Avistou um pequeno objeto branco embaixo da cama da colega de quarto e sorriu pegando o pen drive no chão.
Três meses haviam passado desde que Demi trocara a Inglaterra pelo Japão. Já estava acostumada a rotina de estudos do curso de Design e mais acostumada ainda com a bagunça de Makedde, sua colega de quarto. Elas moravam em um dos apartamentos de um flat que também abrigava outros seis bolsistas de diferentes países. Makedde viera da Holanda e, apesar de Demi achá-la um amor de pessoa, se irritava constantemente com a sua falta de organização. O telefone tocou e ela correu para atender, o relógio mostrava que eram três da tarde e ela soube que não era Joe, ele provavelmente estava dormindo naquele horário.
O sotaque holandês de Makedde cantou em seu ouvido.
- Dem, preciso que você me faça um favor. – Sem esperar por uma resposta, ela começou a dar as instruções sobre algum papel importante perdido na bagunça. Demi tampou o bocal do telefone com a mão e xingou alto, amaldiçoando todas aquelas roupas e objetos espalhados pelo quarto.
Depois de finalmente achar o papel e passar as informações para Makedde, desligou o telefone e se concentrou em tentar terminar o trabalho do curso.
Quase duas horas depois salvou o que tinha feito no pen drive e se espreguiçou, ouvindo o estômago roncar. Resolveu checar os e-mails antes de fazer um lanche e viu que havia uma nova mensagem de Joe em sua caixa de entrada, ele havia mandado algumas horas antes, provavelmente antes de ir dormir.
Terminou de ler o e-mail com um suspiro. Era quarta-feira e ele ainda não havia ligado. Estava acostumada a ouvir a voz dele três vezes na semana, uma pelo telefone, as outras pelo Skype. Agora aquilo já estava se tornando raro, no final do dia Joe mandava um e-mail avisando que era muito tarde e ele estava cansado demais dos ensaios com a banda.
Perguntou-se se na verdade ele não estava cansado dela e daquele relacionamento à distância.
- Cheguei! – Makedde entrou no pequeno apartamento com uma sacola grande de alguma loja japonesa.
- Oi, Mak. – Demi a cumprimentou. – O que tem aí? – Apontou a sacola.
- A bolsa mais incrível já produzida! – Exclamou, dando um salto afetado. Demi conteve uma risada ao lembrar que ela havia falado a mesma coisa de uma bolsa que havia comprado duas semanas antes.
Por alguns segundos chegou a sentir pena do pai de Makedde por precisar sustentar uma filha tão consumista sem supervisão e morando em outro país, mas então lembrou ela havia lhe falado que o pai era dono de uma empresa famosa na Holanda e em alguns países vizinhos. Makedde tirou uma bolsa marrom com alguns detalhes dourados da sacola e estendeu para que Demi pegasse.
- Couro legítimo. – Avisou. – Sinta a maciez na parte de dentro. É exatamente o que eu estava procurando.
- Hm – Demi refletiu, olhando todos os detalhes da bolsa. – É realmente linda. – Afirmou.
- Pode pegar emprestada quando quiser.
Ela pode ser uma vaca de vez em quando, mas pelo menos não é uma vaca egoísta, Demi pensou.
O estômago roncou novamente e ela lembrou que precisava lanchar. Desligou o laptop e guardou o pen drive na bolsa. Observou novamente a bagunça e resolveu reclamar com Makedde depois, estava com muita fome para dar um discurso sobre organização e respeito pelo espaço alheio.
- Vou lanchar, tô faminta. – Anunciou, colocando a bolsa no ombro. – Quer vir?
- Vou! Comprar dá fome. – Reclamou. – Aonde vamos?
- Qualquer lugar que não tenha sushi. – Demi brincou, trancando a porta.
Quando estavam caminhando pela rua em busca de alguma lanchonete, Makedde resolveu perguntar sobre Joe.
- Ele mandou um e-mail mais cedo. – Demi respondeu, sem muita vontade de tocar naquele assunto.
- Você tem sorte, Andy não dá noticia há alguns dias. – Makedde também havia deixado alguém para trás, mas, diferente de Joe, Andy era apenas uma amizade colorida. – O que ele disse?
- Que chegou tarde e cansado em casa. – Deu de ombros. Makedde a olhou, sem saber o que falar para consolá-la. – Podemos nos concentrar apenas em achar algum lugar pra comer? Esse assunto vai acabar com a minha fome. – Falou, com sinceridade.
Mak sorriu, apertando seu ombro em sinal de compreensão. O consumismo e a falta de organização eram compensados pelo excesso de compreensão e preocupação.
# Flashback (3 anos antes)
- Isso é... – Começou a falar quando um garoto passou por ela a olhando de cima a baixo e lhe lançando um sorriso – Igual, mas ao memso tempo diferente. – Falou em dúvida.
- É bem diferente do que você está acostumada, te garanto. - Provocou. - Vem comigo! – Joe passou um braço por seus ombros e a levou até uma outra sala que estava sem móveis e parecia muitas vezes maior que o normal.
- Não é culpa minha se você sempre se recusou a me trazer em uma como essa. – Deu de ombros, se defendendo.
- Você era muito nova. Com dezesseis é uma boa hora pra começar a frequentar festas como essa. Mas nunca vá em uma sem mim. - Ameaçou rindo, mas Demi sabia que ele falava sério.
- Uma bebida especial para a nossa convidada de honra. – Nick apareceu sorrindo com um copo contendo uma bebida azul anil. Demi olhou o copo em dúvida, arrancando uma risada do menino. – É bom, eu juro! Não garanto que eu saiba fazer de novo porque eu misturei muita coisa, mas ficou bom. Ficou até doce. – Bebeu um gole, entregando o copo para a menina em seguida.
- Hm... Vejamos. – Falou, cheirando a bebida sem encontrar um cheiro definido.
- Bebe logo, Demi! – Nick empurrou a bebida até a boca da menina, fazendo-a rir.
- Ei, isso é bom! – Sorriu, bebendo mais um gole.
- Bebidas doces são as piores. Você fica bêbada e nem percebe. – Joe reprovou, recebendo um olhar feio de Nick. Demi lhe estendeu a língua.
- Aproveitem a festa, crianças, eu estou indo aproveitar a minha em grande estilo. – Nick sorriu, observando algumas garotas entrarem pela porta e depois se afastou indo até elas.
Demi observou Nick abraçar duas garotas pelos ombros e elas darem risada de algo que ele havia dito. Joe ao seu lado deu um gole na bebida também observando a cena.
- Vai lá. – Falou naturalmente. Ou tentando parecer na natural. Joe a olhou com a sobrancelha arqueada.
- Tá dispensando minha presença? – Tentou fazer uma cara ofendida.
- Tô tentando fazer você não perder seu tempo. Posso me virar sozinha. – Deu de ombros, observando as pessoas ao seu redor. Ou talvez não. – Vai logo! – O empurrou um pouco em direção a uma menina que estava o olhando desde que entrara na festa. Joe lhe lançou um último olhar e ela forçou um sorriso, quando ele lhe deu as costas, virou o copo inteiro com a bebida azul em sua boca. Agora ela teria que se virar sozinha.
Caminhou pela casa desviando de algumas pessoas que pareciam já estarem bêbadas e foi até o quintal que estava mais vazio. Sentou em uma das espreguiçadeiras que haviam por ali e ficou observando a movimentação das pessoas, que vez ou outra lhe lançavam olhares estranhos como se questionasse o motivo dela estar sozinha e desanimada em uma festa como aquela.
- Oi. – O mesmo menino que a olhara quando ela entrou na festa apareceu ao seu lado.
- Oi. – Respondeu, um pouco sem graça. Não estava acostumada a conversar com pessoas estranhas, mas afinal ela estava naquela festa para quê?
- William, mas pode me chamar de Will. – O garoto estendeu a mão.
- Demi, mas pode me chamar de Dem. – Apertou a mão dele, ainda sem jeito. – Conhece os donos da casa? – Puxou o primeiro assunto que veio em sua cabeça. Se fosse pra conversar com estranhos, ao menos que ela controlasse a conversa.
- Meu primo conhece na verdade. É mais de um dono? – Perguntou, fazendo uma cara engraçada que fez a menina rir.
- São dois. O Chris e o Nick. – Respondeu calmamente.
- E você, conhece? – Will rebateu. Demi concordou com um movimento de cabeça. – E veio sozinha?
- Não. Eu vim com meu... – Parou por um segundo. – amigo. – Completou, sorrindo fraco.
- E agora o seu amigo tá por aí agarrado com alguma mulher enquanto você tá aqui sozinha? – Perguntou, olhando em volta. Demi mordeu o lábio inferior pensando no que responder.
- É, quase isso. – Deu de ombros.
Ficaram em silêncio durante alguns minutos, cada um olhando em uma direção. Demi viu Chris passar por ela agarrado em uma menina e rindo alto, pensou em chamá-lo apenas para cumprimentá-lo, mas quando se deu conta, ele já tinha entrado de novo na casa.
- Eu vou pegar uma bebida na cozinha. Aceita alguma coisa? – William perguntou, educado.
- Vou com você! – Se levantou sorrindo. Queria mais daquela bebida que Nick havia lhe dado, mas como ela conseguiria fazer igual se não tinha idéia do que ele tinha misturado?
- Então, o que vai querer? – O menino perguntou, pegando um copo longo e mostrando a variedade de bebidas que estava na cozinha.
- Hm... Não sei bem. Meu amigo me ofereceu uma bebida muito boa, mas nem ele mesmo sabe como fez. – Riu sozinha.
- Posso tentar fazer uma também se você quiser. – William ofereceu. Demi o olhou por alguns segundos pensando em recusar, mas o que poderia acontecer? Ele parecia ser legal.
- Tudo bem. – Concordou. – Consegue fazê-la ficar azul anil? – Perguntou em dúvida, arrancando uma gargalhada do menino.
- Isso é fácil. Posso fazer uma verde limão! – Falou, concentrado em misturar algumas bebidas.
- Ok! – Respondeu distraída.
Alguns minutos depois ela estava experimentando a bebida verde limão e recebia um olhar ansioso de Will.
- Ficou ótima! – Sorriu.
- Há! Sou mestre em inventar bebidas e de alguma forma elas sempre acabam ficando boas. – Comentou, pegando uma cerveja na geladeira. Demi se sentou na bancada da cozinha bebendo a bebida calmamente e William encostou-se à mesa de frente pra ela. A música alta continuava a tocar na sala e as pessoas entravam e saiam da cozinha a todo o momento.
Quase uma hora depois os dois já estavam rindo das histórias que Will contava de sua infância. Demi já tinha experimentado quatro tipos de bebidas de cores variadas que ele preparava pra ela. Observou Will conversar com o garoto que ele lhe apresentara como seu primo e agradeceu por ter sido simpática com ele ou estaria completamente sozinha naquela festa. Onde estava Joe afinal?
- Dem, preciso ir ali fora rápido. Volto em alguns minutos. – William sorriu simpático e ela concordou com um aceno de cabeça.
Observou a bebida rosa dentro de seu copo e suspirou, descendo da bancada. Saiu da cozinha percebendo que a casa parecia no mínimo três vezes mais cheia do que antes e ficou na ponta dos pés procurando algum rosto conhecido, nem sinal. Caminhou por entre as pessoas que dançavam insanamente e foi até a outra sala que estava mais vazia, mas ainda assim não conseguiu encontrar ninguém. Quando estava indo para o jardim, esbarrou com alguém.
- Nick! – Falou alto, quase abraçando o menino. Ficar sozinha naquela festa estava sendo sufocante.
- Dem! – Ele falou, já rindo. – Você não sabe o que o Joe fez. – Riu mais um pouco, o suficiente para Demi perceber que ele já estava, no mínimo, bêbado. – Sabe aquele menino que estava conversando com você?
- O Will? – Perguntou, arqueando a sobrancelha.
- É. Deve ser. Tanto faz. – Riu alto. – O Joe falou... – Risos. – Falou pra ele ficar longe de você. – Mais risos. Histéricos dessa vez. – Você perdeu a cena!
- Espera! O Joe pediu pro William ficar longe de mim? – Demi perguntou em dúvida, sem entender direito o que Nick falava. Além de rir muito, as palavras saiam emboladas e pareciam sem nexo para ela. Ele concordou com um aceno de cabeça. A menina abriu a boca algumas vezes sem conseguir emitir som algum.
- Ei, Ash! – Nick gritou e, sem nem olhar para Demi, se afastou, sumindo rapidamente entre as pessoas.
Ficou parada alguns instantes ainda olhando para o ponto onde Nick sumira de sua vista. Sentiu algumas lágrimas chegarem até seus olhos, mas respirou fundo sem deixá-las cair. Odiava certas atitudes extremamente imaturas de Joe. Afinal o que ele queria? Porque sozinha na festa ela já estava!
Foi até a cozinha e pegou duas cervejas na geladeira, saindo da casa sentando na mesma espreguiçadeira de antes. Abriu uma das latas de cerveja e deu um gole grande fazendo uma careta, ela nem gostava muito, mas não estava com saco de preparar bebidas coloridas.
Em quatro goles ela percebeu que a cerveja já havia terminado. Deu de ombros e abriu a outra, já se sentindo um pouco tonta, não estava muito acostumada a beber, ainda mais tão rapidamente.
Quando a segunda lata de cerveja estava no final, sentiu alguém sentar ao seu lado. Não precisava olhar quem era, conseguiria distinguir Joe apenas pelo perfume a metros de distância. Ele encostou a cabeça no ombro dela, suspirando alto.
- Eu mandei aquele cara ficar longe de você. – Admitiu, embolando-se um pouco com as palavras. Demi ficou em silêncio, esperando a raiva diminuir aos poucos. – Você não vai me xingar? Me bater? – Perguntou a olhando, ela não retribui o olhar. Sabia a melhor forma de fazer Joe se sentir culpado. – Não me ignora, Dem. Por favor, você sabe que eu odeio!
Demi suspirou audivelmente e deu um último gole na cerveja, esvaziando a lata. Arrumou calmamente a pequena pilha que estava ao lado da espreguiçadeira e ouviu Joe bufar ao seu lado e se deitar, passando a mão pelo rosto. Sorriu com a frustração do menino. Olhou a mão dele que estava com outra latinha de cerveja e pegou, bebendo o restante do liquido.
- Eu não sei por que eu fiz aquilo. Eu acho que estou bêbado. – Comentou rindo e arrancando uma risada irônica da menina. Ele achava?
Sentiu a cabeça pesar um pouco e sua vista embaçar por alguns instantes, talvez ela também estivesse bêbada. Ou pelo menos achava que estava. Deitou-se na espreguiçadeira ainda ao lado do menino e observou o céu escuro, as estrelas estavam brilhando mais que o normal ou era efeito do álcool?
Sentiu o olhar de Joe em seu rosto e sorriu sozinha ainda com o olhar distante, nunca fora muito boa em ignorá-lo, sempre acabava cedendo aos pedidos de desculpa dele, aos sorrisos bobos e olhares de criança que ele lhe lançava. Virou o rosto encontrando o de Joe a poucos centímetros do seu e pôde sentir o hálito de cerveja que saia da boca entreaberta dele. Normalmente não seria muito agradável, mas considerando que o dela estava igual, não importava muito.
- Eu acho que eu quero te beijar. – Joe confessou baixo.
- Eu acho que você devia me beijar. – Demi respondeu, em meio a um suspiro.
Fechou os olhos, sentindo Joe afastar a franja que caia em seus olhos e depois acariciar sua bochecha. O hálito quente dele bateu mais forte em sua boca quando o nariz dele passou pelo seu e segundos depois os lábios dele estavam grudados nos seus.
Viraram-se de lado ao mesmo tempo, ficando praticamente um de frente por outro. Joe contornou os lábios da menina com a própria língua e a ouviu gemer baixinho, abrindo a boca e deixando que a língua dele invadisse a sua própria. Deixou a mão que estava no rosto dela descer por seu braço, até chegar em suas costas, a puxou mais pra perto e sentiu ela passar uma das pernas por entre as suas.
Não importava se ele estava bêbado ou sóbrio. As sensações de ter Demi só pra ele, mais do que normalmente, eram sempre as mais variadas. Tudo sempre parecia novo, como se ele a estivesse experimentando pela primeira vez. Era como se sempre houvesse uma nova parte que ele desconhecia, e ela deixasse para que apenas ele descobrisse.
Os dedos dela brincaram com seu cabelo num carinho provocante e Joe deixou que seus dedos deslizassem lentamente para dentro da blusa que ela vestia. A barriga quente de Demi se contraiu imediatamente ao toque de seus dedos frios. Mordeu levemente o lábio inferior dela ficando no controle da situação e sentiu o corpo dela grudar ainda mais no seu.
Virou-se deitando por cima do corpo de Demi, já alheio ao fato estarem em uma festa. As pessoas ali estavam tão bêbadas quanto eles, ou até um pouco mais. Encaixou-se alternadamente entre as pernas dela e sentiu o corpo dar os primeiros sinais de alerta. Por que seu corpo sempre o entregava? Tudo era rápido demais com ela, como se ele sempre perdesse o controle.
Deixou a mão deslizar até as costas dela num carinho ainda tímido e sentiu a menina corresponder, passando a mão por dentro de sua camisa. É aDemi e ela tem só dezesseis, é a Demi e ela tem só dezesseis.
Ouviu sua própria voz gritar dentro de sua cabeça. Mas ele não a estava obrigando a nada, estava? E de qualquer forma, aquela relação já tinha saído do controle dele, não tinha? E fora muitos anos antes.
- Joe. – Ouviu a voz arfante de Demi falar em seu ouvido e apertou os olhos. – É melhor a gente ir pra um quarto.
Diz que não, diz que não, diz que não. - Vamos! – Levantou-se rápido, puxando-a pela mão e atravessou o jardim e a sala desviando das pessoas que dançavam animadamente.
Demi apertou os olhos deixando que Joe a guiasse, por que droga a vista dela embaçava o tempo inteiro?
- Joe, esse não é o quarto do... – Começou a falar, mas foi interrompida pela boca de Joe que já estava grudada na sua.
- Não importa! – Sussurrou com os lábios colados nos dela.
Caminharam às cegas pelo quarto, esbarraram em uma mesa e depois no criado mudo, antes de caírem na cama rindo. Demi passou os braços pelo pescoço de Joe enquanto ele se ajeitava na cama por cima dela e jogava alguns travesseiros pelo quarto. Um dos travesseiros derrubou a luminária em cima da mesa e fez um barulho alto.
- O Nick vai nos matar. – Demi riu.
- Ele vai entender. – Joe deu de ombros, trilhando beijos pelo pescoço da menina. Demi desceu as mãos até a barra da camisa dele e a puxou pra cima de qualquer forma, ele apenas levantou os braços a ajudando e sentindo as mãos formigarem para fazer a mesma coisa com ela.
Só dezesseis. Só dezesseis. Só dezesseis.
Por Deus, será que aquela voz não ia parar nunca? Ele estava bêbado, mas estava ciente do que estava fazendo. Ou pelo menos achava que estava. O dia seguinte responderia essa dúvida.
Abriu rapidamente os botões da camisa da menina e observou seu sutiã preto com alguns desenhos que ele não conseguiu identificar. Beijou o ombro dela que ia ficando descoberto enquanto ele tirava a blusa e ouviu a menina protestar tirando a própria blusa e jogando-a pra fora da cama.
Demi passou a unha pelas costas do menino, ouvindo um gemido baixo escapar por entre seus lábios antes de eles se encaixarem com perfeição aos seus. Sua calça foi retirada tão rapidamente que ela não saberia dizer quem a arremessou pelo quarto, só percebeu que estava sem ela quando a mão de Joe apertou sua coxa com força e sentiu os dedos dele passarem pela barra de sua calcinha algumas vezes num misto de pressa e indecisão.
- Merda. – Joe sussurrou, sentindo o celular vibrar no bolso da calça.
Pegou o aparelho, xingando o infeliz do outro lado da linha.
- Fala! – Sua voz saiu mais fraca do que ele esperava. Ouviu a voz de Nick do outro lado falando algumas palavras emboladas e depois ficar em silêncio.
Que droga Nick estava falando? Tudo que ele tinha entendido fora "Blábláblá Demi blábláblá."
Demi.
Ele olhou a garota que lhe lançou um sorriso meigo e depois desviou o olhar para o teto do quarto.
Puta merda. Demi.
- Nick, eu te ligo depois. – Falou, passando a mão pela testa e desligando o celular, deixando-o em cima do criado mudo.
Apertou os olhos com o máximo de força que pôde e passou as mãos pelos cabelos, ainda sentindo o gosto da menina em sua boca.
Deitou ao lado de Demi, também encarando o teto do quarto. Sentiu a tensão que havia se instalado por ali.
- Não dá. Desculpe. – Falou com a voz embargada. Sentiu um nó na garganta.
Demi balançou a cabeça afirmativamente e mordeu o lábio inferior se sentando na cama, de costas pra Joe.
Passou a mão pelos cabelos percebendo o quão bagunçados estavam e apertou os olhos por alguns segundos tentando recuperar a sobriedade.
- Nunca vai dar, não é? – Perguntou, estranhando o tom da própria voz.
Joe a olhou sem entender.
Levantou-se, pegando a calça jeans jogada no chão e a vestiu passando os olhos pelo quarto escuro em busca da blusa.
- Eu nunca vou ser boa o suficiente pra você, Joe! – Aumentou a voz, fazendo o menino arquear a sobrancelha. – Você nunca vai conseguir me desejar dessa forma. – Pegou a blusa no chão, sentindo os olhos se encherem de água. Como ela havia sido ingênua. Ingênua e estúpida.
Quando estava abotoando a blusa, sentiu as mãos de Joe se fecharem em seus pulsos e os puxarem em volta de sua cintura. Encostou a cabeça no ombro dele e deixou que algumas lágrimas caíssem.
- Entenda que você é muito mais desejável do que pensa ser, e que isso tudo é muito mais difícil e complicado do que você imagina. – Joe falou baixo, com a boca colada em seu ouvido. Sentiu-a encolher um pouco os ombros sentindo cócegas. – Por favor, me desculpe. Eu não quis te magoar.
- Desculpe por ser uma pseudo bêbada chorona. – Falou, fazendo voz de criança e arrancando uma risada do menino.
- A gente finge que você está completamente fora de si. – Joe segurou o rosto dela com as duas mãos, fazendo-a olhar em seus olhos e sorriu. – E você é muito mais do que eu jamais mereci. – Falou mais baixo, encostando a testa na dela e lhe dando um beijo de esquimó.
# End of flashback
Desde que Demi fora embora, o animal passava a maior parte do dia sozinho. Joe andava ocupado com a banda que ele, Nick, Chris e Kevin haviam decidido levar a sério. Os ensaios eram intensos e duravam o dia inteiro, eles estavam confiantes quanto as composições e sabiam que tocavam bem, agora precisavam apenas de alguém com contatos que tivesse a mesma confiança que tinham em si mesmos.
Harte deitou ao lado do sofá, aproveitando os carinhos que o dono fazia em sua barriga. Joe odiava deixá-lo em casa sozinho, mas não havia outra opção. Eles ensaiavam na casa de Chris e a mãe do amigo tinha alergia a pêlos, se levasse Harte, seria barrado na porta.
Os ponteiros do relógio de parede apontavam para direções opostas, indicando que faltava meia hora para a meia noite. Perguntou-se se Demi estaria em aula ou ainda em casa, não sabia ao certo que horas o curso começava e quanto tempo ela demorava para chegar até lá. Pegou o telefone e a agenda para checar o número do celular que ela havia lhe dado. Havia feito uma ligação para aquele número apenas na primeira semana sozinho no loft. Sentira vontade de ouvir a voz dela e decidira ligar para seu celular, apenas para dizer que já ia dormir e desejar-lhe um bom dia.
Digitou os números rapidamente, temendo mudar de idéia ou acabar adormecendo no sofá por causa do cansaço. Após quatro bipes Demi atendeu, a voz um pouco falha.
- Hei. – Sorriu sozinho, apertando o telefone contra a orelha.
- Joe? – A voz dela suavizou. Joe podia ter jurado ouvir um suspiro de alivio escapar pelos lábios dela. Havia sido tão estúpido por deixar que aquela semana passasse sem ter contato algum com ela.
- Você tá ocupada? Se estiver em aula posso ligar outra hora. – Na verdade ele queria falar com ela naquele momento, não queria ter que esperar.
- Não, eu... – Ouviu uma voz feminina ao fundo e deduziu ser Makedde, a colega de quarto. Demi respondeu algo que ele não entendeu. – Eu ainda estou em casa, estava arrumando as coisas para ir para o curso.
O silêncio se apoderou da linha, enquanto eles pensavam no que falar.
- Tá tudo bem por aí? – Demi perguntou, sentando na cama e abraçando as pernas.
- Tudo certo. Desculpe por não ter ligado antes, eu só... As coisas estão corridas. – Suspirou.
- Tudo bem, eu entendo.
Outro silêncio, dessa vez ainda mais desconfortável que o anterior.
- O Harte tá aqui do meu lado. – Joe observou o cachorro levantar as orelhas ao ouvir seu nome.
– Se ele pudesse falar, diria que está com saudade.
Demi sorriu, sentindo um aperto ao lembrar do cachorro que havia sido seu companheiro durante tanto tempo. Harte tinha um jeito único de demonstrar afeto, podia jurar que ele era mais humano do que muitas pessoas por aí.
- Na verdade ele diria que nós dois estamos com saudade. – Confessou.
Uma lágrima desceu solitária pela bochecha da menina. Segurou o telefone com mais força, desejando que ele pudesse transportá-la para Londres.
Suas respirações calmas eram as únicas coisas quebrando o silêncio. Nenhum dos dois se incomodava de ficar assim por minutos ou até horas, era tranqüilizador poder escutar suas respirações juntas.
- Também sinto falta de vocês. – Demi finalmente respondeu.
Joe sorriu do outro lado da linha. Depois de tanto tempo em silêncio, achou que ela não fosse dizer nada. Sua mente girou tentando encontrar motivos para ela demorar tanto responder, se é que havia algum.
Um bocejo escapou por entro os lábios do garoto, fazendo-o amaldiçoar a si mesmo por deixar que aquilo acontecesse.
- Joe, você tá cansado. – Ele estava mesmo, mas apenas negou com um grunhido estranho. Não queria desligar o telefone. Passara uma semana sem ouvir a voz de Demi e nem ao menos tinha se dado conta do quanto aquilo lhe fazia falta.
- Me conta como foi sua semana. – Mudou de assunto. Queria que ela falasse, queria ficar ouvindo sua voz falar aleatoriedades até ele esquecer o resto do mundo.
Demi contou sobre os consumismos de Makedde, resumiu o que tinha aprendido no curso e tentou cantar um trecho de uma música japonesa que ela havia gostado, o que fez Joe gargalhar e prometer procurar pela música na internet.
- Que falta a sua risada me faz. – Demi fechou os olhos, tentando se concentrar naquele som. Ouviu Joe suspirar do outro lado da linha. – Eu meio que preciso ir pro curso, não posso faltar a aula hoje. – Falou sem vontade.
- Que horas começa?
- Hm, na verdade já começou. – Confessou, soltando uma risada sem graça.
- Não vou te prender mais. Boa aula.
- Brigada.
Alguns segundos se passaram sem que eles tivessem coragem de dizer mais alguma coisa. Por fim Joe decidiu deixá-la ir.
- Amo você. – Sussurrou.
- Também amo você.
Desceu as escadas passando a mão pelo cabelo molhado e bagunçando-o completamente. A televisão estava ligada em algum canal que mostrava um filme de guerra que ele não reconheceu. O relógio da cozinha agora marcava quase uma da manhã, sabia que precisava dormir, mas depois de falar com Demi perdera completamente o sono. Observou Harte dormir pesadamente e o invejou por alguns segundos, ele parecia completamente alheio a qualquer barulho ou movimentação.
Decidiu preparar alguma coisa para comer e depois tentar dormir de uma vez, não ia ajudar ficar vagando pela casa feito um zumbi.
O post-it amarelo na porta da geladeira o fez sorrir sozinho. Demi havia deixado vários parecidos com aquele espalhados pela casa. Alguns continham algumas “dicas de sobrevivência”, como ela mesma dissera, outros trechos de músicas ou pequenos poemas. Mesmo depois de três meses, Joe ainda encontrava alguns novos bilhetes em cantos mais escondidos do loft. O que estava na porta da geladeira era uma das dicas de sobrevivência como, por exemplo, “lembre-se que o leite azeda rápido”. Por mais que lesse aquilo, o leite sempre acaba azedando, o que o irritava mais do que deveria.
Dias antes havia encontrado um post-it rosa que continha os dizeres; “Se você não se atrasar demais, posso te esperar por toda a minha vida.”
Joe sabia que Demi adorava aquele pensamento de Oscar Wilde, ela tinha lido em um livro quando era mais nova e adorava escrevê-lo em cadernos e blocos de anotações.
Fez um sanduiche rápido, apenas com queijo e uma rodela de tomate, resolveu comer na cozinha mesmo, se subisse, não iria descer novamente para deixar o prato na pia. Em menos de dois minutos já havia acabado de comer, se Demi estivesse lá provavelmente reclamaria da sua rapidez e lhe explicaria a importância de uma mastigação lenta. Por mais que ela lhe desse os mesmos sermões quase diariamente, ele confessava que adorava quando ela se irritava com suas mancadas. Agora a voz um pouco alta e estressada dela fazia falta.
Deitou na cama fria e tentou não sentir falta de um corpo quente e feminino ao seu lado, mas foi em vão. A cama de casal parecia maior do que nunca, como se seu corpo fosse pequeno demais para ela. Havia comprado lençóis novos e mandado lavar os mais antigos, depois de mais de um mês dormindo com o cheiro de Demi o enfeitiçando, decidira que precisava se livrar daquilo ou enlouqueceria.
Os lençóis novos eram feios e sem cheiro, tudo que Demi não era.
Ouviu o barulho de trovão do lado de fora e se encolheu na cama. Seus olhos focaram no porta retrato que ficava no criado mudo, a foto havia sido tirada quando Joe levou Demi em Notting Hill, o sorriso dela quase não cabia no próprio rosto. Fechou os olhos e tentou não pensar em nada, tentou ver a escuridão, apenas um vazio preto, era assim que fazia para dormir desde que Demi havia partido. Nas primeiras semanas sua mente vagava pelas lembranças, o que fazia com que o sono desaparecesse e a noite fosse passada em branco.
Preto.
Escuridão.
Era a única coisa que ele podia imaginar agora.
Era tudo que ele era capaz de ver.
Continua...
Ow, tadinho!! :/
ResponderExcluirPor favor, posta loogo!
Sou leitora nova e confesso que estou super viciada na sua história, pois ela é perfeita.
ResponderExcluirEstou com tanta pena do Joe, espero que o tempo passe rápido.
Posta logo, por favor.
AHHHHHHHHHHHHHHHH PELO AMOR DE DEUS! :(( POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA POSTA LOGOOO! BJOOOOOOO.
ResponderExcluirperfeito, que pena do Joe :(
ResponderExcluirA Demi tem que voltar logo poxa! ;/
POSTA LOGO!
Ain vei... tu mi mata um dia rsrsrsr'
ResponderExcluirPOSTA LOGO ! PORFAVOR!
Sou viciada na sua historia ! ela é perfeita !
Posta Logo Please :*
POSTA LOOGO, MUITO PERFEITO <3
ResponderExcluir