek!



- Droga! – Reclamou.
Ouviram uma batida na porta e viraram-se ao mesmo tempo, já sabendo quem era.


- Olá, rapazes. Podem me acompanhar. – Mark, o provável empresário da banda apontou para um corredor longo e seguiu na frente dos garotos. – Agora vocês vão entrar em uma pequena reunião com o produtor e alguns executivos da gravadora. Nada demais, mas eles querem bater um papo sério com vocês e ver se vocês realmente têm futuro.
Os quatro amigos se entreolharam, demonstrando todo o nervosismo pelo olhar. Suas mentes trabalhavam rápido, tentando se conformar de que aquilo tudo estava realmente acontecendo, de que existia uma chance real da banda dar certo e gravar um cd.


- Prontos? – Mark os olhou, tentando lhes passar confiança. – Vai dar tudo certo. – Sorriu.
Após dar três batidas na porta, entrou, fazendo uma rápida apresentação dos garotos e pedindo para que eles se sentassem.

Joe foi o ultimo a assinar o contrato, sua mão tremia tanto que ele estava com medo de deixar a caneta cair ou desmaiar em cima do papel. Sua assinatura lhe pareceu estranha, mas fez o melhor que pôde para controlar o nervosismo. Quando Richard, o produtor, sorriu para ele, pegando o contrato de sua mão, uma voz conhecida em sua cabeça ecoou, assustando-o.
Kevin deu um tapinha nas costas do amigo, trazendo-o novamente para a realidade.
- Tá pensando no quê?


- Pra ser honesto, nada. – Sorriu.


- Bem vindos à Extreme Records, garotos. – Richard os olhou. – Quero que vocês voltem daqui a duas semanas com uma lista de possíveis músicas para o álbum. Quinze delas pelo menos. Já dei uma lida em algumas composições de vocês e gostei do que vi, espero que tenha mais de onde aquelas vieram. – Guardou o contrato da maleta e fez um gesto com a mão, indicando que a reunião estava encerrada. – Vejo vocês em duas semanas. Até lá. – Fechou a porta, deixando os quatro sentados, ainda sem saber direito o que fazer.


- Quinze? Sério? – Nick olhou os amigos. – Temos uma seis ou sete. Como vamos escrever mais oito em duas semanas?


- Vamos dar um jeito. – Kevin deu de ombros.


- Somos contratados agora. Richard confia na gente. – Chris se levantou e deu um tapinha no ombro de cada um dos amigos. – Vamos voltar em duas semanas com vinte músicas, vamos ganhar ainda mais a confiança de Richard e vamos gravar o álbum. – Disse, confiante.


- E depois vamos dominar o mundo. – Kevin debochou, recebendo um olhar feio de Chris. – Certo, vamos logo porque essas músicas não vão cair do céu.

- Tchau, cara. A gente se vê amanhã. – Kevin deu um abraço rápido em Joe e entrou em casa.
Joe caminhou pela rua vazia e gélida, suas mãos estavam bem protegidas dentro do bolso do moletom, mas podia sentir suas orelhas começarem a pedir por socorro. Resolveu apressar-se já que o carro não estava estacionado muito longe dali. Resolvera ir com Kevin para a gravadora apenas por medo de se perder e chegar atrasado.
Entrou no carro e ligou o aquecedor com pressa. Ficou alguns instantes com o carro desligado, apenas aproveitando a temperatura alta. Algumas memórias familiares invadiram sua mente e quase foi capaz de sentir o perfume que sempre era deixado no carro depois de Demi entrar nele.


- Droga! – Resmungou, ligando o carro e dirigindo apressado pelas ruas.
Fora a voz dela que ele ouvira enquanto assinava o contrato. A voz dela que ainda era presença constante em seus sonhos e em sua mente, mesmo que estivessem há semanas sem se falar.
Dirigiu sem saber direito para onde estava indo, resolvera apenas seguir seus instintos e não parou até entrar em uma vizinhança conhecida.
Desceu do carro e caminhou pela rua de casas parecidas e jardins bem cuidados. Uma casa azul clara chamou sua atenção, ela parecia vazia, mas pelo estado conservado alguém com certeza ainda morava ali.


“Espera, Joe, assim eu nunca vou te alcançar”
“Se eu beijasse você, não ia ser nojento?”
“Não sei, quer tentar?”
“Joe, seu idiota! Vai pagar caro”
“Você não vai conseguir acertar em mim!”
“Tô te passando calor humano, Demi!”
“Eu fui horrível, não fui?”
“Promete que você não vai me deixar nunca não importa o que aconteça? Mesmo se eu estiver, sei lá... no Japão e você estiver nos Estados Unidos.”


- Sai da frente! – Uma voz infantil o acordou, fazendo com que ele pulasse para fora do passeio poucos segundos antes de duas crianças passarem correndo de patins.
Agora ele sabia por que tinha ido até lá, sabia que casa era aquela que atraíra sua atenção, havia lembranças demais ali.
Observou mais uma vez sua antiga casa e caminhou pela rua, contando o número de casas que separavam a dele da de Demi. Antigamente, quando era bem mais novo, achava aquelas casas todas muito parecidas e decidira contar a distância de sua casa para a de Demi para nunca se perder ou entrar na casa errada.
A antiga casa de Demi, diferente da sua, estava bastante movimentada. Algumas crianças brincavam no jardim e ele podia ouvir vozes animadas dentro da sala.
Um casal de crianças brincava animado quando a garota, visivelmente mais nova que o menino, machucou a mão e deixou que algumas lágrimas caíssem. Antes que ela pudesse correr em busca da mãe, o garoto pegou a mão dela na sua e beijou o machucado, fazendo a menina sorrir.
“Eu não ia pedir pra você tentar se soubesse que vai te machucar.”
Joe fechou os olhos por alguns segundos e fechou os punhos, sentindo a unha curta machucar a pele. Por que havia ido até lá? Aquelas lembranças não o estavam fazendo nada bem.
Virou de costas para as crianças e saiu correndo em direção ao carro, aquilo tudo era demais para ele.
Pegou o celular e discou o número já tão conhecido. Pensou alguns segundos antes de fazer aquilo, mas, quando deu por si, já estava apertando o aparelho contra a orelha e desejando ouvir aquela voz novamente.



# Flashback (3 anos antes)

As vozes no andar debaixo pareciam aumentar a cada minuto que passava. As vozes masculinas se misturavam entre gritos e risadas, e fazia com que a garota se encolhesse cada vez mais na cama. A chuva forte batia na janela e o frio estava se tornando insuportável.
Demi olhou o relógio na cômoda que marcava pouco mais de onze da noite e desejou poder fugir dali. Deixar aquela casa pra sempre. Estava cansada de seu pai, dos amigos dele, das palavras que a feriam como facas em suas entranhas. Ela precisava ir embora, aquela vida não era pra ela.


- Por que você foi embora, mãe? – Sussurrou.
Se ela ao menos tivesse um celular poderia ligar para alguém. Mas a quem ela queria enganar? Só havia uma pessoa a quem ela podia recorrer.
Fungou alto, engolindo o choro e apertando os olhos para tentar afastar as lágrimas, estava cansada de chorar pelo mesmo motivo. Sempre pensou que os pais existiam para proteger os filhos, para fazê-los se sentirem amados, para dar carinho. Nenhum pai tem o direito de machucar a própria filha. Havia aprendido sozinha que a dor emocional era muito pior que a dor física.
Ouviu passos no corredor e fechou os olhos com força, respirando calmamente. A luz de fora invadiu seu quarto e pôde sentir alguém observá-la por alguns instantes antes da porta ser fechada sem cuidado.


- Ela já está dormindo. – Ouviu a voz de seu pai se afastar.
Se ele veio checar agora, pensou, não vai checar de novo. É minha chance.
Levantou-se com cuidado para não fazer barulho e trocou de roupa rapidamente.
Colocou o enorme moletom por cima da blusa de manga comprida e uma calça jeans velha. Não se preocupou em amarrar a bota preta ou em prender o cabelo, apenas pegou o guarda-chuva e desceu cuidadosamente pela janela. Agachou-se para passar pela janela da sala e, quando chegou à calçada, correu até sentir suas pernas implorarem por descanso.
Olhou para os lados, tentando se localizar e percebeu que estava perto de uma linha de metrô. Antes que pudesse dar cinco passos, uma rajada de vento fez com que seu guarda-chuva entortasse e voasse para longe. Xingou alto, voltando a correr, mesmo sentindo que suas pernas poderiam ceder a qualquer momento.
Quando finalmente chegou à plataforma do metrô, tirou o capuz e espremeu um pouco o cabelo, na tentativa de secá-lo o máximo que podia. O frio estava congelando seus ossos e ela estava encharcada dos pés à cabeça.
Comprou o ticket e esperou alguns instantes antes de entrar em uma das carruagens. Algumas pessoas a olharam torto por estar molhada e uma senhora chegou a se afastar quando ela sentou ao seu lado. Preferiu baixar os olhos para o chão e esperar que aquela viagem fosse rápida.

Saiu da plataforma percebendo que a chuva havia ficado mais fraca e agradeceu mentalmente. Seu estado já estava acabado demais para mais chuva.
Caminhou apressada pelas ruas escuras e vazias, começando a se arrepender de não ter pegado dinheiro suficiente para um táxi. Nunca havia sentido tanto medo por estar sozinha, se algo acontecesse, como iria pedir por socorro?
Avistou o prédio já conhecido e apressou o passo, tocando a campanhia do loft e rezando para que Joe estivesse lá. Não poderia voltar pra casa, se seu pai percebesse que ela havia saído escondida... Preferia nem imaginar o que aconteceria.


- Vamos, Joe, atende. – Buzinou mais algumas vezes, sentindo toda a esperança se esvair.
Ouviu o portão se abrir e uma senhora sair de dentro do prédio, sorrindo ao vê-la.


- Olá. – Cumprimentou.
Demi sorriu, sem saber direito o que fazer. Pelo menos ela não havia saído correndo, achando que iria ser assaltada ou algo do tipo.


- Você quer entrar? Já te vi por aqui. Amiga do Joe, certo?


- É. Prima, na verdade. – Um sorriso de alivio surgiu em seu rosto.


- Entra. – Abriu a porta para que Demi passasse e a observou. – Não vai subir?


- Er... O Joe não está aí. Ou não está atendendo o interfone. – Deu de ombros. – Sei onde ele guarda a chave de emergência, mas não sei se devo.


- Minha querida, pelo que eu percebi, vocês dois são muito próximos. Tenho certeza que ele não vai se importar.
Demi concordou e agradeceu antes de subir o elevador, aliviada, mas ainda nervosa pela ausência de Joe.
Pegou a chave que ele guardava escondida na planta do corredor e abriu a porta do loft, sentindo-se finalmente segura.
Tirou as botas pesadas e as colocou no canto. O moletom molhado a estava incomodando, assim como todo o resto da roupa. Subiu para o quarto e pegou um moletom preto de Joe, entrando no banheiro em seguida.
Saiu de lá quinze minutos depois, já com a roupa e o cabelo seco. Agradeceu por Joe guardar um secador na gaveta, mesmo que pensasse que ninguém sabia daquilo.
Caminhou pelo loft escuro, observando os pequenos amontoados de bagunça que Joe deixava espalhado em todos os cantos. A cama ainda estava desarrumada e a toalha jogada em cima dos lençóis. Tocou o travesseiro, sentindo o perfume dele lhe invadir de imediato. O armário estava com uma das portas abertas, revelando um monte de roupas entulhadas e jogadas de qualquer forma.
Desceu as escadas e viu um pote de cereais esquecido ao lado do sofá. Sorriu sozinha. Era incrível como ele podia ser o oposto dela e ao mesmo tempo parecer tão igual. Controlou a vontade de arrumar tudo. Aquela era a bagunça dele, não queria invadir sua privacidade.
Deitou no sofá e abraçou uma das almofadas. A escuridão e o silêncio a fizeram cair em inconsciência antes que ela pudesse pensar em qualquer coisa.

Joe fechou a porta do loft e tirou o moletom, agradecendo por finalmente estar em algum lugar quente e aconchegante. Ia jogá-lo no sofá quando viu que havia um corpo deitado nele. Deu um passo pra trás antes de reconhecer aqueles cabelos espalhados pela almofada e aquelas pernas desnudas com as quais já havia sonhado tantas vezes.


- Dem? – Chamou baixo.
Sentou na ponta do sofá e a observou respirar calma e pausadamente. Imaginou o que havia acontecido para ela ter ido parar no loft e como havia conseguido entrar no prédio. Procurou por algum vestígio de agressão, já pensando nas diversas maneiras de destruir a cara do pai da garota. Respirou aliviado ao perceber que não havia hematomas, pelo menos não nas partes descobertas do corpo dela.
Sua mão foi de encontro ao rosto de Demi e seu polegar fez um carinho leve na bochecha quente dela. Não queria acordá-la, mas estava preocupado e queria saber o que havia acontecido. Continuou com o carinho até ela resmungar algo e despertar aos poucos.


- Oi. – Sussurrou, quando os olhos dela encontraram os seus.


- Oi. – Demi sorriu, ainda sonolenta.


- Aconteceu alguma coisa? – Ela se sentou no sofá e ficou próxima a ele.
Joe procurou em seu rosto sinais de medo, mas a única coisa que percebeu foi sua feição de alívio. 


- Desculpe pela invasão. – Mordeu o lábio inferior, demonstrando seu constrangimento. – Não aconteceu nada, não se preocupe. – A mão dela alisou sua testa carinhosamente, fazendo com que sua expressão se acalmasse. – Fugi de casa, meu pai e os amigos dele estavam bebendo e jogando. Estavam sendo os babacas de sempre. – Deu de ombros.


- Por que não me ligou?


- Ele pegou meu celular. – Joe balançou a cabeça, indignado. Aquele miserável iria pagar por tudo que estava fazendo com a filha. – Ei. – Demi segurou seu rosto. – Tá tudo bem agora.


- Ele não pode fazer isso com você, Demi!


- Joe, fica calmo, por favor. – A menina pediu, segurando o rosto dele com as duas mãos e trazendo-o para perto do seu. – Eu tô aqui agora. Ele não fez nada comigo, ele só está sendo o canalha de sempre. Esquece isso, por favor.
Aos poucos a expressão no rosto de Joe foi se acalmando e sua respiração voltando ao normal. Deixaria para pensar em alguma forma de matar o pai dela outro dia. Aquilo tinha que parar, nenhum pai pode maltratar uma filha dessa forma.


- Você ta aqui há muito tempo? – Perguntou, vendo a menina sorrir e negar, olhando para o relógio.


- Acho que deve ter uma hora. Eu apaguei assim que deitei no sofá.
Joe segurou as mãos dela e beijou cada um de seus dedos com ternura. O sorriso no rosto dela era calmo e seus olhos estavam atentos a cada movimento seu. Sentia-se bem por saber que ela estava segura ali, se pudesse a manteria ali em segredo até que completasse dezoito anos e pudesse sair de casa.
Seus lábios encontraram os dela por breves segundos e depois foram de encontro a sua bochecha macia e quente.


- Fico feliz que esteja aqui. Sinto sua falta.


- Também sinto sua falta. – Demi o abraçou apertado. – Agora vai tomar banho e dormir, você deve estar cansado.


- Dorme bem. – Joe sorriu, fazendo um carinho na nuca da garota. Ela sorriu, com a boca e com os olhos, desejando-lhe boa noite.



# End of flashback

Demi observou o cardápio, tentando controlar a gula e não pedir todas aquelas coisas gostosas. Ainda eram oito da manhã e não estava assim tão faminta. Acabou optando por um capuccino diet e um muffin salgado. Chamou a garçonete e fez o pedido, esperando que Makedde não demorasse muito ou iria comer sozinha.
Observou as pessoas ao redor e reparou que se tivesse chegado um pouco mais tarde, não iria encontrar nenhuma mesa vazia. Será que ninguém no Japão tomava café da manhã em casa?
Viu Mak entrar afobada pela porta e levantou um dos braços para chamar sua atenção.


- Bom dia. Desculpe pelo atraso. – Sentou, colocando a bolsa na cadeira ao seu lado e sorrindo para a amiga. – Que bom que você chegou antes, ahn? Esse lugar está lotado!


- Pensei nisso agora a pouco. 


- Já pediu? – Mak perguntou vendo a amiga assentir. – Vaca, nem me esperou.


- Desculpe, achei que você fosse demorar um pouco mais.
Makedde chamou a garçonete e pediu um Caffe Latte e dois cookies com gotas de chocolate, fazendo Demi se perguntar como diabos ela conseguia ser tão magra. Conhecia Makedde há pouco mais de cinco meses e ela sempre parecia carregar algumas barrinhas de chocolate na bolsa. Se comesse aquele tanto de doces já teria engordado pelo menos cinco quilos.
Viu que a amiga a observava com um sorriso estranho no rosto e franziu a testa.


- Que foi?
Makedde suspirou, como se juntasse coragem para falar.


- Você falou de novo. – Disse simplesmente.
Demi a olhou sem entender. O que ela havia falado de novo?


- Essa noite, enquanto dormia. – Explicou. – Você falou o nome dele.
Demi sorriu sem graça. No último mês havia criado a estranha e incomoda mania de chamar por Joe enquanto dormia. Não sabia o motivo e não lembrava de ter Joe habitando seus sonhos, mas Mak a alertara depois da segunda noite seguida. Conseguira passar a última semana sem que isso acontecesse, mas parecia que a mania estava de volta.


- Você pediu pra ele não te deixar. – Makedde completou.
Antes que Demi pudesse responder, a garçonete voltou com os pedidos e os serviu. As duas sorriram em agradecimento e deixaram que o silêncio predominasse na mesa enquanto comiam.
A mente de Demi trabalhava a mil por hora, tentando encontrar alguma razão para que sua maldita falação houvesse voltado. Por mais que tentasse, não conseguia lembrar-se com o que sonhara, não podia saber se fora com Joe ou não.
Olhou o celular para ver se havia alguma nova mensagem ou talvez uma chamada perdida, mas não encontrou nada novo. Exceto o fato de não falar com Joe há quase um mês, não havia motivo para que tudo aquilo estivesse acontecendo novamente. Quanto mais pensava no assunto, mais se conformava de que precisava falar com Joe, mesmo que fosse apenas por um minuto, apenas para ouvir sua voz e espantar aquela sensação de que estava o perdendo para a distância.
Depois de passarem no caixa para pagar, seguiram apressadas para o metrô ou chegariam atrasadas na aula.


- Tem uma festa amanhã naquele clube perto do centro. – Mak finalmente quebrou silêncio. – Quer ir?


- De quem é a festa?


- Não sei. – Deu de ombros, fazendo a amiga rir. – Alguém do curso. Quer ir?


- Hm, acho que sim. Não sei. – Hesitou.


- Vamos. Você não tem nada melhor pra fazer que eu sei. Fora que vai te ajudar a esquecer um pouco os problemas. – Demi sabia exatamente a qual problema ela se referia.


- Tudo bem, mas nada de voltar pra casa cinco da manhã. – Lembrou da última festa que Makedde havia ido.


- No máximo três. Prometo. – Cruzou os dedos indicadores e os beijou, fazendo uma cara infantil.
Demi sorriu achando graça no jeito da amiga. Apesar de medir quase um e oitenta e ter um rosto de mulher madura, Makedde podia ser tão infantil quando queria.

Entrou no apartamento jogando a bolsa no sofá e largando o corpo cansado na poltrona em frente a televisão. Makedde entrou logo em seguida e fechou a porta, imitando a amiga e se jogando no sofá. Tiveram que correr da chuva que começara a cair quando estavam a menos de trinta metros do flat.
- Morri. – Mak comentou com a voz cansada. – Preciso voltar a me exercitar.


- Academia já! – Demi apoiou.


- A luz de recados tá piscando.


- Tô com preguiça de estender o braço e ouvir a mensagem. – Olhou Makedde e percebeu que ela estava ainda mais longe do telefone e de forma alguma iria se levantar para checar os recados. Bufou, se levantando preguiçosamente e apertando o botão vermelho.


“Oi. Hm, sou eu. – pausa – Joe.”
Demi viu Makedde se sentar no sofá e a olhar. Não disse nada, apenas ouviu o resto da mensagem.


“Eu, er... Faz tempo que a gente não se fala. Acho que você não tá em casa agora, não tenho certeza. – outra pausa – Só queria saber como andam as coisas. Passei pela nossa antiga rua e lembrei dos velhos tempos. E bom, eu e os caras fomos contratados por uma gravadora. Somos uma banda séria agora. – riu. – Acho que daqui a pouco a secretária vai me cortar. Queria ouvir sua voz, às vezes tenho a impressão de que esqueci como ela é. – mais uma pausa, dessa vez ainda mais longa. – Certo, era isso. Fica bem.”


Demi e Makedde permaneceram em silêncio, ainda encarando o telefone sem saber o que dizer.
Antes que conseguisse formar alguma frase que fizesse sentido, Demi apertou o botão vermelho novamente e a mensagem se repetiu.
Uma.
Duas.
Três vezes.


- Vem aqui. – Makedde segurou os ombros da amiga e a sentou no sofá. – Se eu ouvir essa mensagem mais uma vez acho que vou enlouquecer.


- Fica bem? – Repetiu, com a voz fraca quase falhando.


- Hm, foi o que ele disse. – Mak sentou-se ao lado dela e segurou seu braço.


- Fica bem? – Repetiu, dessa vez com a voz firme e alta. – Ele não dá noticia durante quase um mês e agora me manda ficar bem?


- Dem, sem querer defender ninguém... Você também tem o telefone dele. – As duas se entreolharam. – Quer dizer, você também poderia ter ligado.

Droga. Demi odiava a sinceridade de Makedde. Ela podia ter lhe poupado dessa vez.

- Liga pra ele. – Demi observou a amiga pegar o telefone e colocá-lo em sua mão. – Estarei lá no quarto se precisar de mim. – Sorriu sincera.

10 minutos depois **

Demi passou os dedos pelas teclas pelo que parecia a milésima vez. Sabia de cor o número que precisava discar para falar com Joe, mas cada vez que pensava no que falar, as palavras sumiam e sua mente esvaziava.
O que estava acontecendo com ela?
O que havia acontecido com eles?

25 minutos depois **

Discou o número, reunindo toda a coragem que pôde, mas não conseguiu apertar a única tecla que faltava. O Talk destacado das outras teclas parecia chamar sua atenção mais do que qualquer outra. Ela só precisava apertá-lo. Bastava aquilo para que o telefone do loft tocasse e Joe atendesse.
Off.

30 minutos depois **

- Alô? – A voz sonolenta de Joe atendeu no quarto toque.
Ele estava dormindo.


- Alô? – Repetiu.


Demi abriu a boca na intenção de falar oi, mas nenhum som foi emitido. A respiração dele era ruidosa e ela desejou poder tê-la perto do seu ouvido, sem países de distância entre eles.
Joe resmungou algo incompreensível e ela percebeu que teria que falar alguma coisa.
- Oi. – Falou, o mais alto e claro que pôde, mas pareceu baixo até para si mesma.


- Dem? 


- Isso. – Sorriu. – Desculpe por te acordar, não prestei muita atenção ao horário.


- Não tem problema, eu teria que acordar daqui a pouco mesmo.
Demi brincou com a almofada em seu colo, pensando no que poderia falar primeiro. Havia tantas coisas que ela queria dizer. Queria conseguir expressar a falta que ele vazia em sua vida, e como era estranho acordar sozinha na cama sem os braços dele ao redor de sua cintura ou como sem a risada e os sorrisos bobos dele ela se sentia incompleta.


- Parabéns pela banda. Diz aos meninos que eu não poderia estar mais orgulhosa. Já tem um nome?


- Hm, ainda não. – Joe fez uma pausa para bocejar, fazendo a menina rir. – O Chris teve algumas idéias idiotas, todas envolvendo Star Wars ou Star Trek.


- Aposto que ele sugeriu Yoda, Skywalker e Spock. – Riram.


- Bem por aí.
Demi observou Makedde sair do quarto e sorrir pra ela, perguntando se era Joe no telefone. Confirmou sorrindo.


- Você disse que passou pela nossa antiga rua. – Disse, depois de alguns instantes de silêncio.


- É, passei. – Joe respondeu, simplesmente.
A menina controlou a vontade de perguntar por que, mas achou melhor não aprofundar o assunto. Se ele não havia dito ainda era porque, provavelmente, não queria tocar no assunto.
O silêncio constrangedor que vinha tomando conta das conversas os incomodava mais do que qualquer outra coisa. Desde quando existiam silêncios constrangedores entre eles? Sempre havia algo a ser dito, e mesmo que não houvesse, o silêncio falava por eles.


- Joe? – Chamou. “O que está acontecendo com a gente?”, teve vontade de perguntar. – Boa sorte com a banda. – Foi o que conseguiu dizer. – Espero que dê tudo certo.


- Brigado. – Sorriu sozinho. – Espero que esteja tudo certo com o seu curso também.


- Está sim. – Suspirou. - Vou deixar você voltar a dormir. Tenho algumas coisas para fazer.


- Tudo bem.


- Se cuida. – Joe riu, sabendo que ela estava repetindo o que ele havia dito.
- Te amo.
Demi mordeu o lábio e fechou os olhos, aquelas duas palavras vieram acompanhadas de uma melodia que ela há muito não ouvia.


- Também te amo. – Makedde fez uma cara apaixonada, fazendo-a rir baixo.
Ainda ficaram alguns segundos em silêncio antes de finalmente desligarem, questionando tantos silêncios constrangedores.


- Doeu? – Mak brincou. Demi a olhou séria e assentiu, fazendo a amiga se assustar com sua seriedade e sentar ao seu lado.


- Dói perceber que as coisas mudaram. – Sussurrou. – Se cuida? Mais silêncio que conversa? Eu quase não consigo reconhecer a gente. Antes a distância era só física, quando a gente se falava ela parecia sumir.


- Agora ela é constante. – Makedde completou, a abraçando. – Você ficaria assustada se soubesse o que a distância é capaz de fazer.

Demi a apertou com mais força.

- Desculpe, não quis dizer isso.


- Algum dia isso passa? – Demi choramingou.


Makedde a abraçou com mais força e respondeu com toda a sinceridade que pôde:
- Geralmente não.



Continua...

17 comentários:

  1. Perfeito!
    Awwwwwwwn, a Demi tem que voltar logo pro Joe e os dois tem que ficar logo juntos :'(
    Posta logo, ta muuuuuito perfeito mesmo.. Cada dia melhor!! <3
    xoxo :*

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  2. Posta posta posta posta posta posta posta *---* Amei o cap. :)

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  3. omg que perfect!!!!!!!!!!!!!!!!!1
    o joe não vai por chifre nela não né? e ja ta no final da fic? quando a demi vai voltar do japão?
    posta logo please

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  4. :'( Tadinha... Espero que nada de ruim aconteça nessa festa oO
    E espero que não demore! :(((

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  5. OMG' Chorei muito aqui com as partes finais1
    Cara, Eu amo sua história com todo meu coração ♥
    Posta Logo porfavor more *-*
    Voce escreve perfeitamente bem'
    Cara, eu ti admiro ! Espero um dia ter a oportunidade de comprar um livro seu *-*
    Posta Logo viu more ?!
    Beijinho ;*

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  6. Estou com pena dos dois.
    Espero que ela volte logo e que eles não sse separem.
    O capítulo tá pefeito como sempre.
    Posta logo.

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  7. Pooooooooooooooosta maaaaaaaaaaaaaaaaaaais

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  8. AH e flor desculpa a demora pra comentar ta? to amando os cap nossa mas tão super tristes :( eles tem que ficar juntos postaa logoo

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  9. POSTAAAAAAAAAAAAAAA LOGOOOOOOOO

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