segunda-feira, 23 de julho de 2012

Capítulo 20


- Joe, não consigo fechar a mala! – Demi choramingou, sentando em cima da bagagem e forçando o zíper. – Me recuso a tirar alguma coisa daí, eu já to levando o mínimo possível.


- Quatro pares de All Star não são o mínimo possível. – O garoto brincou, a puxando para que se levantasse da mala. – Só precisa ter jeito. – Em menos de vinte segundos ele fechou o zíper e colocou o cadeado. 

Demi o olhou com as mãos na cintura e arqueou uma sobrancelha. Como ele havia feito aquilo tão rápido? Joe sorriu da expressão indignada dela e lhe deu um beijo rápido na bochecha.

- Quer que leve logo lá pra baixo? – Demi balançou a cabeça concordando.
Mordeu o lábio inferior, observando o armário mais vazio do que nunca, deixara poucas roupas para trás, apenas aquelas que não gostava muito ou nem servia mais. A cama ainda estava desarrumada, o lençol amassado, misturando o cheiro dela com o de Joe. Tudo naquele loft parecia ser uma mistura dos dois, como se desde sempre eles houvessem decorado o lugar.
Harte chegou de mansinho e se enroscou nas pernas dela, como se fosse um gato. Demi se abaixou para acariciá-lo e riu quando ele deitou virado para cima, num pedido para que ela coçasse sua barriga.


- Ai, que falta que você vai me fazer, meu monstrinho. – Brincou, puxando um pouco a orelha dele, sabendo que ele não gostava muito.


- Iai, tá pronta? – Joe se agachou também e brincou com o cachorro.


- To pronta pra viajar, mas nunca pra ficar longe disso tudo aqui. – Suspirou. – Mas, enfim, prometi que não ia ficar me lamentando, é o que eu quero fazer.


- Se você não gostar ou não se acostumar, você volta. A gente vai tá aqui esperando. – Joe beijou as costas de sua mão e a ajudou a se levantar.


- Tchau, coisa linda. – Fez um último carinho na cabeça de Harte antes de dar a mão pra Joe e descer a escada.
Antes de passar pela porta, observou o loft uma última vez, deixando que todas as memórias de tudo que havia acontecido ali preenchessem sua mente. Aquela não seria a última vez, ela sentia isso. Dizem que nossa casa é onde o nosso coração está, e agora ela tinha certeza disso.
A chuva parecia aumentar a cada passo apressado que eles davam. O guarda chuva não era grande o suficiente para cobrir os dois e mais a enorme mala que Joe puxava. Entreolharam-se rindo e praticamente correram até a entrada do aeroporto, agradecendo quando conseguiram passar pela entrada já coberta.


- Acho que o vôo vai atrasar, a chuva tá muito forte. – Demi comentou, fechando o guarda chuva e o sacudindo para tirar o excesso de água. - Vamos logo fazer o check-in, quero passar na WHSmith e comprar algum livro pra me distrair nas 12 longas horas de vôo.


- Sei que você quer se livrar logo de mim, mas ainda faltam duas horas pro seu vôo. – Joe a olhou e sorriu, vendo a menina mostrar a língua e balançar a cabeça negativamente.
Saíram em direção ao guichê da companhia aérea e esperaram na pequena fila. Demi cutucou Joe e apontou um casal de idosos logo na frente deles que riam enquanto sussurravam no ouvido um do outro.


- Acha que algum dia vamos ficar assim? – A menina perguntou, abraçando o garoto ao seu lado.


- Todos ficaremos velhos um dia, boba. – Brincou.


- Haha, engraçado. – Ironizou. – Adoro casais idosos e apaixonados.


- Você nem sabe se eles são realmente namorados, ou casados.


- Olha só pra eles, Joe. O que você acha? – A menina o olhou, arqueando a sobrancelha.


- Eu acho...


- Próximo! – A atendente no balcão apontou para eles.


- Que é a nossa vez. – Joe sorriu, pegando a mala e se dirigindo até o balcão, sendo seguido por Demi.

Caminhou entre as estantes lotadas de livros da livraria, algumas capas chamavam sua atenção, outras passavam despercebidas. Chegou à sessão dos mais vendidos e observou calmamente alguns nomes já conhecidos e outros que ela havia apenas ouvido falar.


- Esse. – Falou pra si mesma, pegando um livro com uma capa que lhe pareceu interessante. – A Mulher do Viajante do Tempo. – leu em voz baixa, virando a contra capa para poder ler o resumo do livro. Já havia lido algumas resenhas sobre ele, mas não conseguia lembrar exatamente sobre o que era.
Joe parou ao seu lado e se abaixou um pouco para ler o nome do livro.


- Vai levar? 


- Provavelmente. – Respondeu, ainda lendo o resumo. – É, vou levar. – Respondeu, ao terminar. – Preciso também de algumas palavras cruzadas.
Dez minutos depois, eles sentaram em um café em frente à livraria. 


- Nervosa? – Joe perguntou, reparando nas pernas inquietas da garota. Ela deu de ombros e sorriu, segurando a mão dele que estava em cima da mesa. – Que foi? – Perguntou, reparando nos olhos dela que passeavam calmamente por seu rosto.


- Nada, eu gosto de te olhar. – Sorriu. O garoto beijou as costas de sua mão e voltou a atenção para a revista que estava lendo. Ainda podia sentir os olhos de Demi o examinando e podia apostar que ela estava fazendo a mesma coisa que ele fizera na noite anterior enquanto ela dormia. Estava guardando seus traços e feições na memória, apenas pra ter certeza de que nenhum detalhe lhe escaparia durante esses doze meses.

Quando a voz feminina anunciou o vôo de Demi no auto falante, ela e Joe já estavam perto da porta que dava acesso aos diversos portões de embarque. Caminhavam de mãos dadas, tentando lembrar o que vinham ensaiando há semanas quando esse momento chegasse, mas agora todas as palavras se confundiam e as frases pareciam perder o sentido.
Param lado a lado ao chegarem em frente ao portão. As mãos mais entrelaçadas do que nunca, num pedido mudo para que continuassem daquela forma.
Joe ficou de frente para a menina e estudou seu rosto cabisbaixo, respirou fundo antes de puxá-la para si e abraça-la o mais forte que pôde. A ouviu soltar um soluço abafado e apertar o abraço em sua cintura. Beijou seus cabelos e puxou seu rosto para cima, deixando-o tão próximo ao seu que mal pôde ver as lágrimas que desciam ferozmente pelo rosto da garota.


- Você prometeu que não ia chorar, lembra? – Joe sussurrou, vendo a garota concordar e segurar o choro, sem grande sucesso. Passou o polegar pelo rosto dela, enxugando as lágrimas e beijou o caminho de volta delas até os olhos de Demi.


- Vai dar tudo certo. – Ela disse, mais para si mesma do que para ele.


- Claro que vai. – Concordou, beijando seus lábios com pressa. – Me liga quando chegar ao apartamento, eu vou ficar do lado do telefone esperando.

Demi concordou com um sorriso e o puxou para outro beijo, ainda mais apressado que o anterior. Tentava guardar todas as sensações, os toques, a sutileza dos lábios dele. Ela queria levar tudo aquilo consigo, precisava daquilo.

- Se cuida. – Joe separou seus lábios do dela apenas por alguns segundos. – Te amo. – Sussurrou, distribuindo beijos pelas bochechas dela e repetindo a frase a cada segundo que seus lábios desgrudavam da pele dela. – Não esquece. – Segurou o rosto dela com firmeza e ouviu um riso escapar por entre seus lábios.


- Não vou esquecer. – O beijou novamente. – E, a propósito, eu também te amo. – Sorriu.
Trocaram mais alguns selinhos antes de finalmente se desgrudarem e perceberem que o mesmo casal de idosos da fila do check-in, agora os olhavam com sorrisos em seus rostos.


- Se cuida. – Demi leu nos lábios de Joe quando se virou pela última vez antes das portas automáticas se fecharem e a imagem dele sumir.



# Flashback (3 anos antes)


As duas garotas se observaram no espelho, atentas a cada detalhe de suas roupas e maquiagem. Eram tão diferentes por fora e quase irmãs gêmeas por dentro, haviam dado sorte de terem se conhecido em um chato trabalho de Literatura. Sorriram satisfeitas para seus reflexos, antes de saírem animadas do quarto.
Demi e Claire estavam indo para uma festa de uma das garotas de sua sala. A primeira e única em que iriam juntas. Claire estava se mudando para a Holanda na semana seguinte e as duas haviam prometido aproveitar os últimos dias juntas. Não costumavam freqüentar festas, mas já que haviam feito uma promessa, decidiram cumpri-la.
A casa da aniversariante ficava em um condomínio fechado e era muito maior do que as fofocas descreviam. As duas desceram do carro e ajeitaram seus vestidos, o de Claire um pouco mais curto e o de Demi com um decote nas costas, a prova viva de que não eram mais crianças.
A música alta e agitada tornava a comunicação um pouco difícil, precisavam falar alto demais ou perto demais para conseguirem se entender. Avistaram Daisy, a aniversariante, sentada em uma das espreguiçadeiras, rodeada por duas de suas amigas e alguns garotos mais velhos. Entreolharam-se, sem saber se deveriam ir até lá ou apenas deixar o presente com uma mulher que os estava recolhendo. Optaram pela segunda opção já que Daisy parecia estar se divertindo demais naquela roda.
O jardim da frente estava cheio de mesas e cadeiras ainda vazias, já que a maioria das pessoas que já haviam chegado estavam no jardim de trás, ao redor da piscina. Sentaram na parte mais vazia, sem vontade de rodar pela festa para fazer a social, não eram populares e sabiam que teriam que falar com um monte de gente que nem ao menos gostavam.
Distraíram-se conversando e acabaram nem notando o quão cheia a casa ficava a cada minuto. Quando olharam ao redor, se viram cercadas por adolescentes conversando alto, alguns já bêbados, agitados pela música e pelo álcool. Demi se perguntou se era mesmo verdade que os pais de Daisy haviam saído para deixar a casa livre ou se estavam escondidos em algum lugar, prontos para aparecerem quando as coisas saíssem do controle.

- Garotas. – Um moreno alto, com enormes olhos azuis sorriu para as duas e mostrou uma garrafa de vodka. – Gostariam de batizar seus refrigerantes? – Demi e Claire se entreolharam, sem saber direito como recusar algo vindo de um cara como aquele.

- Claro. – Claire deu de ombros, e Demi sorriu concordando.
O garoto derramou a vodka nos copos e os devolveu para as duas garotas.

- Aproveitem. – Piscou, saindo em seguida e deixando as duas sem reação.

- Ele não pode estudar lá na escola. Eu teria notado. – Demi riu.
Beberam o líquido, fazendo careta quando a vodka queimou suas gargantas. Já haviam bebido antes, mas nada tão forte como aquela mistura. Não iria demorar para o álcool fazer efeito nelas, mas já que estavam em uma festa, tinham que entrar no ritmo.
Quando o sol finalmente foi embora, as luzes da enorme sala se apagaram, dando lugar a dois globos coloridos que fez grande parte da festa se juntar no cômodo, dançando e bebendo a vontade.

- Vamos, garotas! Não quero ver ninguém desanimado por aqui. – A mesma mulher que estava recolhendo os presentes apareceu, agora vestindo um vestido curto e ousado demais para sua idade. As garotas se entreolharam, tentando controlar o riso. Não tiveram escolha, senão se juntar ao amontoado de pessoas na sala, dançando sem se preocupar com a falta se espaço e o calor que fazia ali dentro.

I’m in Miami, bitch.

A música começou a tocar, fazendo com que as duas garotas começassem a dançar também, como poderiam resistir àquela música? Viviam escutando-a na casa de Claire e inventando danças ridículas e vergonhosas. Quando entraram no ritmo animado dos outros convidados, resolveram se entregar completamente e dança sem se importar com quem estivesse olhando. Estavam se divertindo tanto que nem perceberam que já estavam quase no meio da sala. As pessoas pareciam nem notar as duas nerds se divertindo como nunca.
Demi sabia que as chances de ela ir em uma festa sem Claire eram mito pequenas, afinal, ela era sua única amiga e sabia que não podia contar comJoe para levá-la para alguma festa. Olhou ao redor, notando um garoto que a observava dançar. Sorriu de volta ao perceber que ele era bonito e sussurrou no ouvido de Claire para que ela olhasse discretamente.

- Ele ta vindo pra cá! – Claire respondeu, tentando controlar a afobação.
Duas garotas de quinze anos numa festa, sendo paqueradas por garotos mais velhos... O que mais poderiam querer?

- Oi! – Demi ouviu uma voz masculina falar em seu ouvido e se virou, já com um sorriso pronto.

- Oi. – Respondeu, tentando fazer com que suas bochechas não entregassem seu nervosismo.

- Kevin. – Ele estendeu a mão, apresentando-se.

- Demi. – Apertou a mão dele.
De alguma forma, o som dentro da casa parecia ficar cada vez mais alto, dificultando qualquer conversa. 

- Você quer conversar lá fora? – Kevin perguntou, apontando a parte de trás da casa, a área da piscina. Demi negou apontando para Claire, deixando claro que não ia abandonar a amiga. Kevin sorriu e pediu que ela esperasse um pouco.

- Acho que ele foi arrumar um amigo pra você. – Demi sorriu para Claire.

- Wow! – Claire apontou discretamente para Kevin que voltava realmente com um amigo, que na opinião de Claire era ainda mais bonito que ele.
Depois das apresentações eles tentaram conversar um pouco, mas a altura da música estava realmente tornando aquilo impossível. Dançaram um pouco, mas acabaram cansando e indo para a área da piscina.
Sentaram em uma das mesas vagas, cada casal mantendo uma certa distância, para que pudessem conversar tranquilamente.
Demi gostou de Kevin não tentar nada antes mesmo de começarem a conversar e se conhecer um pouco. A maioria dos garotos da idade dela teria começado a tentar beijá-la sem nem ao menos saber seu nome. Ela não era aquele tipo de garota, não tinha experiência e nem vontade suficiente para sair beijando qualquer cara que aparecesse. Ao contrário da maioria das garotas aqui, pensou, olhando em volta.
Kevin aproveitou quando a garota virou o rosto e beijou levemente seu pescoço, apenas para testar sua reação. Ela se encolheu um pouco, mas sorriu. Aquilo era um sinal para que continuasse, certo? Deu outro beijo, agora em sua mandíbula, sentindo que ela estava gostando daquilo.

- Cara, eu ‘tava te procurando. – Uma voz masculina fez com que os quatro na mesa se virassem.

- Fala, perdedor. – Kevin sorriu para o amigo. Demi gelou ao ver quem era.
Não, não, não. 

- Dem? – Chris riu, sem acreditar.
Só pode ser brincadeira. A garota acenou, desejando puxar Claire pela mão e sair dali.

- Reunião de perdedores? – Uma voz conhecida atingiu Demi em cheio. Aquilo tinha que ser brincadeira.
Suspirou, abaixando a cabeça e desejando desaparecer no ar. Por que aquelas coisas só aconteciam com ela? Por que não podia ser como qualquer garota normal de quinze anos com pais normais, amigos normais, aproveitando uma festa normal e ficando com garotos normais sem que seu primo aparecesse para atrapalhar tudo?
Sentiu alguém chutar sua perna e imaginou que todos agora deviam estar observando-a. Levantou a cabeça e tentou sorrir normalmente.
A julgar pela quantidade de cerveja que Joe cuspiu quando percebeu que era ela que estava sentado ao lado de Kevin, ele não gostou do que viu.

- Ah, não! – Kevin pareceu finalmente perceber o que estava acontecendo. – Essa é a Demi? – Perguntou, alternando o olhar de Chris para Joe. Claire riu baixo, sem acreditar no que estava acontecendo.

- É, parece que sim. – Demi tentou rir para acompanhar a amiga, mas sua vontade de gritar era muito mais alta e incontrolável. – Claire, vamos ao banheiro. – Não era uma pergunta, e Claire sabia disso.
As duas saíram rapidamente dali e voltaram pra dentro da casa, ainda chocadas demais para conseguirem achar o banheiro. Demi puxou a amiga para fora da casa e foram em direção ao outro lado da rua que estava vazio.

- Sério? – Falou, um pouco mais alto do que pretendia. Claire levantou os braços, mostrando que estava tão abismada quanto ela.
Sentaram-se em silencio no meio fio alto, tentando processar o que havia acabado de acontecer.
A mente de Demi girava, tentando entender por que entre tantas festas que provavelmente estavam acontecendo, Joe e os amigos estavam justamente naquela. Era só uma festa de aniversário de uma garota de quinze anos, o que droga eles estavam fazendo lá?

- Já pensou se ele chegasse um pouco depois e pegasse você e o Kevin no maior amasso? – Claire comentou. Demi a olhou, não gostando nem um pouco do comentário, mas acabou caindo na risada junto com ela. Afinal, aquilo tudo era uma grande piada, certo? Tinha que ser.
Voltaram para dentro da casa, agora empenhadas a realmente achar um banheiro. Acabaram perguntando para a mulher do vestido curto demais para sua idade, uma das únicas que ainda parecia sóbria dentro daquela casa.
Antes que entrassem no banheiro, Kevin pareceu, impedindo que Demi seguisse a amiga. 

- Posso falar com você? – Demi concordou, deixando que ele a levasse para um canto menos barulhento. – Cara, eu não sabia que era você. Eu realmente não sabia. 
Demi sabia, pelo tom de arrependimento na voz dele, que Chris devia ter dado uma bronca nele por ter tentando ficar com ela. Estava cansada de ser tratada como alguma espécie de propriedade de Joe.

- Kevin, sério, não me importa. – Falou, sincera. – Eu sou prima do Joe. Prima! Nem namorada e nem propriedade, apenas prima. Eu tenho direito de sair e me divertir e de conhecer gente nova. Eu tenho direito de ser paquerada e de ficar com outros caras. Honestamente, eu adoraria ter ficado com você e lamento muito se o fato de eu ser prima do Joe atrapalha qualquer tipo de atração que você sentiu por mim. Não me importa o que ele disse pra você sobre mim, eu ainda sou a mesma garota de dez minutos atrás, a mesma garota que você estava prestes a beijar. – Respirou fundo, tentando acalmar o coração acelerado por conta das palavras eu saíam praticamente uma atropelando a outra.

- Eu também adoraria ter ficado com você, mas... – Ele parou de falar, sabendo que ela não ia gostar que ele completasse aquela frase. – Desculpa. – Deu de ombros e se afastou.
Claire saiu do banheiro, encontrando a amiga ainda olhando para o lugar onde Kevin desaparecera. 

- Dá pra acreditar nisso? – Perguntou, incrédula.

- Acho que essa festa definitivamente acabou. – Claire comentou. – Vamos embora. Vou ligar pro meu pai vir nos burcar. – Puxou a amiga pela mão.
As duas voltaram para o lado de fora e sentaram no passeio, desejando que o pai de Claire não demorasse muito. Se pudesse, Demi iria a pé, só para sair logo dali. Observou as unhas pintadas e o vestido arrumado que havia comprado especialmente para a festa. Grande porcaria, pensou.

- A gente pode conversar? – A voz de Joe atrapalhou seus pensamentos. Ela olhou para Claire que deu de ombros e se afastou, dando-os privacidade. – Não sabia que você conhecia a aniversariante.

- Supresa. – Falou, sem disfarçar o sarcasmo.
Joe riu, desgostoso, e sentou ao lado dela.

- Não queria atrapalhar sua noite. – Demi deu de ombros, fingindo que não se importava. Onde estava o pai de Claire? Estava indo de carroça?
Permaneceram em silêncio pelo que pareceu uma eternidade, nenhum dos dois estava confortável naquela conversa.

- Conheci o Kevin por causa do Nick, eles estudaram juntos quando eram pirralhos. – Joe explicou, sem saber o que falar. – Vocês ficaram? – Perguntou de uma vez, cansado de enrolar.

- Ele já deve ter te falado que não. – Respondeu, seca. Ela estava certa, Kevin já havia dito que nada acontecera, mas ele precisava ouvir isso da boca dela.

- Dem, meu pai chegou. – Claire interrompeu a conversa. Demi se levantou em um salto, agradecendo por poder sair daquela conversa.

- Deixa eu te levar em casa. – Joe pediu, segurando seu braço, impedindo-a de se afastar mais.

- Eu vou dormir na casa da Claire.

- Eu te levo lá. Ele desceu a mão pelo braço dela, até entrelaçar os dedos nos dela. Demi respirou fundo, sabendo que ele estava fazendo aquilo de propósito.

- Joe...

- Por favor. – Ele se aproximou, deixando seu rosto próximo ao dela. Próximo demais.

- Se eu for com você, isso – Ela apontou para a pouca distância entre eles. – vai acontecer.E eu honestamente to cansada desse jogo. – Soltou a mão dele, caminhando apressada para o portão do condomínio.

- Então é um jogo pra você? – Joe perguntou, alto suficiente para que ela ouvisse.
Demi não se virou e nem respondeu, não tinha forças para tal. Se a mão de Claire não estivesse segurando seu ombro com força, certamente ela teria desabado ali mesmo.


# End of flashback



Joe caminhou pelo aeroporto movimentado em direção ao estacionamento. As mãos nos bolsos da calça e a cabeça baixa denunciavam tudo que estava sentindo.
As portas automáticas que o protegiam do frio que fazia do lado de fora se abriram, fazendo com que seu corpo estremecesse por causa da baixa temperatura. Ficou algum tempo parado, sentindo a realidade o atingir com mais força que o vento gélido. Uma mulher passou apressada e trombou em seu braço, despertando-o. Suspirou, olhando em volta uma última vez antes de se dirigir até o carro, agradecendo pela chuva ter dado uma trégua.


You left me with goodbye and open armsVocê me deixou com um adeus e de braços abertos
A cut so deep I don't deserveUm corte tão profundo, eu não mereço
Well, you were always invincible in my eyesVocê sempre foi invencível aos meus olhos
The only thing against us now is timeA única coisa contra nós agora é o tempo


Entrou no carro e colocou a chave na ignição, ansioso para ligar o aquecedor. Observou o próprio rosto refletido no retrovisor e se assustou com o par de olhos sem vida que o encarava. Notou discretas olheiras que não existiam até uma semana atrás. Passou as mãos pelo cabelo numa tentativa de arrumar o que o vento havia bagunçado.

Could it be any harder to say goodbye and live without you?Poderia ser mais difícil dizer adeus e ficar sem você?
Could it be any harder to watch you go, to face what's true?Poderia ser mais difícil te ver partir, encarar a verdade?
If I only had one more day...Se eu tivesse só mais um dia...

Ligou o carro, com a intenção de sair da vaga e ir embora, mas o motor fez um barulho e o carro desligou. Tentou novamente, mas a mesma coisa aconteceu. Segurou o volante com força, tentando controlar uma raiva repentina e uma vontade estúpida de simplesmente chutar e sacudir o carro. Respirou fundo tentando se acalmar, segurou a chave na ignição com força e a girou, ouvindo o motor fazer o mesmo barulho e novamente o carro desligar. Sacudiu o volante, contendo um grito na garganta e tentou mais uma vez.
E de novo.
E de novo.
Até perder a força nas mãos que seguravam o volante com tanta força que pensou poder transforma-los em pó. Bateu com força no painel e finalmente soltou o grito que estava entalado em sua garganta. O carro estava todo fechado, impossibilitando as pessoas do lado de fora de o ouvirem. Sacudiu uma ultima vez o volante, antes de deixar que o grito se transformasse em um choro infantil. Sentia as lágrimas jorrarem sem controle por seu rosto e os soluços ficarem mais altos a cada segundo. Encostou a cabeça do volante e fechou as mãos com força, até conseguir sentir as unhas encravarem em sua pele.

I lie down and blind myself with laughterEu me deito e me encubro com riso
A quick fix of hope is what I'm needingUm pouco de esperança é o que eu estou precisando
And how I wish that I could turn back the hoursE como eu gostaria de poder voltar as horas
But I know I just don't have the powerMas sei que não tenho esse dom

Could it be any harder to say goodbye and live without you?Poderia ser mais difícil dizer adeus e ficar sem você?
Could it be any harder to watch you go, to face what's true?Poderia ser mais difícil te ver partir, encarar a verdade?
If I only had one more day...Se eu tivesse só mais um dia...


Sentia uma dor pulsante no peito, como se, a cada batida, seu coração o machucasse. Como se a cada batida ele perdesse um pedaço.
Não se lembrava de chorar assim desde que perdera sua mãe.
A dor da perda.
Achou mesmo que fosse escapar ileso dessa vez?
Fechou os olhos, tentando se concentrar no rosto de Demi. Desde a primeira vez que a viu, quando tinha apenas seis meses, até alguns minutos atrás, quando ela ainda pertencia a ele.
Agora ele não tinha mais o direito de se referir a ela como minha. Havia deixado-a ir numa estúpida tentativa de parecer altruísta. Altruísta de merda que ele era. Agora estava trancado no carro desejando que ela nunca tivesse feito nenhum teste, que ele nunca tivesse sido idiota o bastante para mostrá-la o anuncio sobre o curso de Design.

I'd jump at the chance, we'd drink and we'd danceAgarraria a essa chance, beberíamos e dançaríamos
And I'd listen close to your every wordE escutaria cada palavra sua
As if it's your last, well I know it's your lastComo se fossem as últimas, mas sei que são
Cause today, oh, you're gonePorque hoje você se foi...

Deixou que os minutos passassem e sua respiração se acalmasse sozinha. As lágrimas aos poucos foram cessando, e quando elas finalmente pararam completamente, enxugou o rosto com a manga do moletom e respirou fundo algumas vezes, apenas para se certificar de que não ia começar tudo novamente.

Could it be any harder to live my life without you?Poderia ser mais difícil viver minha vida sem você?
Could it be any harder? I'm all alone I'm all alone...Você se foi, oh) Poderia ser mais difícil?

Girou a chave na ignição, soltando um suspiro de alivio quando o carro permaneceu ligado. Olhou em volta, se certificando de que ninguém presenciara seu surto e saiu da vaga desejando se afastar logo do aeroporto e chegar em casa. Havia deixado algo escondido no armário que poderia ser muito útil no momento. Ao imaginar o ardor do liquido quente descendo por sua garganta, apertou o acelerador, querendo se livrar da dor e das malditas lágrimas que insistiam em embaçar sua vista e que ele estava cansado de segurar.

Like sand on my feet, the smell of sweet perfumeComo a areia em meus pés e o cheiro de um doce perfume
You stick to me foreverVocê ficará em mim para sempre
And I wish you didn't goGostaria que você não tivesse partido
I wish you didn't go, I wish you didn't go awayGostaria que você não tivesse partido, Gostaria que você não tivesse ido
To touch you again with life in your hands,Para te tocar novamente, com vida em suas mãos,
It couldn't be any harder... harder... harderNão poderia ser sido mais difícil... difícil




Demi olhava fixamente para um ponto qualquer, tentando manter a mente vazia exceto pela música alta que tocava nos seus fones de ouvido. Sentia seus olhos arderem por causa de todas as lágrimas que havia derramado e pelas que insistiam em continuar caindo. Passou a mão pela bochecha rapidamente, enxugando o rastro já quase seco deixado pela última lágrima.
Suas pernas inquietas balançavam fora do ritmo da música, mas ela nem havia percebido. Algumas pessoas passavam pelo banco em que estava sentada e a olhavam, curiosos pelo motivo de tanto choro silencioso.
A música alta a impediu de ouvir a voz no alto falante anunciar que o avião já estava estacionado e que já era possível ir para a fila de embarque, mas, ao ver as pessoas formarem uma linha no portão de número 4, se levantou ajeitando a mochila nas costas e pegando o cartão de embarque.

You don’t want me, noVocê não me quer, não
You don’t need meVocê não precisa de mim
Like I want you, ohComo eu quero você, oh
Like I need youComo eu preciso de você

And I want you in my lifeE eu quero você na minha vida
And I need you in my lifeE eu preciso de você na minha vida

Observou o ticket em sua mão, um ticket que ao mesmo tempo lhe garantia um futuro, parecia roubar-lhe o passado.
Destino: Japão.
Ela leu, em uma voz alta o suficiente para que pudesse ouvir a si própria. Perguntou-se se aquele destino era sem volta, ou se algum dia ela poderia voltar para tudo que havia deixado pra trás.
Quando Joe não estava em casa, ela havia criado o hábito de procurar relatos de pessoas que fizeram o mesmo concurso que ela e que tiveram a mesma oportunidade de estudar no Japão. Alguns ainda estavam lá, depois de três, quatro, até cinco anos. Alguns haviam voltado sem grande sucesso. Os mais sortudos agora viajam o mundo, praticando tudo que aprenderam durante o curso. Imaginou em que categoria ela se encaixaria.

You can’t see me, noVocê não pode me ver, não
Like I see youComo eu vejo você
I can’t have you, noEu não posso ter você, não
Like you have meComo você me tem

And I want you in my lifeE eu quero você na minha vida
And I need you in my lifeE eu preciso de você na minha vida


A fila começou a andar e ela observou uma última vez o saguão a sua volta. Algumas pessoas viajavam em casal, grupos de amigos, outras estavam sozinhas como ela. Imaginou se elas também haviam deixado a parte mais importante de suas vidas pra trás.
Algumas vezes sua mente, mesmo sem seu consentimento, insistia em culpá-la por tudo que estava acontecendo. Se não tivesse concordado em fazer aquele teste, as coisas seriam diferentes. Precisava constantemente repetir para si mesma que aquele era seu futuro, uma oportunidade única que a vida havia lhe proporcionado. Ela sabia disso, mas sua mente insistia em dizer o contrário.

You can’t feel me, noVocê não pode me sentir, não
Like I feel youComo eu sinto você
I can’t steal you, noEu não posso te roubar, não
Like you stole meComo você me roubou

Entrou no avião caminhando para o fundo, já sabendo que sua cadeira ficava pela parte de trás. Agradeceu por ter conseguido pegar a janela, odiava ter que ficar no meio de dois desconhecidos, e odiava mais ainda ter que ficar no corredor observando a vida alheia.
Enquanto os passageiros entravam, ela observou o céu escuro, cheio de nuvens. Sentiu quando uma pessoa sentou ao seu lado, mas não se virou para olhar, não estava mesmo interessada.
O ar frio do avião a obrigou a esconder as mãos no bolso do casaco. Pensou em pedir um cobertor para a aeromoça, mas teria que esperar aquela fila de pessoas no corredor diminuir. Sentiu um papel no bolso e o retirou, tentando se lembrar se o havia colocado lá. A caligrafia de Joe a fez sorrir antes mesmo de ler o que havia escrito.
While you were sleeping, I figured out everything:
I was constructed for you, and you were molded for me.
(Enquanto você estava dormindo, eu percebi tudo:
Eu fui construído pra você, e você foi moldada pra mim)
Sorriu ao se lembrar que na noite anterior ele ficara a olhando dormir, achando que ela não conseguia sentir seu olhar sobre si. Guardou novamente o bilhete no bolso e deixou uma última lágrima correr por seu rosto.
Agora ela sabia que não se encaixaria em nenhuma daquelas categorias, pois nenhuma daquelas pessoas possuíam algo que ela havia tido a sorte de conseguir desde que nascera: uma alma gêmea.

And I want you in my lifeE eu quero você na minha vida
And I need you in my lifeE eu preciso de você na minha vida

Continua... :(

Gente desculpa a demora ok ? Comentem ta ?!

15 comentários:

  1. Amei como sempre!!
    Mas ainda não acredito que Jemi vai se separar por um ano!!!
    Espero que de tudo certo pra eles e que o tempo passe rapido!!!
    Não demora pra postar o proximo cap Por Favor!!!
    Beijemi

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  2. Aín eles separados não!!! 1 ano ? Isso não pode! :( Posta posta posta logo por favor!!!! Ansiosa pra saber o que vai acontecer nos próximos capitulos! :((

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  3. 1 ANO? :"( SOS! VOU MORRER!
    OMG! Estou chorando... Por favor, posta logo!!

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  4. Chorei horrores aqui, acabei de me despedir de uma parte de mim, deixando-o a mil quilômetros de mim, e sei que demorarei pelo menos seis meses para revê-lo. Amo seus textos, e amo como de uma forma ou de outra eu me relaciono com eles. Posta logo tá? Quero ver se eu ainda posso ter esperanças. E mesmo que você não entenda, muito obrigada por seus textos.

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  5. OMG' Chorei Litros e Litros ! Posta Logo tah ?!
    Você escreve perfeitamente bem !
    Uma única palavra para sua história: PERFEITA !
    Posta Logo *---------------------------------------------*

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  6. AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH MEU DEUS POSTAAAAAAAAAAAAAAA LOGOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO TO QUASE TENDO UM INFARTE KK

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  7. awn q lindo o bilhete do Joe *-* Demi tem q voltar logo.. conseguir uma tranferencia hehe postaaaaaaaaaaaaa

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